Clipping Educacional - Agência
Brasil
Proporção caiu; era de 50% há
dez anos
Um terço dos alunos
matriculados no ensino médio frequenta a escola no período noturno, o que
representa um total de 2,9 milhões de estudantes. Os dados consolidados do
Censo Escolar de 2010 apontam um contingente significativo, mas ainda assim
indicam uma redução. No início dos anos 2000, cerca de metade das matrículas do
ensino médio era no período noturno, em que a qualidade do ensino pode ser
afetada por problemas como a dupla jornada do estudante ou a carga horária de
aulas reduzida.
Para a pesquisadora Raquel
Souza, assessora da organização não governamental (ONG) Ação Educativa, esse
número poderia ser maior, já que parte dos jovens que deveriam cursar o ensino
médio está fora da escola. Segundo o senso comum, os estudantes se matriculam
no período da noite porque precisam trabalhar durante o dia. Mas, de acordo com
Raquel Souza, não há estudos que indiquem essas razões. Ela ressalta que em
alguns casos é por falta de escolha, já que em escolas de regiões específicas
só há oferta de vagas para o período noturno.
Uma das desvantagens para quem
estuda à noite é que em alguns casos a carga horária é inferior à oferecida
para as turmas diurnas. Dessa forma, alunos do noturno ficam privados de
atividades oferecidas no contraturno, como aulas de educação física. “Em geral,
as aulas são mais curtas e o prejuízo é que o estudante fica menos tempo na
escola. Além disso, aquele que também é trabalhador vai chegar mais cansado e
ter outra experiência com a escola”, destaca a pesquisadora.
Em maio, o Conselho Nacional
de Educação (CNE) aprovou as novas diretrizes curriculares do ensino médio, que
indicam a necessidade de flexibilização do currículo. Uma das recomendações do
parecer, que ainda não foi homologado pelo Ministério da Educação (MEC), é que
a duração, hoje de três anos, seja ampliada. O conselho sugere ainda a opção de
oferta de 20% da carga horária na modalidade ensino a distância.
Raquel destaca que a atitude
do CNE é importante. “Essa proposta pode ser um pontapé para pensar em
processos diferentes para qualificar o ensino médio noturno, que sejam mais
adequados às necessidades dessa população. O noturno não pode ser um arremedo
do que é o ensino médio diurno, mas precisa ter um espírito diferenciado com um
currículo próprio”, defende.
A secretária de Educação
Básica do Ministério da Educação (MEC), Maria do Pilar Lacerda, alerta que as
escolas que oferecem o ensino médio noturno precisam pensar em um projeto
pedagógico que atenda às necessidades de quem precisa frequentar as aulas nesse
período. “A orientação mais estruturante é que a escola conheça quem é o seu
aluno por meio de uma pesquisa. Se a maioria for de trabalhadores, tem que ter
uma flexibilidade de horário, por exemplo. O projeto pedagógico precisa ser
estruturado depois de a escola saber porque eles estudam à noite, a partir do
percurso educativo dos alunos [se são repetentes ou se já abandonaram a escola]
e do que eles esperam da escola”, acredita.
Para Raquel, apesar de todas
as dificuldades, o ensino médio noturno deve ser mantido para atender às
necessidades de quem não pode estudar durante a manhã ou a tarde. “A gente não
advoga pelo fim do ensino médio noturno considerando a realidade dos jovens
brasileiros. A gente vive em um país em que não dá para dizer que os jovens não
precisam trabalhar. A gente ainda não conseguiu universalizar o ensino médio,
ele tem que ser ofertado em todos os turnos”, ressalta.
O estudante Gilmar Ribeiro, 33
anos, cursa o 2º ano do ensino médio no Centro de Estudos Supletivos (Cesas),
em Brasília. Para ele, frequentar as aulas à noite é a saída para conciliar os
estudos com o trabalho de cozinheiro durante o dia. Segundo Ribeiro, uma das
dificuldades da dupla jornada é a falta de tempo para se dedicar aos livros.
“Estudar à noite é bem difícil porque quase
não tenho tempo de estudar, muitas vezes tenho dificuldades no estudo porque
fico sem tempo para isso. No trabalho, não dá [para estudar], o patrão cobra,
exige bastante, então chego cansado [às aulas], porque, além de tudo, vou de
ônibus e por isso só presto atenção a algumas aulas.”
Mesmo com as todas as
dificuldades, ele pretende concluir o ensino médio e prestar vestibular para
administração. “Vou fazer o próximo Enem [Exame Nacional do Ensino Médio],
então aqui também está servindo como preparatório para isso.”
Também matriculada no Cesas,
Daiana Oliveira, 21 anos, chegou a parar de estudar quando ficou grávida do
segundo filho. Agora, na terceira gestação, ela diz que conta com o apoio da
família para frequentar as aulas do 2º ano no período noturno. “Estudo à noite
porque foi a melhor opção que encontrei para os meus horários. Durante o dia,
fico em casa com meus filhos, um de 2 anos e outro de 4 anos. Para estudar,
deixo meus filhos com as minhas cunhadas.”
Para ela, estudar à noite não
é cansativo. “Presto atenção às aulas e não considero cansativo, os horários
são bem flexíveis”, conta. “Os professores ajudam bastante os alunos, porque
muitos deles trabalham”, completa.
Fonte: http://www.estadao.com.br
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