Rosely Sayão
[...] MUITAS ESCOLAS EVITAM DESAGRADAR A SEUS ALUNOS; MAS EDUCAR NÃO IMPLICA, NECESSARIAMENTE, DESAGRADAR?
Uma notícia publicada em jornais chamou a atenção de uma leitora. O Tribunal de Justiça do Rio decidiu que uma menina receberá aproximadamente R$ 7.000 de indenização por ter sido retirada da sala de aula em dia de prova. O motivo?Estava sem uniforme. O que a leitora questiona é se a Justiça não está desqualificando a autoridade da escola e, dessa maneira, acentuando ainda mais as já existentes atitudes de desrespeito ao espaço escolar.Ela tem uma filha que cursa a 6ª série em uma escola em que o diretor vai implantar o uso do uniforme. O problema é que os alunos não aceitam a ideia e o diretor aguarda a adesão deles à proposta, já que não quer fazer uma imposição. E nossa leitora reclama porque, para ela, algumas coisas devem ser, simplesmente, acatadas.Para ela, o uso do uniforme é um desses casos, já que os alunos realizam um verdadeiro desfile de moda na escola por conta do consumismo. A reflexão de nossa leitora é a respeito do enfraquecimento da autoridade da família e da escola.Em primeiro lugar, vamos lembrar que muitas atitudes de transgressão que os alunos cometem na escola são provocadas pela própria instituição. No caso da aluna que receberá a indenização, por exemplo, a explicação dada para não usar o uniforme é que não havia um disponível no tamanho dela.No caso da escola que a filha de nossa leitora frequenta, apesar de o uso ser obrigatório segundo o caderno de normas e procedimentos distribuído no início do ano, a própria escola abriu o precedente, já que não havia uniforme para todos. Depois de um tempo indo às aulas com roupas casuais, os alunos não aceitam a mudança.Pode haver ou não uma boa justificativa para o uso do uniforme. Uma delas é a citada pela leitora: evitar que os alunos usem e abusem das roupas para excluir colegas, zombar deles, fazer desfiles de grifes. Mas não basta decretar o uso e esperar que todos respeitem a norma. É preciso trabalhar para que ela seja cumprida.Acontece que as escolas guardam a ideia obsoleta de que a punição é a melhor medida em educação. Quando alunos comparecem sem uniforme, são impedidos de frequentar as aulas. Mas, se o objetivo da escola é que o aluno aprenda e se, para tanto, precisa estar nas aulas, tal medida é equivocada. Por que não deixar algumas peças na secretaria e emprestá-las aos que vão sem uniforme? Essa e outras medidas podem ter caráter educativo.Muitas escolas evitam, também, desagradar a seus alunos.Ora, mas educar não implica, necessariamente, desagradar?A criança quer brincar, mas precisa estudar; quer se distrair, mas precisa aprender a se concentrar; quer atenção exclusiva, mas precisa conviver e compartilhar; quer dormir, mas precisa acordar etc.Inicialmente, a criança permite ser educada por medo de deixar de ser amada pelos pais.Mas, pelo jeito, hoje o medo é dos adultos: os pais temem perder o amor dos filhos, as escolas temem perder seus alunos...Com medo, não dá mesmo para exercer a autoridade e, sem ela, não dá para educar.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)rosely.sayao@grupofolha.com.brblogdaroselysayao.blog.uol.com.br
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br
Uma notícia publicada em jornais chamou a atenção de uma leitora. O Tribunal de Justiça do Rio decidiu que uma menina receberá aproximadamente R$ 7.000 de indenização por ter sido retirada da sala de aula em dia de prova. O motivo?Estava sem uniforme. O que a leitora questiona é se a Justiça não está desqualificando a autoridade da escola e, dessa maneira, acentuando ainda mais as já existentes atitudes de desrespeito ao espaço escolar.Ela tem uma filha que cursa a 6ª série em uma escola em que o diretor vai implantar o uso do uniforme. O problema é que os alunos não aceitam a ideia e o diretor aguarda a adesão deles à proposta, já que não quer fazer uma imposição. E nossa leitora reclama porque, para ela, algumas coisas devem ser, simplesmente, acatadas.Para ela, o uso do uniforme é um desses casos, já que os alunos realizam um verdadeiro desfile de moda na escola por conta do consumismo. A reflexão de nossa leitora é a respeito do enfraquecimento da autoridade da família e da escola.Em primeiro lugar, vamos lembrar que muitas atitudes de transgressão que os alunos cometem na escola são provocadas pela própria instituição. No