ROSELY SAYÃO
Clipping
Educacional - UDEMO
Temos a
obrigação de decidir o que comer, qual trajeto fazer, que roupa usar... São
decisões cansativas
Um jovem
quer, a esta altura do ano, abandonar o curso universitário que ele frequenta.
A família, apesar de não gostar muito da ideia, apoia o filho. Os pais acham
importante que ele tenha liberdade para escolher um caminho melhor em sua vida.
Por sinal, o
argumento que o jovem usou para convencer os pais a aceitar sua decisão foi
justamente o de que ele se equivocou na escolha que fez. Se soubesse -me disse
ele- teria feito outra escolha, a certa, quando prestou o exame vestibular pela
primeira vez. Quando perguntei o que ele mirava ao optar pelo curso, ele
respondeu que considerou as chances de ter um futuro confortável do ponto de
vista econômico. Não será uma meta muito restrita?
Uma jovem
mãe, que tem dois filhos, não suportou ver as crianças chorarem todo santo dia
quando ela saía de casa para ir trabalhar. Tomou a decisão de se afastar
temporariamente do emprego e da carreira para dedicar-se às crianças em período
integral. Agora, quase um ano depois dessa sua escolha, ela afirma não saber se
agiu bem, porque os seus filhos vivem lhe perguntando quando é que ela irá
voltar ao trabalho.
"Eu me
transformei em uma megera em tempo integral", disse ela. E pensar que ela
tomou tal decisão justamente para apaziguar o sofrimento dos filhos.
Um pai, que
por circunstâncias tristes precisou assumir sozinho a condução da sua vida com
a filha, tem muitas dúvidas a respeito de como dirigir, de agora em diante, as
decisões que vai precisar tomar. Ele pode, por exemplo, continuar a viver na
cidade em que sempre morou com a mulher e a filha.
Ou pode
mudar-se, para que a garota fique mais próxima dos seus avós. Ele tem também a
opção de escolher uma escola em que a filha permaneça em tempo integral, em vez
de contratar uma auxiliar para ficar em casa com ela -e assim por diante.
Como será o
futuro da filha se ele decidir por esse ou por aquele caminho? Em todas as
situações mencionadas, as escolhas são o nó da questão. E como temos de fazer
escolhas nos tempos em que vivemos! Cotidianamente, temos a obrigação de
decidir o que comer, qual trajeto fazer, que roupa usar, a qual filme assistir,
qual ligação retornar etc. Essas escolhas são tão cansativas que nos esgotam.
Quando as
escolhas que devem ser feitas são tão importantes que podem definir pelo menos
por um período o rumo de uma ou mais vidas, aí então é que a coisa pega. Nós
gostaríamos de ter alguma garantia ao fazer a escolha, não é? O problema é que
não existe essa possibilidade.
Quando
fazemos escolhas, temos de abdicar de algumas alternativas -e essas sempre
continuam a existir, mesmo que virtualmente. E se o jovem tivesse escolhido
outro curso? E se a mãe tivesse continuado a trabalhar? E se o pai decidisse
ficar morando no mesmo local?
Certamente as
vidas deles seriam diferentes, mas, se a vida seria melhor ou pior, nunca
ninguém saberá. Por isso, ao ter de fazer escolhas, talvez o melhor passo seja
escolher, primeiramente, os valores, as convicções e os princípios que prezamos
para tentar priorizar as alternativas possíveis.
E, depois de
feita a escolha, o jeito é comprometer-se com ela, honrá-la. O esforço que tal
compromisso exige é, sem dúvida, o pedaço mais árduo da jornada.
Sim, porque,
no processo da escolha, o difícil é justamente renunciar às alternativas que
não foram contempladas. Sem renúncia não há escolha e, sem escolha, não há
liberdade.
Escolher
quais caminhos tomaremos em relação à educação e à vida de nossos filhos pode
ser, portanto, uma lição de liberdade que damos a eles, e não uma limitação em
suas vidas, como muitos têm considerado.
ROSELY SAYÃO é
psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)
Matéria
publicada na Folha de São Paulo, 11 de outubro de 2011
Fonte: http://www.udemo.org.br
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