segunda-feira, 5 de julho de 2010

Baixa valorização do professor é entrave, afirmam docentes

Carlos Lordelo, Carolina Stanisci e Paulo Saldaña
Clipping Educacional - O Estado de S.Paulo
Necessidade de ter de trabalhar em várias escolas impede que os mestres invistam em
Com 20 anos de magistério, Francisco Cordeiro fala com desânimo das condições encontradas nas salas de aula no ensino médio. Para ele, a falta de atenção na formação e valorização profissional e o desinteresse dos alunos é combinação que dificulta uma perspectiva otimista.
"O Estado precisa investir no profissional, para que ele se recicle e não precise trabalhar em quatro ou cinco escolas", diz ele. Professor de geografia, divide-se entre cinco escolas e dá 65 aulas semanais. "Sequer há respeito pelo professor", desabafa.
Como exemplifica Cordeiro, o baixo salário força os docentes a se desdobrarem em duplas jornadas. "Investir no professor seria o primeiro passo para melhorar a educação", afirma.
O professor de educação artística Claumir Rufini ressalta que a necessidade de trabalhar em mais de uma escola impossibilita que o professor consiga se reciclar fora do horário de aula. "É um ciclo", diz. "Há o déficit salarial, o professor tem de pegar mais aulas e não consegue ter uma formação continuada. Não dá tempo para organizar as aulas nem trocar ideias."
Rufini leciona há mais de 20 anos e acompanha os índices da educação. Para ele, apesar de os resultados da educação fundamental estarem evoluindo, ainda não refletem no ensino médio. "Você não consegue recuperar problemas acumulados há tantos anos." Para ele, seria ideal ter uma estrutura de reforço. Rufini entende que a progressão continuada - em que não há reprovação - desmobiliza o aluno.
Mais que um desinteresse pelas aulas, a professora Cláudia, que dá aulas de matemática e não quis revelar o sobrenome, percebe que a escola sofre descrédito por parte dos alunos. "Para a maioria, a escola não vai trazer frutos", diz ela, há 12 anos no magistério.
A professora de matemática Eudira Oliveira também encontra pouca motivação nos estudantes. "Eles veem o ensino pensando na profissão, mas não há investimento nessa abordagem." Para ela, faltam oficinas e referência ao mercado de trabalho. "Seria mais motivador."
Mercado. Quem consegue ingressar no mercado chega com dificuldades. Para o diretor de responsabilidade do Walmart, Paulo Mindlin, essa defasagem obriga que a empresa invista em treinamento. "A gente percebe dificuldades em português, matemática, na capacidade de se expressar", diz. "Às vezes, uma álgebra pode confundi-los." Durante o treinamento, há exercícios com jogos de palavras. "É importante que eles percebam a utilidade do viram na escola."
O presidente da empresa de tecnologia Alog, Sidney Breyer, conta que gasta, por ano, R$ 1 milhão em treinamento. "A gente não recebe as pessoas formadas", diz. Na TAM, a defasagem na preparação é atenuada por encontros semanais no Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee), em que os alunos aprendem matemática financeira. "Nosso desafio é capacitar esse jovem", diz a diretora de gestão de pessoas da companhia aérea, Carolina Duque.
fonte: http://www.estadao.com.br/

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