PATRÍCIA
GOMES
Clipping
Educacional - Folha, 03/10
Atual geração
de professores enfrenta o desafio de aprender a mexer na internet e ensinar com
poucos recursos disponíveis
Quando Maria
de Lourdes d'Andrade, 49, começou a dar aulas, em 1989, ela só contava com os
livros, o quadro negro e a voz. As provas, reproduzidas por mimeógrafo,
cheiravam a álcool e os celulares ainda eram muito raros.
Hoje, a
professora de ciências da rede municipal do Rio lida com outra realidade. O giz
virou pincel atômico, as aulas ganharam auxílio de TV, vídeo e computador; a
internet, tão conhecida dos alunos, aos poucos começa a fazer parte de sua
rotina.
Maria de
Lourdes é de uma geração chamada de "imigrante digital": teve contato
com os computadores já na fase adulta e, agora, procura se adaptar a esse
mundo.
"Assim
que eu comprei o computador, eu tinha medo de mexer", afirmou a professora
que, alguns cursos de informática depois, diz estar à vontade com a máquina,
mas sem a agilidade dos alunos.
Maria de
Lourdes não está sozinha. Como ela, 64% dos professores de português e
matemática de 497 escolas públicas brasileiras acham que sabem mexer menos no
computador que seus alunos.
A constatação
é da pesquisa Cetic.br (Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e
da Comunicação) sobre a apropriação das tecnologias nas aulas feita com 1.541
professores, 4.987 alunos, 497 diretores e 428 coordenadores pedagógicos.
Para Adriana
Martinelli, coordenadora de Educação e Tecnologia do Instituto Ayrton Senna, é
um momento paradigmático na educação. Pela primeira vez, o papel do professor,
como o único detentor do conhecimento, está sendo questionado.
"Alunos
e professores transitam entre os papéis de ensinar e aprender, principalmente
quando trabalhamos com as novas tecnologias".
NOVO ENSINO
Para
Martinelli, as tecnologias de informação trazem a necessidade uma nova forma de
ensino. "É preciso que a inovação pedagógica acompanhe a
tecnológica", disse.
Dados da
pesquisa trazem um diagnóstico preocupante nesse quesito: as atividades em que
os professores mais usam tecnologia são as que têm o centro no docente, sem
interação, como exercícios de fixação e aula expositiva.
"A
educação tem que ser cada vez mais trabalhada no sentido de partilhar",
diz Marc Prensky, educador americano autor dos termos "imigrantes" e
"nativos digitais".
Na busca por
usar a tecnologia a seu favor, a professora Elayne Stelmastchuk, de Nova Fátima
(360 km de Curitiba), propôs aos seus alunos da escola estadual Dr. Aloysio de
Barros Tostes a criação de blogs temáticos. O sucesso foi tanto que outros
alunos também resolveram criar blogs voltados para o estudo.
"Eles
estão aprendendo que internet não é só Facebook e MSN. Estão usando a rede
também para estudar."
LIMITAÇÕES TÉCNICAS
Se a questão
geracional pode ser um desafio na adoção das tecnologias na prática pedagógica
cotidiana, a pesquisa aponta outro vilão para apenas 18% dos professores usarem
a internet na sala: a falta de equipamentos adequados na rede pública.
Nas escolas
participantes, havia, em média, 23 computadores à disposição dos alunos, dos
quais 18 em funcionamento. Pelo censo escolar 2010, há 800 estudantes por
escola. Cruzando-se os dois dados, dá a média de 44 alunos por computador.
Entre os
professores pesquisados, 86% disseram que o pequeno número de máquinas
atrapalha o uso da tecnologia no cotidiano. Apenas 4% das escolas têm
computador em sala de aula -86% estão em laboratórios.
Fonte: http://apeoespsub.org.br
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