Clipping Educacional - Do G1, com informações do Fantástico
Déficit era de 240 mil professores da 5ª série ao ensino médio, em 2008.
As áreas mais críticas são física, química e matemática.
O estudante Thiago dos Santos teve que fazer um trabalho de física, no primeiro ano do ensino médio de uma escola estadual em São Paulo. Como em 2010 não teve nenhuma aula da matéria, apelou para a internet. Questionado sobre o que acha que é física, Thiago responde: “Não tenho a mínima ideia.”
Laíne Oliveira Lima, no Tocantins, enfrenta problema parecido. “O professor de matemática era o mesmo professor de física, aí saiu o professor de matemática e ficamos sem matemática e física”, afirmou.
O Fantástico percorreu as cinco regiões do país e constatou: nas escolas públicas brasileiras, falta gente pra ensinar ciências exatas e biológicas, principalmente no ensino médio.
Na semana passada, o Ministério da Educação divulgou que esse nível de ensino foi o que se saiu pior no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Esse resultado é uma conseqüência do que o governo já tinha apurado em 2008.
Nesse ano, um levantamento do Ministério da Educação mostrou um déficit de 240 mil professores da 5ª série ao ensino médio. As áreas mais críticas eram, justamente, física, química e matemática. De 2008 até hoje, o governo vê algum avanço.
“Essa falta de professores começa a diminuir, mas ainda muito lentamente, mas há hoje uma política muito estruturada pra garantir que os jovens procurem as licenciaturas, pra que os jovens se tornem professores”, disse a secretária da Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda.
Para resolver o problema, alguns estados recorrem aos professores que não prestaram concurso, os chamados temporários. Em São Paulo, por exemplo, há mais de 80 mil desses temporários. Segundo a Secretaria da Educação do estado, são eles que darão as aulas de física que faltaram na escola de Thiago.
“Todas as aulas serão repostas. E a reposição de aula, para que não haja nenhum prejuízo no conteúdo, vai ser realizada aos sábados e fora do horário de aulas desses alunos”, disse o secretário adjunto de Educação, Guilherme Bueno.
Também no Sudeste, em uma escola estadual em Mesquita, na Baixa Fluminense, este ano falta professor de química. “A gente vai se formar, terminar o terceiro ano esse ano, ensino médio, tentar o Enem, vestibular, tudo, agora a gente decide a nossa vida e a gente não tem uma base boa pra isso porque na escola falta professor”, disse um estudante.
Em nota, a Secretaria de Educação do estado do Rio informou que existem carências provocadas por afastamentos temporários ou definitivos de professores. Apesar de ter realizado concursos, ainda tem vagas abertas para química, física, filosofia e sociologia.
Na região Centro-Oeste, em Novo Gama, em Goiás, a diretora de uma escola conta que 95% dos professores têm contratos temporários e que já improvisou, para prejuízo dos alunos. “Isso aconteceu no caso do professor de ciência ir ministrar aula de matemática, infelizmente”, disse Jeania Cardoso.
Em nota enviada ao Fantástico, a Secretaria de Educação de Goiás admitiu que o déficit é de mais de 3.800 professores, principalmente na área de ciências e matemática.
Na Região Sul, em Porto Alegre, alguns cadernos estão vazios. Um estudante mostra o caderno de matemática sem lições. “Não tem, não tem professor de matemática para fazer a lição”, afirmou. O Fantástico acompanhou a primeira aula de matemática do ano para a turma da 1ª série do ensino médio de uma escola de Porto Alegre. Isso ocorreu no final de junho.
“Dentro das nossa possibilidades, a gente vai tentar resgatar todo esse conteúdo aí que vocês perderam resgatando o que é mais importante pra que vocês não fiquem tão prejudicados, certo?”, afirmou o professor João Francisco.
A Secretaria da Educação gaúcha disse, em nota, que a turma que ficou sem aula terá reposição em outros horários. O último concurso público para professores, no estado, foi em 2005.
João Francisco dá aula de matemática em quatro escolas gaúchas. Por causa do salário baixo, às vezes, pensa em buscar outro trabalho. “Eu acredito que se eu tivesse oportunidade em alguma outra empresa, talvez pudesse conciliar, né? Trabalhar nessa empresa, mas sempre com alguma turma, com certeza”, disse o professor.
Uma lei federal estipula o piso salarial de professores, por mês, em R$ 1.024 para trinta horas semanais de aula, mas, em muitos estados, o salário não chega a R$ 1 mil. O presidente do movimento Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos, que reúne empresários e educadores, diz que melhorar o pagamento não é tudo.