caso da aluna que receberá a indenização, por exemplo, a explicação dada para não usar o uniforme é que não havia um disponível no tamanho dela.No caso da escola que a filha de nossa leitora frequenta, apesar de o uso ser obrigatório segundo o caderno de normas e procedimentos distribuído no início do ano, a própria escola abriu o precedente, já que não havia uniforme para todos. Depois de um tempo indo às aulas com roupas casuais, os alunos não aceitam a mudança.Pode haver ou não uma boa justificativa para o uso do uniforme. Uma delas é a citada pela leitora: evitar que os alunos usem e abusem das roupas para excluir colegas, zombar deles, fazer desfiles de grifes. Mas não basta decretar o uso e esperar que todos respeitem a norma. É preciso trabalhar para que ela seja cumprida.Acontece que as escolas guardam a ideia obsoleta de que a punição é a melhor medida em educação. Quando alunos comparecem sem uniforme, são impedidos de frequentar as aulas. Mas, se o objetivo da escola é que o aluno aprenda e se, para tanto, precisa estar nas aulas, tal medida é equivocada. Por que não deixar algumas peças na secretaria e emprestá-las aos que vão sem uniforme? Essa e outras medidas podem ter caráter educativo.Muitas escolas evitam, também, desagradar a seus alunos.Ora, mas educar não implica, necessariamente, desagradar?A criança quer brincar, mas precisa estudar; quer se distrair, mas precisa aprender a se concentrar; quer atenção exclusiva, mas precisa conviver e compartilhar; quer dormir, mas precisa acordar etc.Inicialmente, a criança permite ser educada por medo de deixar de ser amada pelos pais.Mas, pelo jeito, hoje o medo é dos adultos: os pais temem perder o amor dos filhos, as escolas temem perder seus alunos...Com medo, não dá mesmo para exercer a autoridade e, sem ela, não dá para educar.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)rosely.sayao@grupofolha.com.brblogdaroselysayao.blog.uol.com.br
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br
A POLÍTICA EDUCACIONAL DO MEDO
ResponderExcluirClaudeci Ferreira de Andrade
Ocorreu-me que naquela manhã, fui chamado para dar explicações sobre a nota baixa da aluna comportada. Só comportada? Parece-me que até era evangélica! Todavia, o que importa aqui é que ela reivindicava nota 10. Esquecera de mostrar-me a sua atividade em tempo hábil, mas não queria “fazer feio”. Então, a coordenadora joga diante de mim um caderno mal aparentado, ali tinha um pequeno texto com uma caligrafia horrível, porém entendi perfeitamente as acusações que continha aquela “bomba”: não queriam perseguição. E havia a expressa ameaça de chamar a impressa, falar com qualquer que seja, levar o assunto à Secretaria de Educação, com certeza, caso a filha não ficasse com dez no boletim. Era a sua mãe, dando-nos lições de “justiça”. E não faltou quem a apoiasse, uns por medo do “problema” se avolumar; outros para evidenciar que a escola morre de medo diante da comunidade.
Meu erro foi querer manter minha palavra, não quebrar minhas próprias leis, pensando eu que estava sendo um educador exemplar e amoroso, sabendo que “a lei protege o amor; não o leva cativo” (Dick Winn). Mesmo depois da mágica sugestão da gestora escolar, que me pedia para passar outra atividade, alegando à aluna maior momento de reflexão e aprendizado; cuidando da minha reputação e da reputação da escola, perpetuando a cultura do medo de parecer “mal na fita” ou simplismente clamando por tal justiça, é, até que gostei! Só a coordenadora se recusava, para também fazer valer a sua proposta inicial que era dar nota na atividade atrasada da aluna, já que fizera, sem mesmo respeitar as considerações medrosas do professor. Mas, também, outros alunos descompromissados com a decência e a ordem foram lá para pôr “lenha na fogueira”! O que a coordenadora não percebeu é que o caso já estava em uma estância maior, era uma sugestão da diretora. Um medo suplantava o outro.
Dei à aluna em questão uma nova atividade: fazer um texto de tudo que tinha aprendido sobre o entusiasmo. Estava coerente com a discíplina de filosofia, afinal foi isso que tratei, também, em nossas aulas desse primeiro bimestre. Depois, ela me entregou um texto evasivo, daqueles que se faz só para ganhar nota! Viabilizei o seu dez o mais rápido possível, confirmando assim a política educacional do medo.
A comunidade nos mete medo! Será que temos motivos para isso?