quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Lições de exclusão

Rosely Sayão
Clipping Educacional - FOLHA DE S.PAULO

A mãe de uma garota de 11 anos me contou que a filha está com problemas na escola por estar um pouco gorda. "Gordinha", diz a mãe.

Ela já tomou todas as providências para ajudar a filha a não permanecer com esse sobrepeso: deixou de comprar gostosuras que não alimentam e só engordam e passou a comprar algumas dessas coisas das quais a garota tanto gosta apenas no final de semana. A menina reclama, mas aceita, diz a mãe.
Além disso, consultou uma nutricionista que ajudou a família a montar um cardápio bem variado, com alimentos que todos gostam. Também levou a garota a um médico hebiatra, que desenvolve com a menina um programa de atividades físicas.
Essa é a parte que a filha de nossa leitora menos gosta. Ela não apenas reclama: arruma todo tipo de argumento para, por exemplo, não comparecer ao consultório do médico no horário agendado. A garota diz que fazer exercícios a deixa nervosa. Mas a mãe é insistente e, se não consegue que a filha cumpra todo o programa, pelo menos alcança o que considera o mínimo necessário.
Mas o problema todo, pelo menos para a menina, é ir para a escola. É que lá ela é evitada por colegas, chamada de "baleia gorda" e nunca é escolhida para fazer parte dos grupos em sala de aula.
Quem foi que inventou essa história de que crianças e adolescentes podem fazer escolhas de colegas para trabalhos em sala de aula? Claro que essa prática só pode resultar em algum tipo de exclusão, não é verdade?
A filha de nossa leitora enfrenta, então, duas situações bem difíceis para essa idade: a de precisar emagrecer e a de se sentir humilhada e rejeitada pelos colegas.
A mãe, que por sinal tem muito bom senso, já falou com a coordenadora da escola por duas vezes, mas o problema continua. Da segunda vez, essa educadora deu uma explicação para o fato de o problema continuar: disse que em sala de aula já não acontece mais, mas na hora do recreio não há como evitar. Como?!?
O fato é que temos tido muita dificuldade em ensinar as regras de boa convivência para crianças e adolescentes. Muitas escolas acham que isso se aprende com os pais --"Educação se aprende em casa" é um bordão muito utilizado por diversos profissionais da educação. Os pais, por sua vez, até tentam ensinar os filhos a terem bons modos.
Muitos desses pais, na maior das boas intenções, cometem alguns equívocos. Obrigam os filhos a emprestar seus pertences aos irmãos ou colegas, quando solicitados, e exigem que os filhos sempre digam as palavras mágicas "por favor", "obrigado" e "com licença". Os pais também obrigam os filhos a cumprimentarem com beijos os parentes adultos.
Por que são equívocos? Porque pedir desculpas, por exemplo, não é algo que se resolva com uma palavra dita, não é verdade? Falar essa palavra pode ser fácil para qualquer criança. Mas entender que uma atitude pode provocar sofrimento na outra pessoa é uma coisa bem diferente.
E talvez aí resida nossa dificuldade para ensinar a convivência educada e civilizada para os mais novos. É que o outro vem depois de nós em uma sociedade individualista. Além disso, o outro é percebido mais como ameaça, de qualquer tipo, do que como uma boa companhia. Por que será que evitamos contato com desconhecidos sempre que possível?
Educação para a boa convivência se aprende em casa. E na escola. Professores não conseguem ensinar, pela experiência, uma criança a ser respeitosa no contexto familiar. E pais não conseguem ensinar, também pela experiência, o filho a ser respeitoso com colegas, mesmo e inclusive com aqueles com quem não simpatizam.
Por fim: há situações que, mesmo sofridas, ensinam a viver. Depois de tomar as providências que a situação exige, como no exemplo acima, os pais podem ensinar o filho a enfrentar com coragem os dissabores que a vida lhe apresenta.

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