quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Sucesso em um passe de mágica


Rosely Sayão
Clipping Educacional -  Folha de São Paulo
Estamos passando para os jovens a mensagem errada de que o esforço é desnecessário

UMA CONHECIDA tem um filho de 16 anos que não quer saber de estudar e está indo muito mal na escola. Ela me pediu que falasse com ele para tentar entender a situação.
Segundo a mãe, ele é inteligente e sempre conseguiu dar conta dos estudos, mas, de repente, passou a implicar com a escola e com os trabalhos que lá ele precisa realizar. E, como ele não trabalha e "nem faz mais nada na vida a não ser ir para a escola", ela não consegue compreender o que se passa.
Logo de início ela preocupou-se, é claro. Já havia lidovárias reportagens informando que mudança de comportamento e queda no rendimento escolar podem ser indicativos de uso de drogas por parte do adolescente. Por causa disso, chegou a levantar essa hipótese.
Acompanhou de perto a vida social do garoto, conversou com ele. Juntos, assistiram a filmes sobre o assunto. Com tudo isso, a mãe não conseguiu qualquer pista para considerar que o jovem estivesse usando algum tipo de droga, lícita ou ilícita.
Então, ela chegou a uma conclusão simples: a de que o filho estava na "vagabundagem" mesmo.
Foi por isso que ela me fez o pedido, com um detalhe: não queria que o filho soubesse que eu iria procurá-lo por solicitação dela. Avisei a ela que ele saberia isso de pronto, mas ela insistiu para que, pelo menos, eu não fosse a primeira a tocar no assunto.
Em nosso encontro, a primeira coisa que o jovem me perguntou foi exatamente se a mãe havia pedido para que eu conversasse com ele.
Depois, falou longamente a respeito da sua falta de vontade para se dedicar aos estudos e da sua dificuldade em prestar atenção nas aulas.
Aproveito essa breve história para comentar dois pontos: um diz respeito aos pais, outro se refere aos jovens.
Primeiramente, eu quero lembrar a quem tem filhos -tenham eles a idade que for- que os mais novos não são bobos. Essa mãe, por exemplo, considerou a possibilidade de o filho nem sequer desconfiar do pedido que ela havia me feito. Ora, claro que ele saberia: crianças e jovens conhecem muito bem seus pais. Arrisco até dizer que eles os conhecem melhor do que os pais os conhecem.
Por isso, a melhor atitude a se ter com os filhos é a da transparência para, desse modo, manter a relação de confiança com eles. Não dá para enganá-los, certo? O mais provável, aliás, é que eles consigam enganar os pais em algumas situações.
Quanto aos jovens, é espantoso como eles se veem escravos de seus impulsos, impotentes para mudar de atitude. O jovem com quem eu conversei, por exemplo, espera ter vontade de estudar a qualquer momento. Acredita que algo externo a ele poderá interferir no estado de letargia em que se encontra em relação aos estudos.
Ele, como muitos de seus pares, não consegue perceber que é ele mesmo quem precisa tomar uma atitude e que, para tanto, vai precisar se esforçar. E muito.
Quando eu disse isso a ele, a reação que demonstrou foi de espanto. Tive a impressão de que esse menino nunca considerou essa possibilidade. Foi difícil fazer ele perceber que só dependia dele a mudança, porque ele insistia em repetir que os professores e a escola é que tinham a obrigação de motivá-lo.
É bem possível que seja essa a mensagem que estejamos passando a jovens de uma geração que alcança quase tudo com um simples toque de dedos: a de que o esforço é desnecessário.
Pois cada vez é preciso mais esforço para resistir a tantas tentações, facilidades e distrações, para tentar realizar um projeto de vida, dar conta das responsabilidades e não desistir de construir uma utopia, não é verdade?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora do livro "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

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