Maria Gizele da Silva,
Clipping Educacional - da sucursal Ponta Grossa
Só no Paraná, os distúrbios vocais respondem por 36% dos casos de professores da rede pública de ensino que se afastaram do trabalho por motivo de doença
Garganta seca, rouquidão, pigarro. Esses são alguns dos sinais de que a voz está com problemas. Assim como locutores e agentes de telemarketing, os professores estão na lista dos profissionais que usam a voz como instrumento de trabalho. O ambiente em sala de aula, no entanto, é mais desgastante do que nas demais áreas. O professor compete com o barulho dos alunos, do pátio e das ruas e ainda é afetado pelo pó do giz riscando a lousa. Pesquisa feita pelo Sindicato dos Professores de São Paulo e pelo Centro de Estudos da Voz demonstrou que 63% dos professores já tiveram problemas com a voz.
A pesquisa retrata uma média ponderada para todo o país. Não há uma estatística oficial, mas somente no Paraná, 36% dos professores afastados por motivo de doença no primeiro semestre de 2009 na rede pública apresentaram problemas vocais, segundo dados da APP-Sindicato. Todas as doenças relacionadas ao trabalho precisam ser notificadas nos serviços de saúde para que o governo possa desenvolver políticas públicas de prevenção e controle. Porém, como o distúrbio vocal não está no rol das doenças do trabalho reconhecidas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o problema passa despercebido.
Por causa disso, o professor afetado não tem direito ao auxílio-doença e o Judiciário não criou uma jurisprudência para indenizar docentes que ficaram impossibilitados de continuar trabalhando. Recentemente, em Londres, a professora Joyce Walters conseguiu uma indenização de 150 mil libras (equivalente a R$ 411 mil) por ter contraído nódulos nas cordas vocais. A lesão teria sido ocasionada pelo barulho em sala de aula.
No Brasil, o tema já é debatido desde 1997 e ganhou corpo em 2004 com um seminário realizado em São Paulo pelo Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest). Na ocasião, especialistas decidiram levar a discussão ao Ministério da Saúde e, por enquanto, não há uma conclusão. Conforme a fonoaudióloga e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP) Leslie Piccolotto Ferreira, que acompanha a discussão, a classificação do distúrbio da voz como um problema relacionado ao trabalho pode beneficiar várias categorias de profissionais que usam a voz em serviço.
Atendimento
Como as queixas de professores afônicos eram constantes, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná fez uma parceria com a Secretaria de Estado da Saúde e criou, em 2005, o programa Saúde Vocal. No ano passado, o programa foi ampliado e ganhou o nome de Saúde Paraná Professor. Ele encaminha professores para tratamentos de saúde e capacita docentes a serem multiplicadores para levar às suas escolas maneiras de prevenção.
Marcos Daniel Bianchini, da coordenadoria de programas do governo da Superintendência de Desenvolvimento Educacional, alerta que o serviço só é procurado quando o caso já está grave. “Muitos professores têm problemas de voz, mas acabam usando pastilhas que só anestesiam a lesão, o que agrava a situação”, acrescenta.
Prevenção só requer hábitos bem simples
Alyane Caramori Prestes é professora da rede pública desde setembro. Ela dá aulas para crianças do ensino fundamental e, vez ou outra, tem de elevar o tom de voz para controlar a classe. “Eu sinto aos finais de semana que minha voz está cansada”, comenta. Giovane Aparecida Afinovicz é professora há 22 anos e atua como pedagoga. Como dá aulas em outra escola, teve de ser afastada da sala de aula por problemas vocais. Giovane apresentou disfonia causada por estresse e asma.
“Cheguei a ficar totalmente sem voz. Mas, agora está melhorando”, afirma. Giovane está fazendo sessões de fonoterapia e faz exercícios diários em sua casa. Alyane sabe do problema da colega, mas diz que, por enquanto, não toma nenhuma precaução. A prevenção só requer hábitos bem simples.
A fonoaudióloga Fabiana Zambon, que coordena o programa de saúde vocal pelo Sindicato dos Professores de São Paulo, afirma que é preciso se prevenir, tomando pequenos goles de água ao longo da aula, e ficar atento aos primeiros sinais, procurando ajuda em serviços especializados. Em período de descanso, aos finais de semana ou mesmo nas férias, os professores devem cuidar da voz, diminuindo o volume quando possível e mantendo o hábito de beber água. “O ideal é prevenção e informação para que o caso não se agrave”, afirma Fabiana.
A pesquisa feita em São Paulo, que teve a participação de Fa¬¬biana, demonstrou que hoje 16% dos professores consideram a necessidade de mudar de profissão no futuro por causa da voz. Para o secretário de Saúde e Previdência da APP-Sindicato no Paraná, Idemar Vanderlei Beki, é preciso mais do que prevenção. Ele acredita que é importante que o governo estadual aprove o projeto de saúde ocupacional apresentado pelo sindicato e que o tema seja regulamentado nacionalmente para ser considerada uma doença relacionada ao trabalho.
