Mariana Mandelli
Clipping Educacional - O Estado de S.Paulo
Donatila Ferrada Torres, Professora da Universidade de Concepción, Chile
A escola só vai sobreviver se abrir espaço para a participação das famílias e, principalmente, dos estudantes na discussão sobre o currículo, defende a professora Donatila Ferrada Torres, da Universidade de Concepción, no Chile. Segundo ela, a sociedade atual, constantemente conectada, exige que o conhecimento seja construído de forma colaborativa e ofereça os conteúdos de forma comunicativa e crítica.
Donatila esteve no Brasil para uma palestra sobre a elaboração do currículo escolar na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e conversou com o Estado.
Com altos índices de evasão, o ensino médio é a etapa mais problemática da educação básica no Brasil. Como torná-lo mais atraente para o jovem de hoje?
Atualmente, na sociedade do conhecimento, os estudantes têm acesso a muita informação por meio dos meios de comunicação e da tecnologia. Nesse contexto, a escola tem de rever o seu papel e o do ensino para poder se conectar melhor com essa juventude. Do jeito que está estruturada hoje, a escola não faz o mínimo sentido na vida do jovem.
Como reformular a escola?
A partir de um currículo comunicativo e crítico. São muitas as variáveis que interferem nesse processo. Não se resolve o problema focando em duas ou três delas. Temos de trabalhar a inter-relação entre essas problemáticas: professor, aluno e conteúdo. O professor precisa ter uma boa formação e domínio do que ensina, mas também um bom preparo pedagógico. Também é importante ter tecnologia, acesso a computadores. A participação da família na vida da escola é essencial também, juntamente à participação do estudante na tomada de decisão sobre o currículo, sobre o que ensinar. Caso contrário, a chance de a escola mobilizá-lo é muito pequena.
Por que a participação da família é essencial?
Porque ela representa diretamente tudo o que está acontecendo na sociedade. Se ela valida o trabalho da escola, isso motivará o estudante. Ela é a ponte com a realidade.
E a participação do estudante?Por que é necessária?
Não existe mais a possibilidade de se constituir um currículo ou uma escola que seja atraente para os estudantes sem a presença deles na tomada de decisão. Hoje os jovens satisfazem suas necessidades e seus interesses diretamente, por meio da tecnologia e das facilidades que ela oferece. E dialogam permanentemente pelas redes sociais, construindo conhecimento. Não trazer isso para a escola é impensável. Quando eles chegam nela para estudar, encontram um lugar onde não cabe o diálogo. A escola se comporta como se ainda estivesse em uma sociedade industrial.
Isso significa não ensinar nada do que é dado hoje na escola?
De forma alguma. Devemos deixar bem claro que essas mudanças não significam deixar de lado os saberes de base, os saberes disciplinares. Não se trata de decidir se vai ou não ensinar matemática, por exemplo. Ela é necessária no currículo e quem tem o conhecimento sobre ela é o professor. É ele quem vai ensiná-la. O que deve estar em discussão é quais temas da matemática, em quais quantidades e em quais sequências devem ser ensinados. E o professor não é a melhor pessoa para fazer essa seleção porque ele passou a vida toda dentro da escola. Ele não tem o referencial da aplicação desses conteúdos como os familiares têm, por exemplo. A percepção deles ajuda a conectar as disciplinas à vida prática dos alunos. Há tópicos do ensino da matemática que não têm mais nenhuma aplicabilidade e ninguém sabe porque ainda são ensinados. É nisso que a escola precisa da ajuda da família e dos estudantes.
Como construir esse currículo comunicativo e crítico?
É preciso incorporar novos atores na construção curricular: as comunidades, os estudantes. Uma das características da sociedade do conhecimento é trabalhar em rede. É o encontro de comunidades que antes não se encontravam. Para se discutir o que ensinar, o que se quer construir com esse ensino, dependemos de muita gente - não só de especialistas. Temos de ampliar a participação da sociedade em geral e dos grupos específicos que estão na escola.
O ensino técnico é mais atraente para esse estudante que vive conectado?
Se a princípio o ensino profissional pode parecer uma alternativa mais rápida, é também uma solução enganosa, porque existem mais estudantes que querem ter acesso à universidade do que os que desejam uma formação profissional. Quem procura esse tipo de ensino normalmente são as pessoas de classe mais baixa que precisam ter acesso ao mercado de trabalho. Só que esses mesmos estudantes também olham na direção da universidade - e querem estar nela.
Qual o papel do educador frente a tudo isso? Como ele pode se preparar?
O professor tem de acompanhar as novas demandas da sociedade da informação e também do grupo local, onde a escola está, simultaneamente. Hoje, a formação é mais complexa porque o docente deve incorporar esse modo dialógico de trabalhar o conhecimento e as redes. Isso exige domínio científico das disciplinas e pedagógico. E também de um regime colaborativo das instâncias sociais.
O que podemos esperar do futuro da escola caso ela não se reformule?
