HÉLIO SCHWARTSMAN
Clipping Educacional - FOLHA
Duas crises em duas tentativas de aplicar o novo Enem. O MEC gabaritou no quesito fracasso organizacional, mas, antes de decretar a falência do Inep ou exigir que 3,4 milhões de examinandos refaçam suas provas, é prudente analisar de forma desapaixonada o quadro geral.
O primeiro ponto a destacar é que as trapalhadas nada têm a ver com a metodologia do exame, baseada na Teoria da Resposta ao Item (TRI), a qual já se mostrou eficaz numa série de avaliações no Brasil e no exterior.
Desenvolvida nos anos 50 e 60 na intersecção entre matemática, sociologia e psicometria, a TRI torna possíveis testes refinados, que permitem comparar alunos submetidos a provas diferentes e a performance de uma instituição ao longo do tempo.
Assim, tem respaldo teórico a argumentação do ministro Haddad de que não haveria prejuízo à isonomia se apenas os candidatos efetivamente prejudicados fizerem um novo teste.
Na verdade, tanto a fraude de 2009 como os erros deste ano poderiam ter sido evitados se o MEC tivesse explorado melhor as possibilidades abertas pela TRI.
Um dos fatores que concorreram para a confusão é o gigantismo da prova. Preparar um exame para mais de 4 milhões é um pesadelo logístico. Seria mais razoável organizar sete ou oito sessões por ano, como, aliás, ocorre com o SAT, o Enem dos EUA.
O mesmo vale para a segurança. Como as questões não precisam ser as mesmas para todos, o MEC poderia elaborar dezenas de diferentes modelos de prova. Se existe só uma chance em 50 ou 60 de o candidato a fraudador comprar a versão certa, violações perdem valor de mercado.
Para implementar essas mudanças, porém, seria necessário ter formado um grande banco de questões, idealmente com milhões de itens. O Inep não teve tempo de acumular tantas perguntas previamente testadas por grupos de controle.
Retrospectivamente, parece justo afirmar que o erro estratégico do MEC foi ter sido afobado, sujeitando as cautelas da boa técnica avaliativa à lógica de produzir novidades com valor político.
fonte: http://www1.folha.uol.com.br
Duas crises em duas tentativas de aplicar o novo Enem. O MEC gabaritou no quesito fracasso organizacional, mas, antes de decretar a falência do Inep ou exigir que 3,4 milhões de examinandos refaçam suas provas, é prudente analisar de forma desapaixonada o quadro geral.
O primeiro ponto a destacar é que as trapalhadas nada têm a ver com a metodologia do exame, baseada na Teoria da Resposta ao Item (TRI), a qual já se mostrou eficaz numa série de avaliações no Brasil e no exterior.
Desenvolvida nos anos 50 e 60 na intersecção entre matemática, sociologia e psicometria, a TRI torna possíveis testes refinados, que permitem comparar alunos submetidos a provas diferentes e a performance de uma instituição ao longo do tempo.
Assim, tem respaldo teórico a argumentação do ministro Haddad de que não haveria prejuízo à isonomia se apenas os candidatos efetivamente prejudicados fizerem um novo teste.
Na verdade, tanto a fraude de 2009 como os erros deste ano poderiam ter sido evitados se o MEC tivesse explorado melhor as possibilidades abertas pela TRI.
Um dos fatores que concorreram para a confusão é o gigantismo da prova. Preparar um exame para mais de 4 milhões é um pesadelo logístico. Seria mais razoável organizar sete ou oito sessões por ano, como, aliás, ocorre com o SAT, o Enem dos EUA.
O mesmo vale para a segurança. Como as questões não precisam ser as mesmas para todos, o MEC poderia elaborar dezenas de diferentes modelos de prova. Se existe só uma chance em 50 ou 60 de o candidato a fraudador comprar a versão certa, violações perdem valor de mercado.
Para implementar essas mudanças, porém, seria necessário ter formado um grande banco de questões, idealmente com milhões de itens. O Inep não teve tempo de acumular tantas perguntas previamente testadas por grupos de controle.
Retrospectivamente, parece justo afirmar que o erro estratégico do MEC foi ter sido afobado, sujeitando as cautelas da boa técnica avaliativa à lógica de produzir novidades com valor político.
fonte: http://www1.folha.uol.com.br
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