quarta-feira, 29 de abril de 2009

Falta de intérprete para surdos deixa escola como a segunda pior, diz diretora

Glauco Araújo
Clipping Educacional - Do G1, em São Paulo
Escola para surdos, no Paraná, aparece como a segunda pior no ranking do Enem, mas direção afirma que avaliação deve ser diferenciada (Foto: Divulgação/Escola de Surdos Alcindo Fanaya Jr.)
A Escola Indígena Tekator, localizada na aldeia Mariazinha, área indígena Apinajé, em Tocantinópolis (TO), foi considerada a pior instituição pública de ensino do país com média de 25,11 no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2008. A unidade é seguida pela Colégio Estadual Para Surdos Alcindo Fanaya Júnior, de Curitiba, que alcançou 26 pontos na mesma avaliação.
Isolada e de difícil acesso, a escola indígena não tem telefone e fica a 20 quilômetros do centro da cidade de Tocantinópolis (a 500 quilômetros da capital, Palmas). Procurada, a Secretaria Estadual de Educação não se manifestou.
A diretora da instituição paranaense, Nerci Martins, disse que a falta de intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) durante a avaliação do Enem prejudicou o desempenho dos alunos da escola. "Todos os nossos 14 alunos que foram fazer a prova não conseguiram chegar até o fim. O motivo foi a falta de um profissional que ajudasse na compreensão das questões."
Segundo ela, os alunos da unidade receberam apenas apoio de intérprete sobre as instruções da prova. "Pedimos ao Ministério da Educação que enviasse esse profissionais para toda a avaliação. É preciso entender que trata-se de alunos especiais, com necessidades especiais e a prova do Enem deveria ter sido feita de forma oral, ou seja, por meio da Libras e não de forma escrita."
Nerci afirmou que a média conquistada pela escola no Enem não preocupa a direção e a coordenação pedagógica. "Sabemos da importância que temos na inclusão social dos nossos alunos. Muitos foram abandonados pelo sistema regular de ensino, que não tem estrutura e profissionais qualificados para educar crianças e jovens com deficiência auditiva e visual."
A diretora disse que tem 250 alunos na faixa etária de 2 a 22 anos, todos com deficiência auditiva ou visual. "Temos alunos de 16 a 22 anos no ensino médio. Isso mostra a demora com que esses estudantes entraram na escola. Os pais estão começando a ter a consciência dos direitos que têm de dar educação aos filhos."
A professora afirmou que avaliação do Enem não leva em consideração a dificuldade de compreensão de texto que o deficiente auditivo tem. "O aprendizado é diferente e a forma de se comunicar também. Os nossos alunos têm o hábito da leitura, mas a compreensão do texto é diferente porque eles não escreven da mesma forma que os outros. Isso precisa ser considerado. Não vai ser um número frio que vai mexer na humanização que damos ao ensino", finalizou Nerci.
Procurado, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação que aplica o Enem, disse não saber do problema enfrentado pela escola com os intérpretes. Segundo a assessoria de imprensa, quando há uma reclamação, o caso é apurado.

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