“Tem que ter carreira, a carreira que seja motivadora, baseada no mérito, no desempenho”, afirmou. Ele apresenta outro dado preocupante. “Somente 25% dos professores que estão ensinando física no Brasil, de fato, foram formados em física. Em química, 38%. Isso é grave porque a gente não sabe o que eles estão ensinando e como estão ensinando”, disse.
Esse problema do professor que não é formado na matéria que ensina se repete no Nordeste. Na região Nordeste, em Viana, no Maranhão, Maurício Machado conta que isso aconteceu com sua mãe, professora de matemática.
“Chamaram ela na Regional e queriam que ela desse outra matéria que ela não é formada”, disse. Questionado sobre que matéria queriam que a mãe dele lecionasse, Maurício respondeu: “Por exemplo, biologia, outra como português”.
O Fantástico visitou três escolas públicas em Viana. Em todas elas faltam professores de várias disciplinas desde o início do ano. “Eu não tenho nenhuma nota de física”, disse Luan Mendonça.
A Secretaria de Educação do Maranhão reconhece que faltam 1.252 professores das áreas de exatas e de ciências no estado. Segundo a nota, não há profissionais suficientes formados nessas áreas e, por isso, sobraram vagas no último concurso para professores.
Na Região Norte, em São Miguel do Tocantins, em Tocantins, os alunos estão sem física e matemática desde a segunda quinzena de maio. A Secretaria de Educação de Tocantins diz que vai chamar os professores concursados do cadastro de reserva e que a reposição começa no início do segundo semestre.
Maria Clara Silva, que tem espaços em branco no boletim em física e em matemática, está descrente. “Mesmo que venha em agosto, vai ser passado apenas um trabalho pra recuperação da nota, e não vai ser suficiente principalmente pra nós que vamos prestar vestibular”, afirmou.
Segundo o MEC, física tem o maior déficit do país. Só sete mil professores se formaram entre 2001 e 2008. Números do governo, no entanto, mostram que começa a aumentar a quantidade de alunos em faculdades que formam professores no país, principalmente porque mais cursos foram criados. “A prioridade é o professor porque nenhuma mudança na educação acontecerá sem o professor ou contra o professor”, Maria do Pilar.
fonte: http://g1.globo.com
Déficit era de 240 mil professores da 5ª série ao ensino médio, em 2008.
As áreas mais críticas são física, química e matemática.
O estudante Thiago dos Santos teve que fazer um trabalho de física, no primeiro ano do ensino médio de uma escola estadual em São Paulo. Como em 2010 não teve nenhuma aula da matéria, apelou para a internet. Questionado sobre o que acha que é física, Thiago responde: “Não tenho a mínima ideia.”
Laíne Oliveira Lima, no Tocantins, enfrenta problema parecido. “O professor de matemática era o mesmo professor de física, aí saiu o professor de matemática e ficamos sem matemática e física”, afirmou.
O Fantástico percorreu as cinco regiões do país e constatou: nas escolas públicas brasileiras, falta gente pra ensinar ciências exatas e biológicas, principalmente no ensino médio.
Na semana passada, o Ministério da Educação divulgou que esse nível de ensino foi o que se saiu pior no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Esse resultado é uma conseqüência do que o governo já tinha apurado em 2008.
Nesse ano, um levantamento do Ministério da Educação mostrou um déficit de 240 mil professores da 5ª série ao ensino médio. As áreas mais críticas eram, justamente, física, química e matemática. De 2008 até hoje, o governo vê algum avanço.
“Essa falta de professores começa a diminuir, mas ainda muito lentamente, mas há hoje uma política muito estruturada pra garantir que os jovens procurem as licenciaturas, pra que os jovens se tornem professores”, disse a secretária da Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda.
Para resolver o problema, alguns estados recorrem aos professores que não prestaram concurso, os chamados temporários. Em São Paulo, por exemplo, há mais de 80 mil desses temporários. Segundo a Secretaria da Educação do estado, são eles que darão as aulas de física que faltaram na escola de Thiago.
“Todas as aulas serão repostas. E a reposição de aula, para que não haja nenhum prejuízo no conteúdo, vai ser realizada aos sábados e fora do horário de aulas desses alunos”, disse o secretário adjunto de Educação, Guilherme Bueno.
Também no Sudeste, em uma escola estadual em Mesquita, na Baixa Fluminense, este ano falta professor de química. “A gente vai se formar, terminar o terceiro ano esse ano, ensino médio, tentar o Enem, vestibular, tudo, agora a gente decide a nossa vida e a gente não tem uma base boa pra isso porque na escola falta professor”, disse um estudante.
