ROSELY SAYÃO
Clipping
Educacional - UDEMO
A escola não
assume a responsabilidade de ajudar o aluno a acertar o passo com sua nova
classe
DE QUEM são
os problemas que os alunos enfrentam na escola? Deveriam ser deles, e só deles,
e deveriam ser resolvidos lá, na própria escola.
Entretanto,
hoje, os problemas são muito mais da responsabilidade dos pais do que dos
próprios estudantes. Vamos analisar essa questão a partir de um exemplo?
A mãe de um
garoto de 11 anos me escreveu contando sua saga. Ao fim do semestre letivo
passado, descontente com os encaminhamentos dados pela instituição que o filho
frequentava, ela decidiu transferi-lo. Você sabe o que isso significa, não
sabe?
Essa mãe
precisou conhecer várias escolas até conseguir escolher uma. A escola pediu um
encontro com a criança, fez algum tipo de avaliação e disse que poderia, sim,
aceitar a transferência. Foi o que a mãe fez.
Agora que o
aluno já completa quase um bimestre na nova escola e apresenta alguns
resultados nas avaliações o alerta vermelho foi acionado. Para a mãe.
O filho está
com notas bem baixas em língua portuguesa, o que nunca acontecera
anteriormente. Você já sabe como proceder em situações como essa, não sabe?
Mãe ou pai
vão à escola conversar com alguém responsável. Pode ser o professor, o
coordenador, o orientador. No caso de nossa leitora, foi a orientadora da
classe quem a recebeu.
A mãe saiu de
lá com uma orientação: providenciar aulas particulares para o filho. Com a
transferência, aconteceu um imprevisto: o aluno já aprendera na outra escola
conteúdos que ainda não foram dados na nova, mas ficou sem estudar outros. Por
isso tem apresentado baixos resultados nas avaliações.
Em nenhum
momento a escola assumiu a responsabilidade de ajudar o aluno a acertar o passo
com a sua nova classe, tampouco passou o problema para que a própria criança o
resolvesse. A questão foi parar mesmo é no colo da mãe.
E lá foi ela pesquisar
aulas particulares. Se você já usa tal recurso, sabe o que significa: podem
custar até R$ 80 cada uma. Tem mais: em geral, as professoras não aceitam uma
aula por semana. No mínimo duas, para garantir a recuperação necessária.
E assim tem
sido escrita a história da relação das crianças com suas vidas escolares.
Há um
batalhão de adultos assumindo essa luta que deveria ser dos alunos, orientados
e acompanhados por seus professores, na escola.
Isso tem
acontecido principalmente -mas não apenas- porque elegemos a performance
escolar das crianças como indicador das chances de seu futuro ser melhor ou
pior. De acordo com esse pensamento, um bom aluno tem boas chances no futuro,
um mau aluno, não. Se isso é verdade, não sabemos. Mas agimos como se fosse.
E nem nos
damos conta de que, se isso valer -o que duvido- estamos atrapalhando nossas
crianças. Sim porque, de quem tem sido a boa performance nesse contexto?
Dos pais, dos
professores particulares, dos orientadores etc. Menos dos alunos.
A eles, só
resta acatar as decisões que tomamos, passivamente. Numa boa hipótese, ele se
rebelam contra elas, recusando o estudo e todas as suas implicações.
Como me disse
outro dia um garoto de idade próxima ao filho de nossa leitora: "Quando eu
vou mal na escola, minha mãe fica nervosa. Eu é que deveria ficar, não é? Mas
ela não entende isso".
É, pelo jeito
não temos entendido mesmo.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar
Meu Filho?" (Publifolha)
Matéria
publicada na Folha de São Paulo, 04 de outubro de 2011.
Fonte: http://www.udemo.org.br
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