quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Presidente de ONG: Enem foi mal elaborado e feito às pressas

CAMILA PUTTI
CLIPPING EDUCACIONAL - Direto de São Paulo / Redação Terra
Os transtornos causados pelas falhas no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2010, ocorrido neste último fim de semana, com os erros de montagem dos cadernos amarelos de sábado, os gabaritos com cabeçalhos invertidos e regras polêmicas descumpridas, como a proibição do uso de lápis, fizeram muitos estudantes se sentirem prejudicados. O exame ainda teve índice de abstenção, considerado normal, de 27% e 29%, no primeiro e segundo dia, respectivamente. Neste contexto, Mateus Prado, autor de vários livros didáticos sobre o Enem e presidente do Instituto Henfil, ONG que atua na área de educação e oferece cursinhos com preços populares, considera que "o Exame foi mal elaborado e feito às pressas".
Segundo ele, os recentes problemas do Enem são exclusivamente de responsabilidade do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Ele define o instituto como se fosse "uma ilha" dentro do Ministério da Educação (MEC). "A ideia de fazer uma prova que valoriza a interpretação e o comportamento ético do candidato no lugar de conteúdos conservadores é ótima. Mas parece que o Inep não concilia essa tarefa com o resto do ministério."
Mateus avalia ainda que faltou humildade ao presidente do Inep, Joaquim José Soares Neto , que, "em vez de fazer o mea culpa, orgulhou-se de o instituto ter cumprido sua missão e obtido sucesso na aplicação das provas". Para o presidente da ONG, o Inep, de forma alguma, cumpriu seu dever. "Faltou organização. A prova foi feita de última hora. Antes da aplicação, prova e gabarito devem ser revistos e isso não foi feito", ressalta.
Quanto à inversão dos gabaritos, Mateus isenta de culpa a gráfica RR Donnelley, responsável pelas impressões dos exames. "A gráfica não tem como inverter os arquivos. O material já foi enviado para impressão com problema e o que faltou foi fiscalização."
Prado também aponta que a prova não é aplicada com as mesmas regras em todas as localidades. Inscrito no Enem, ele assume ter respondido as questões a lápis, administrado seu tempo com o relógio de pulso que usava, além de ter deixado seu iPad conectado a internet em baixo de sua mesa. E para ter acesso às salas de prova, não precisou apresentar o cartão de confirmação de inscrição, que seria obrigatório. Embora não concorresse a nenhuma vaga nas universidades, Mateus teve vantagem sobre outros candidatos que, conforme orientações de cada fiscal de sala, foram submetidos a diferentes restrições. Em recente entrevista ao Terra, ele havia "previsto" que cada fiscal aplicaria as novas regras do Enem a sua maneira e, por isso, aconselhou os candidatos a levarem lápis no dia da prova.
Conforme explica, do ponto de vista do Direito, só a infração destas regras já seria motivo para que a prova fosse anulada e aplicada novamente. Mas ele acha muito difícil que isso aconteça e recomenda que os candidatos que se sentiram prejudicados recorram ao Ministério Público.
Parte dos problemas ocorridos nesta edição do Exame, Prado atribui à falta de preparo dos fiscais. "Qualquer pessoa pode ser fiscal e paga-se por isso R$ 60 por dia. Em cidades pequenas, do interior do País, isso representa muito para algumas pessoas que participam da aplicação sem seriedade, só pelo dinheiro." Além disso, critica a falta de transparência do Inep. Para ele, é "inadmissível" que o relatório pedagógico do último Exame ainda não tenha sido divulgado. "Não dá para conhecer qual o perfil de erros e acertos dos candidatos, por exemplo", lamenta.
Disparidade na preparação das provas
De acordo com Mateus Prado, a prova aplicada no primeiro dia foi muito mal feita e era parecida com um vestibular tradicional e conservador. "Os enunciados eram ambíguos e a prova de ciências da natureza, principalmente em química, cobrou muita fórmula, muito conteúdo, fugindo da proposta do Enem".
Na área de Linguagens e Códigos, com o intuito de deixar a prova menos cansativa, os enunciados foram reduzidos, mas isso, segundo Mateus, foi pior para o aluno. "A prova deixou de ser interpretativa e muitas respostas que, antes, poderiam ser encontradas na própria questão, ficaram mais difíceis."
Quanto à prova de Matemática, aplicada no domingo, há elogios. "A prova era moderna e tinha a cara que o Enem deve ter". No entanto, completa ele, "o candidato tinha que escolher entre responder bem todas as questões e ficar sem fazer a redação, ou correr para dar tempo de fazer tudo." Isso, aponta Mateus, evidencia ainda mais a disparidade na elaboração da prova. "Parece que as pessoas que formularam as questões nem conversaram entre si, nem conheciam o novo modelo do Enem".
Fonte: http://noticias.terra.com.br

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