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br
Só no Paraná, os distúrbios vocais respondem por 36% dos casos de professores da rede pública de ensino que se afastaram do trabalho por motivo de doença
Garganta seca, rouquidão, pigarro. Esses são alguns dos sinais de que a voz está com problemas. Assim como locutores e agentes de telemarketing, os professores estão na lista dos profissionais que usam a voz como instrumento de trabalho. O ambiente em sala de aula, no entanto, é mais desgastante do que nas demais áreas. O professor compete com o barulho dos alunos, do pátio e das ruas e ainda é afetado pelo pó do giz riscando a lousa. Pesquisa feita pelo Sindicato dos Professores de São Paulo e pelo Centro de Estudos da Voz demonstrou que 63% dos professores já tiveram problemas com a voz.
A pesquisa retrata uma média ponderada para todo o país. Não há uma estatística oficial, mas somente no Paraná, 36% dos professores afastados por motivo de doença no primeiro semestre de 2009 na rede pública apresentaram problemas vocais, segundo dados da APP-Sindicato. Todas as doenças relacionadas ao trabalho precisam ser notificadas nos serviços de saúde para que o governo possa desenvolver políticas públicas de prevenção e controle. Porém, como o distúrbio vocal não está no rol das doenças do trabalho reconhecidas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o problema passa despercebido.
Por causa disso, o professor afetado não tem direito ao auxílio-doença e o Judiciário não criou uma jurisprudência para indenizar docentes que ficaram impossibilitados de continuar trabalhando. Recentemente, em Londres, a professora Joyce Walters conseguiu uma indenização de 150 mil libras (equivalente a R$ 411 mil) por ter contraído nódulos nas cordas vocais. A lesão teria sido ocasionada pelo barulho em sala de aula.
No Brasil, o tema já é debatido desde 1997 e ganhou corpo em 2004 com um seminário realizado em São Paulo pelo Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest). Na ocasião, especialistas decidiram levar a discussão ao Ministério da Saúde e, por enquanto, não há uma conclusão. Conforme a fonoaudióloga e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP) Leslie Piccolotto Ferreira, que acompanha a discussão, a classificação do distúrbio da voz como um problema relacionado ao trabalho pode beneficiar várias categorias de profissionais que usam a voz em serviço.
Atendimento
Como as queixas de professores afônicos eram constantes, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná fez uma parceria com a Secretaria de Estado da Saúde e criou, em 2005, o programa Saúde Vocal. No ano passado, o programa foi ampliado e ganhou o nome de Saúde Paraná Professor. Ele encaminha professores para tratamentos de saúde e capacita docentes a serem multiplicadores para levar às suas escolas maneiras de prevenção.
Marcos Daniel Bianchini, da coordenadoria de programas do governo da Superintendência de Desenvolvimento Educacional, alerta que o serviço só é procurado quando o caso já está grave. “Muitos professores têm problemas de voz, mas acabam usando pastilhas que só anestesiam a lesão, o que agrava a situação”, acrescenta.
Prevenção só requer hábitos bem simples
Alyane Caramori Prestes é professora da rede pública desde setembro. Ela dá aulas para crianças do ensino fundamental e, vez ou outra, tem de elevar o tom de voz para controlar a classe. “Eu sinto aos finais de semana que minha voz está cansada”, comenta. Giovane Aparecida Afinovicz é professora há 22 anos e atua como pedagoga. Como dá aulas em outra escola, teve de ser afastada da sala de aula por problemas vocais. Giovane apresentou disfonia causada por estresse e asma.
“Cheguei a ficar totalmente sem voz. Mas, agora está melhorando”, afirma. Giovane está fazendo sessões de fonoterapia e faz exercícios diários em sua casa. Alyane sabe do problema da colega, mas diz que, por enquanto, não toma nenhuma precaução. A prevenção só requer hábitos bem simples.
A fonoaudióloga Fabiana Zambon, que coordena o programa de saúde vocal pelo Sindicato dos Professores de São Paulo, afirma que é preciso se prevenir, tomando pequenos goles de água ao longo da aula, e ficar atento aos primeiros sinais, procurando ajuda em serviços especializados. Em período de descanso, aos finais de semana ou mesmo nas férias, os professores devem cuidar da voz, diminuindo o volume quando possível e mantendo o hábito de beber água. “O ideal é prevenção e informação para que o caso não se agrave”, afirma Fabiana.
A pesquisa feita em São Paulo, que teve a participação de Fa¬¬biana, demonstrou que hoje 16% dos professores consideram a necessidade de mudar de profissão no futuro por causa da voz. Para o secretário de Saúde e Previdência da APP-Sindicato no Paraná, Idemar Vanderlei Beki, é preciso mais do que prevenção. Ele acredita que é importante que o governo estadual aprove o projeto de saúde ocupacional apresentado pelo sindicato e que o tema seja regulamentado nacionalmente para ser considerada uma doença relacionada ao trabalho.
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br
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