Se a escola não caminhar em uma direção mais dialógica, ela vai se extinguir. Vai sumir porque não está dando conta de todo esse contexto. Podemos perceber os efeitos disso hoje. A escola vai desaparecer por abandono dos estudantes. A evasão vai aumentar ainda mais porque os próprios estudantes não vão querer mais ir à escola.
fonte: http://www.estadao.com.br
Donatila Ferrada Torres, Professora da Universidade de Concepción, Chile
A escola só vai sobreviver se abrir espaço para a participação das famílias e, principalmente, dos estudantes na discussão sobre o currículo, defende a professora Donatila Ferrada Torres, da Universidade de Concepción, no Chile. Segundo ela, a sociedade atual, constantemente conectada, exige que o conhecimento seja construído de forma colaborativa e ofereça os conteúdos de forma comunicativa e crítica.
Donatila esteve no Brasil para uma palestra sobre a elaboração do currículo escolar na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e conversou com o Estado.
Com altos índices de evasão, o ensino médio é a etapa mais problemática da educação básica no Brasil. Como torná-lo mais atraente para o jovem de hoje?
Atualmente, na sociedade do conhecimento, os estudantes têm acesso a muita informação por meio dos meios de comunicação e da tecnologia. Nesse contexto, a escola tem de rever o seu papel e o do ensino para poder se conectar melhor com essa juventude. Do jeito que está estruturada hoje, a escola não faz o mínimo sentido na vida do jovem.
Como reformular a escola?
A partir de um currículo comunicativo e crítico. São muitas as variáveis que interferem nesse processo. Não se resolve o problema focando em duas ou três delas. Temos de trabalhar a inter-relação entre essas problemáticas: professor, aluno e conteúdo. O professor precisa ter uma boa formação e domínio do que ensina, mas também um bom preparo pedagógico. Também é importante ter tecnologia, acesso a computadores. A participação da família na vida da escola é essencial também, juntamente à participação do estudante na tomada de decisão sobre o currículo, sobre o que ensinar. Caso contrário, a chance de a escola mobilizá-lo é muito pequena.
Por que a participação da família é essencial?
Porque ela representa diretamente tudo o que está acontecendo na sociedade. Se ela valida o trabalho da escola, isso motivará o estudante. Ela é a ponte com a realidade.
E a participação do estudante?Por que é necessária?
Não existe mais a possibilidade de se constituir um currículo ou uma escola que seja atraente para os estudantes sem a presença deles na tomada de decisão. Hoje os jovens satisfazem suas necessidades e seus interesses diretamente, por meio da tecnologia e das facilidades que ela oferece. E dialogam permanentemente pelas redes sociais, construindo conhecimento. Não trazer isso para a escola é impensável. Quando eles chegam nela para estudar, encontram um lugar onde não cabe o diálogo. A escola se comporta como se ainda estivesse em uma sociedade industrial.
Isso significa não ensinar nada do que é dado hoje na escola?
De forma alguma. Devemos deixar bem claro que essas mudanças não significam deixar de lado os saberes de base, os saberes disciplinares. Não se trata de decidir se vai ou não ensinar matemática, por exemplo. Ela é necessária no currículo e quem tem o conhecimento sobre ela é o professor. É ele quem vai ensiná-la. O que deve estar em discussão é quais temas da matemática, em quais quantidades e em quais sequências devem ser ensinados. E o professor não é a melhor pessoa para fazer essa seleção porque ele passou a vida toda dentro da escola. Ele não tem o referencial da aplicação desses conteúdos como os familiares têm, por exemplo. A percepção deles ajuda a conectar as disciplinas à vida prática dos alunos. Há tópicos do ensino da matemática que não têm mais nenhuma aplicabilidade e ninguém sabe porque ainda são ensinados. É nisso que a escola precisa da ajuda da família e dos estudantes.
Como construir esse currículo comunicativo e crítico?
É preciso incorporar novos atores na construção curricular: as comunidades, os estudantes. Uma das características da sociedade do conhecimento é trabalhar em rede. É o encontro de comunidades que antes não se encontravam. Para se discutir o que ensinar, o que se quer construir com esse ensino, dependemos de muita gente - não só de especialistas. Temos de ampliar a participação da sociedade em geral e dos grupos específicos que estão na escola.
O ensino técnico é mais atraente para esse estudante que vive conectado?
Se a princípio o ensino profissional pode parecer uma alternativa mais rápida, é também uma solução enganosa, porque existem mais estudantes que querem ter acesso à universidade do que os que desejam uma formação profissional. Quem procura esse tipo de ensino normalmente são as pessoas de classe mais baixa que precisam ter acesso ao mercado de trabalho. Só que esses mesmos estudantes também olham na direção da universidade - e querem estar nela.
Qual o papel do educador frente a tudo isso? Como ele pode se preparar?
O professor tem de acompanhar as novas demandas da sociedade da informação e também do grupo local, onde a escola está, simultaneamente. Hoje, a formação é mais complexa porque o docente deve incorporar esse modo dialógico de trabalhar o conhecimento e as redes. Isso exige domínio científico das disciplinas e pedagógico. E também de um regime colaborativo das instâncias sociais.
O que podemos esperar do futuro da escola caso ela não se reformule?
Se a escola não caminhar em uma direção mais dialógica, ela vai se extinguir. Vai sumir porque não está dando conta de todo esse contexto. Podemos perceber os efeitos disso hoje. A escola vai desaparecer por abandono dos estudantes. A evasão vai aumentar ainda mais porque os próprios estudantes não vão querer mais ir à escola.
fonte: http://www.estadao.com.br
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