quinta-feira, 19 de março de 2009

SP: "Pai" do Idesp critica forma de divulgar dado

Laura Capriglione
Clipping Educacional - Folha de São Paulo (19.03.2009)
Não é possível saber o quanto se aprendeu, pois o resultado dos alunos em português e matemática não foi divulgado, diz Francisco Soares
O pesquisador Francisco Soares, 58, coordenador do Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais da Universidade Federal de Minas Gerais, foi um dos principais especialistas-contribuintes da Secretaria da Educação na definição do Idesp. Foi nessa condição, de "pai" do índice, que ele criticou a forma escolhida pela secretaria para a divulgação das performances escolares.
Segundo ele, "o mais importante nesse indicador foi colocar o aprendizado do aluno como forma prioritária de análise da escola. Queríamos convencer a sociedade de que a atividade-fim da escola é o aluno aprender. A escola não é um clube. É para aprender".
E, entretanto, não é possível saber o quanto se aprendeu, porque o resultado obtido pelos alunos nas provas de português e matemática não foi divulgado - a secretaria promete fazê-lo em abril. O que veio à luz foi só o quociente de uma conta de dividir, em que as notas nessas provas foram divididas por um indicador de "fluxo escolar", que mede evasão e repetência.
Segundo o pesquisador, a inclusão no cálculo do Idesp de indicadores de evasão e repetência até tem uma justificativa. "No Brasil temos a tradição de ir deixando as pessoas para trás, esquecendo-as pelo caminho. Quisemos valorizar as escolas que mais evitam a evasão e a repetência. Seriam mais bem avaliadas as que menos alunos deixam para trás", diz.
Soares admite que a forma escolhida para calcular o Idesp pode levar a "melhorias ilusórias". Uma escola que não tenha melhorado nem um centésimo no conhecimento adquirido pelos alunos pode apresentar resultados melhores no Idesp, bastando que ela aprove mais alunos. Com isso, o denominador da fração diminui, e o quociente geral aumenta.
Para entender a lógica: basta imaginar as escolas A e B, ambas com notas de aquisição de aprendizado igual a 3. Se a escola A perdeu menos alunos no ano do que a outra (B), ela terá nota no Idesp melhor do que B.
O professor lembra que uma das premissas dos desenvolvedores do Idesp era que a avaliação dos alunos fosse feita por entidade "externa". Isso evitaria que uma escola menos exigente desse notas injustamente mais altas do que outra, mais exigente. A avaliação externa tornaria possível comparar performances.
"Mas esse intuito de se estabelecerem padrões universais de avaliação acabou esbarrando no indicador de fluxo." Todo o denominador da fração de cálculo do Idesp depende única e exclusivamente de critérios da própria escola. Assim, uma escola menos rigorosa na contagem das faltas dos alunos ou que permita que estudantes menos preparados passem de ano terá indicadores de fluxo melhores do que outra, mais rigorosa nesses controles.
"A única forma de evitar esses "enganos" seria divulgando todas as notas que compõem o Idesp. Só então saberíamos o quanto as crianças estão, de fato, aprendendo", diz.

Frase

"No Brasil temos a tradição de ir deixando as pessoas para trás, esquecendo-as pelo caminho. Quisemos valorizar as escolas que mais evitam a evasão e a repetência. Seriam mais bem avaliadas, as que menos alunos deixam para trás"
Francisco Soares
Pesquisador que ajudou a elaborar o Idesp

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