Em nota, a Secretaria de Educação do estado do Rio informou que existem carências provocadas por afastamentos temporários ou definitivos de professores. Apesar de ter realizado concursos, ainda tem vagas abertas para química, física, filosofia e sociologia.
Na região Centro-Oeste, em Novo Gama, em Goiás, a diretora de uma escola conta que 95% dos professores têm contratos temporários e que já improvisou, para prejuízo dos alunos. “Isso aconteceu no caso do professor de ciência ir ministrar aula de matemática, infelizmente”, disse Jeania Cardoso.
Em nota enviada ao Fantástico, a Secretaria de Educação de Goiás admitiu que o déficit é de mais de 3.800 professores, principalmente na área de ciências e matemática.
Na Região Sul, em Porto Alegre, alguns cadernos estão vazios. Um estudante mostra o caderno de matemática sem lições. “Não tem, não tem professor de matemática para fazer a lição”, afirmou. O Fantástico acompanhou a primeira aula de matemática do ano para a turma da 1ª série do ensino médio de uma escola de Porto Alegre. Isso ocorreu no final de junho.
“Dentro das nossa possibilidades, a gente vai tentar resgatar todo esse conteúdo aí que vocês perderam resgatando o que é mais importante pra que vocês não fiquem tão prejudicados, certo?”, afirmou o professor João Francisco.
A Secretaria da Educação gaúcha disse, em nota, que a turma que ficou sem aula terá reposição em outros horários. O último concurso público para professores, no estado, foi em 2005.
João Francisco dá aula de matemática em quatro escolas gaúchas. Por causa do salário baixo, às vezes, pensa em buscar outro trabalho. “Eu acredito que se eu tivesse oportunidade em alguma outra empresa, talvez pudesse conciliar, né? Trabalhar nessa empresa, mas sempre com alguma turma, com certeza”, disse o professor.
Uma lei federal estipula o piso salarial de professores, por mês, em R$ 1.024 para trinta horas semanais de aula, mas, em muitos estados, o salário não chega a R$ 1 mil. O presidente do movimento Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos, que reúne empresários e educadores, diz que melhorar o pagamento não é tudo.
“Tem que ter carreira, a carreira que seja motivadora, baseada no mérito, no desempenho”, afirmou. Ele apresenta outro dado preocupante. “Somente 25% dos professores que estão ensinando física no Brasil, de fato, foram formados em física. Em química, 38%. Isso é grave porque a gente não sabe o que eles estão ensinando e como estão ensinando”, disse.
Esse problema do professor que não é formado na matéria que ensina se repete no Nordeste. Na região Nordeste, em Viana, no Maranhão, Maurício Machado conta que isso aconteceu com sua mãe, professora de matemática.
“Chamaram ela na Regional e queriam que ela desse outra matéria que ela não é formada”, disse. Questionado sobre que matéria queriam que a mãe dele lecionasse, Maurício respondeu: “Por exemplo, biologia, outra como português”.
O Fantástico visitou três escolas públicas em Viana. Em todas elas faltam professores de várias disciplinas desde o início do ano. “Eu não tenho nenhuma nota de física”, disse Luan Mendonça.
A Secretaria de Educação do Maranhão reconhece que faltam 1.252 professores das áreas de exatas e de ciências no estado. Segundo a nota, não há profissionais suficientes formados nessas áreas e, por isso, sobraram vagas no último concurso para professores.
Na Região Norte, em São Miguel do Tocantins, em Tocantins, os alunos estão sem física e matemática desde a segunda quinzena de maio. A Secretaria de Educação de Tocantins diz que vai chamar os professores concursados do cadastro de reserva e que a reposição começa no início do segundo semestre.
Maria Clara Silva, que tem espaços em branco no boletim em física e em matemática, está descrente. “Mesmo que venha em agosto, vai ser passado apenas um trabalho pra recuperação da nota, e não vai ser suficiente principalmente pra nós que vamos prestar vestibular”, afirmou.
Segundo o MEC, física tem o maior déficit do país. Só sete mil professores se formaram entre 2001 e 2008. Números do governo, no entanto, mostram que começa a aumentar a quantidade de alunos em faculdades que formam professores no país, principalmente porque mais cursos foram criados. “A prioridade é o professor porque nenhuma mudança na educação acontecerá sem o professor ou contra o professor”, Maria do Pilar.
fonte: http://g1.globo.com
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