Marcia Vieira
Clipping Educacional - O Estado de São Paulo (05.09.2009)
A péssima avaliação dos cursos de Pedagogia divulgada pelo Ministério da Educação revela o tamanho da tragédia da educação brasileira
Vivemos um círculo vicioso. Basta se perguntar quem quer ser professor hoje. Os filhos da elite e da classe média, que estudam em bons colégios particulares, fogem da carreira.
Professor não tem prestígio na sociedade. Os salários estão abaixo dos oferecidos a médicos, advogados, economistas. As vagas nas faculdades de Pedagogia atraem os filhos de classes mais baixas. Não só porque é fácil passar no vestibular, mas por não faltar emprego. O País vive uma carência de professores em todos os níveis da rede pública. Justamente por isso a baixa qualidade dos cursos de Pedagogia compromete os resultados da educação brasileira. Eles formam mal os professores que vão ensinar nas escolas públicas. Na opinião de educadores, a saída do círculo vicioso está no ensino fundamental. Ou o Brasil investe nisso ou vai continuar com resultados pífios.
A Pontifícia Universidade Católica do Rio, que tem o melhor curso de Pedagogia do País, com a nota máxima, mostra que há esperança para mudar o quadro. Quase 100% dos seus alunos são bolsistas, vindos de parcerias com vestibulares comunitários da Baixada Fluminense, bolsão de pobreza do Rio. São jovens que estudaram em colégios públicos e chegaram a uma das universidades mais caras do Rio incapazes de entender os textos teóricos que precisam ler. Cometem erros primários, como de concordância verbal, e têm dificuldade para escrever.
Mas a PUC consegue fazer com que em quatro anos eles saiam preparados para passar o conhecimento adiante.
Zaia Brandão, doutora em Educação e professora de Pedagogia da Universidade, resume este esforço conjunto do aluno e do professor. "Esses jovens não tiveram um ensino fundamental decente. Sonegar isso de novo, na faculdade, seria uma enorme injustiça social."Como já foi amplamente divultado, o Ministério da Educação avaliou com notas ruins a maior parte dos cursos superiores que formam professores de ensino médio na capital. De cada 4 cursos das disciplinas de física, química, matemática, história, geografia, filosofia e letras, apenas 1 conseguiu ficar no conceito 4 ou 5 (os melhores da avaliação).
Ao todo, 77 cursos de licenciatura receberam nota no teste: 58 deles (ou 75% do total) tiveram notas entre 1 e 3, enquanto apenas 19 cursos (25%) ficaram com nos conceitos bons.
A avaliação ruim segue tendência do país todo. A maioria das faculdades e universidades em que os futuros professores de ensino médio estão estudando não é boa, segundo a avaliação. 1978 cursos dessas áreas tiveram nota no Enade, mas só 412 (21%) foram bem na avaliação.
O professor da Faculdade de Educação da USP, Ocimar Munhoz Alavarse vê os números com preocupação e pede medidas drásticas e urgentes para reverter o quadro. "O MEC precisa impedir que esses cursos existam. Talvez até o Ministério Público tenha que entrar em cena", afirma.
Ele diz que é necessário investimento para reciclagem os profissionais e que, durante 15 anos, houve uma política pública de incentivo à instalação de cursos universitários no Brasil, muitos sem ter condição de existirem. "Houve um lobby muito grande e isso precisa ser revertido agora", diz Alavarse.
Na capital, o curso que mais teve notas ruins foi letras. Dos 21 cursos, 14 foram mal. A única disciplina que teve mais notas boas do que ruins foi filosofia. Em física e química, nenhum dos cursos da cidade conseguiu se sair bem.
A Uniban, que figura em diversos dos cursos mal avaliados, fala que o desempenho das universidades particulares é afetado por mais um fator: "os alunos do ensino superior privado vem majoritariamente do ensino básico público prejudicados, pela formação que obtiveram. São as universidades particulares que acolhem esses alunos. Por outro lado as instituições publicas, em razão dos rigorosos processos seletivos instituídos, atendem quase que exclusivamente os egressos do ensino básico privado, melhor formados", diz a instituição, em nota.
