terça-feira, 25 de outubro de 2011

Educadores adoecem por problemas no trabalho


Regina Santos 
Clipping Educacional - Jornal Cruzeiro do Sul, 19/10
Dificuldades de aprendizagem dos alunos, superlotação das salas de aula, jornada de trabalho excessiva e violência na escola. Esses quatro fatores foram apontados, por professores da rede estadual de ensino, como as principais situações que causam sofrimento no trabalho docente. A pesquisa, realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) com 1.615 educadores durante um congresso do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), em setembro de 2010, traz como resultados uma realidade cada vez mais presente no dia-a-dia das escolas, sejam elas públicas ou privadas: profissionais doentes, afastados do trabalho por causas emocionais, estresse, desavenças com alunos e, em casos mais graves, até por serem vítimas ou precursores de agressão física. É fato que o ambiente escolar reflete os problemas vividos por toda a sociedade, mas na opinião do psicanalista Wilson Klain, os educadores vivem circunstâncias específicas que contribuem para piorar ainda mais essa situação.
Com experiência no atendimento de trabalhadores de vários setores, por meio do projeto Psicologia no Cotidiano, Klain - que além de atender em consultório também atua como professor na Universidade Paulista (Unip) - diz que é perceptível o aumento do número de docentes afastados do trabalho, nas últimas décadas, vítimas das doenças que comprometem sua saúde mental e dos sintomas físicos que delas surgem, ao longo do tempo. "São muitos os casos de dores de cabeça, labirintite e outras queixas ligadas ao estresse", conta. A pesquisa do sindicato da categoria confirma a observação do especialista. Dos 34,4% dos entrevistados que disseram já ter ficado afastados do trabalho por motivo de doença, 48,5% tiveram como diagnóstico confirmado o estresse.
"Ocorreram muitas mudanças de concepção da educação, nos últimos anos, e os professores não foram preparados para enfrentá-las", acredita Klain, para quem entre os fatores que fazem com que os educadores estejam entre as categorias profissionais que mais sofrem com a falta de saúde mental estão as alterações nos sistemas de avaliação, a falta de preocupação - por parte das instituições de ensino - com relação às condições emocionais do educador e a própria contemporaneidade - essa, que afeta a todos os trabalhadores, independente da área em que atuam.
"Antigamente o docente tinha na mão um ferramenta chamada autoridade, que se concretizava, essencialmente, pela prova, pela nota, que controlava o aluno indisciplinado. Isso foi tirado da mão do professor, que hoje tem que avaliar sob aspectos altamente subjetivos e sente que perdeu o controle", ponderou Klain. E o resultado são as discussões, a intolerância, a impaciência, a falta de respeito e o estresse. "Quando temos um problema e não sabemos como lidar, nosso corpo coloca para fora. É como quando comemos algo estragado: vomitamos tudo depois. E o professor que não está preparado para as mudanças, que não tem recursos, "vomita" que o problema é da sociedade, dos alunos, da escola, da família." Somam-se a este fato a não discussão das questões emocionais e pessoais no ambiente escolar - "as reuniões tratam, sempre, de conteúdo, disciplina e organização" - e as características dos tempos modernos. "Nossa sociedade hoje está muito frágil em relação à noção da existência do outro. As outras pessoas passaram a ser algo em segundo plano. E isso repercute em sala de aula, nas relações entre alunos e professores."

Olhar para si
 Que a escola precisa voltar um pouco mais seus olhos para as condições físicas e psicológicas do professor - principalmente as questões relacionadas ao emocional - não há dúvidas. "Isso tem sido preocupação de muitas empresas atualmente. Mas no caso do professor, ele falta ao trabalho e dá uma desculpa. E aquilo fica só como uma falta, ninguém procura saber os motivos. Infelizmente, na educação nunca se deu a atenção devida a esta questão", falou Klain. Entretanto, esperar apenas que a instituição a que está vinculado mude os rumos dessa situação não é, segundo o psicanalista, uma boa alternativa. "Também não acho que pagar dez vezes mais do que o salário de hoje fará os professores olharem para sua qualidade de vida."
O segredo para os professores darem a volta por cima, segundo Klain, é olhar para si mesmo. "Casa um tem que olhar para sua carreira, refletir, tomar conta dela, desvinculada da instituição escolar à qual está vinculado. Se tenho baixo salário, o que vou fazer para melhorar isso? Se o alunos não aprendem, como melhorar? Mas não os resultados da escola, mas de sua carreira." Mas tanta independência não exime a instituição escolar de fazer a sua parte. "As empresas estão percebendo que oferecer aos funcionários atendimento a questões emocionais é mais barato que o absenteísmo e que ter problemas com a produção. Mas as escolas, de forma geral, ainda são negligentes, agem como se não houvesse pessoas ali. Os dirigentes precisam pensar qual a qualidade do material humano que possuem dentro de sua escola."
Fonte: http://apeoespsub.org.br/

Um comentário:

  1. Realmente as diretorias de ensino só almejam as metas´e voê trabalha sozinho, é so cobrança e mais cobrança. Ouvir o problema nem pensar. Precisamos mudar isso urgentemente.

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