Claudio de Moura Castro
Clipping
Educacional - Veja - edição 2239 - nº 42
Percorreu as periferias de São
Paulo uma inglesa, calejada inspetora de escolas na sua terra. Não é surpresa o
descalabro que encontrou nas escolas visitadas. Contudo, eram ótimas algumas
poucas, da mesma rede e operando com as mesmas regras. Não só tinham
bibliotecas e computadores, mas mostravam bom desempenho. Por que seria? Para
quem é do ramo, é um segredo de polichinelo: elas tinham um diretor carismático
e inspirado. Ou seja, o futuro de centenas de alunos estava nas mãos de uma só
pessoa.
Não é assim só na Terra
Brasilis, pois ouvi de um vice-ministro dinamarquês que um bom diretor, em dois
anos, conserta uma escola atrapalhada. O diferente aqui é que o bom diretor tem
de ser um portento. Os desafios são formidáveis. Nesse cargo, ele não contrata,
não demite, não premia, não pune e não administra recursos substanciais. Em
suma, ele quase não manda. Não há bons sistemas de gestão nem preparação correta
para o cargo. Pior, o diretor escolar comanda um exército de “imexíveis”
(aliás, só em Cuba é viável se ver livre de maus professores). Na mais reles
empresa, o gerente tem armas de gestão bem mais poderosas.
Diante de uma dieta tão magra
de poder, como fazem os excelentes diretores para se destacar do resto? É o
carisma, é a capacidade de sedução. Se não dá para mandar, é preciso conquistar
pelo charme, pelo magnetismo pessoal. Ora, são escassos os que possuem tais
atributos de personalidade mais os conhecimentos administrativos para gerir uma
escola. Os poucos diretores com tal perfil conseguem excelentes resultados.
Ainda assim, com quem não quer nada, a sedução é impotente.
E não é só isso. Como era o
estudo de F. Abrucio, grande parte do tempo do diretor vai para cuidar de
merenda, disciplina, consertos e conflitos, ou seja, tarefas menores, diante do
desafio de melhorar o nível de aprendizado dos alunos. Apesar de ele trabalhar
nos fins de semana, quase nada de tempo e energia sobra para dedicar à educação.
Não fossem esses óbices o
bastante, o processo de seleção em nada favorece a busca daqueles que têm esse
perfil quase impossível. Para a terça parte dos diretores brasileiros, ainda
escolhidos no troca-troca da política local, falta apenas redigir o epitáfio da
educação, nas escolas em que isso ocorre. Concursos são uma opção honesta, mas
pouco inspirada, pois é difícil capturar capacidade de liderança e sedução em
provas escritas. A eleição jamais foi adotada em países de educação séria.
Entre nós, pode até ser melhor que a escolha política, mas os candidatos fazem
acordos e assumem compromissos, perdendo autonomia e isenção durante seu
mandato. Quando a política partidária pisa na escola, a seriedade da
instituição sai escorraçada. Fórmulas mistas, combinando provas e eleição,
têm-se mostrado uma promessa. É preciso tentar novos modelos que, de resto,
existem em outros países. Gerentes de loja escolhidos pelos métodos da escola
em poucas semanas levariam o negócio à falência, com parcas exceções.
Aliás, como vamos saber por
antecipação quem poderia virar um bom diretor? Simplesmente não sabemos. Mas,
logo ao entrarmos na escola de um dos bons diretores, percebemos que a
atmosfera é diferente. É a plantinha na janela, é o quadro pendurado, é o banheiro
limpo, é o tapetinho na entrada da secretaria, é a ausência de grafite e de
vidraças partidas, são os horários respeitados. E, naturalmente, é o bom astral
de professores e alunos. Um secretário que tivesse uma lâmpada mágica, dessas
que só permitem um desejo, tomaria uma decisão sábia se usasse sua cota de
milagres para achar um excelente diretor. Nada traria tanto benefício para os
alunos.
É preciso fornecer ao diretor
os instrumentos administrativos, a formação adequada para o cargo e uma maior
área de manobra. Bem sabemos, a real autonomia das escolas é um dos fatores
mais proximamente associados a bons resultados acadêmicos. Não se trata de
deixar o diretor fazer o que lhe der na telha, mas especificar de modo
centralizado aonde se quer chegar. Deveria ser uma prioridade nacional
desmontar um sistema que, para dar certo, requer virtuosos da sedução e gênios
da administração de sistemas desorganizados.
Fonte: http://www.udemo.org.br
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