Fonte: http://e-educador.com/
A péssima avaliação dos cursos de Pedagogia divulgada pelo Ministério da Educação revela o tamanho da tragédia da educação brasileira
Vivemos um círculo vicioso. Basta se perguntar quem quer ser professor hoje. Os filhos da elite e da classe média, que estudam em bons colégios particulares, fogem da carreira.
Professor não tem prestígio na sociedade. Os salários estão abaixo dos oferecidos a médicos, advogados, economistas. As vagas nas faculdades de Pedagogia atraem os filhos de classes mais baixas. Não só porque é fácil passar no vestibular, mas por não faltar emprego. O País vive uma carência de professores em todos os níveis da rede pública. Justamente por isso a baixa qualidade dos cursos de Pedagogia compromete os resultados da educação brasileira. Eles formam mal os professores que vão ensinar nas escolas públicas. Na opinião de educadores, a saída do círculo vicioso está no ensino fundamental. Ou o Brasil investe nisso ou vai continuar com resultados pífios.
A Pontifícia Universidade Católica do Rio, que tem o melhor curso de Pedagogia do País, com a nota máxima, mostra que há esperança para mudar o quadro. Quase 100% dos seus alunos são bolsistas, vindos de parcerias com vestibulares comunitários da Baixada Fluminense, bolsão de pobreza do Rio. São jovens que estudaram em colégios públicos e chegaram a uma das universidades mais caras do Rio incapazes de entender os textos teóricos que precisam ler. Cometem erros primários, como de concordância verbal, e têm dificuldade para escrever.
Mas a PUC consegue fazer com que em quatro anos eles saiam preparados para passar o conhecimento adiante.
Zaia Brandão, doutora em Educação e professora de Pedagogia da Universidade, resume este esforço conjunto do aluno e do professor. "Esses jovens não tiveram um ensino fundamental decente. Sonegar isso de novo, na faculdade, seria uma enorme injustiça social."Como já foi amplamente divultado, o Ministério da Educação avaliou com notas ruins a maior parte dos cursos superiores que formam professores de ensino médio na capital. De cada 4 cursos das disciplinas de física, química, matemática, história, geografia, filosofia e letras, apenas 1 conseguiu ficar no conceito 4 ou 5 (os melhores da avaliação).
Ao todo, 77 cursos de licenciatura receberam nota no teste: 58 deles (ou 75% do total) tiveram notas entre 1 e 3, enquanto apenas 19 cursos (25%) ficaram com nos conceitos bons.
A avaliação ruim segue tendência do país todo. A maioria das faculdades e universidades em que os futuros professores de ensino médio estão estudando não é boa, segundo a avaliação. 1978 cursos dessas áreas tiveram nota no Enade, mas só 412 (21%) foram bem na avaliação.
O professor da Faculdade de Educação da USP, Ocimar Munhoz Alavarse vê os números com preocupação e pede medidas drásticas e urgentes para reverter o quadro. "O MEC precisa impedir que esses cursos existam. Talvez até o Ministério Público tenha que entrar em cena", afirma.
Ele diz que é necessário investimento para reciclagem os profissionais e que, durante 15 anos, houve uma política pública de incentivo à instalação de cursos universitários no Brasil, muitos sem ter condição de existirem. "Houve um lobby muito grande e isso precisa ser revertido agora", diz Alavarse.
Na capital, o curso que mais teve notas ruins foi letras. Dos 21 cursos, 14 foram mal. A única disciplina que teve mais notas boas do que ruins foi filosofia. Em física e química, nenhum dos cursos da cidade conseguiu se sair bem.
A Uniban, que figura em diversos dos cursos mal avaliados, fala que o desempenho das universidades particulares é afetado por mais um fator: "os alunos do ensino superior privado vem majoritariamente do ensino básico público prejudicados, pela formação que obtiveram. São as universidades particulares que acolhem esses alunos. Por outro lado as instituições publicas, em razão dos rigorosos processos seletivos instituídos, atendem quase que exclusivamente os egressos do ensino básico privado, melhor formados", diz a instituição, em nota.
Fonte: http://e-educador.com/
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