quarta-feira, 1 de abril de 2009

MEC propõe que Enem substitua vestibular de 55 universidades federais

O Ministério da Educação anunciou uma nova proposta para o Enem que poderá substituir o vestibular das 55 universidades federais e de instituições estaduais que adotarem a medida
Clipping Educacional - Agência Brasil (30.03.2009)
Segundo o ministro Fernando Haddad, o exame teria 200 questões de múltipla escolha e uma redação e seria aplicado em dois dias. Atualmente, o Enem tem 63 questões e uma redação.
No novo formato, as questões seriam divididas em quatro grupos: linguagens (incluindo português, inglês e a redação), matemática, ciências humanas e ciências da natureza. No entanto, como a maior parte das universidades aplica vestibular duas vezes por ano, não se descarta a possibilidade de o Enem ser aplicado mais de uma vez no ano. A idéia é que o mesmo seja aplicado pelo menos duas vezes por ano, anunciou ontem o ministro Fernando Haddad. A ideia é realizar um teste por semestre, na mesma data, em todo o País.
Haddad enviou nota aos reitores das federais com a proposta do novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ele se reunirá com os dirigentes, na próxima segunda-feira, para discutir a medida. Como as universidades têm autonomia para definir as formas de ingresso, a substituição só valerá nas instituições que aderirem ao novo sistema.
"Funciona bem em países desenvolvidos", disse Haddad. O novo Enem permitirá o ingresso em todas as universidades públicas ou privadas que aderirem.
A proposta é inspirada no Scholastic Assessment Test (SAT), teste aplicado nos EUA.
A ideia é a seguinte: o candidato faz a prova do Enem em qualquer Estado e recebe uma nota. Na outra ponta, cada universidade determina a pontuação mínima para ingresso em seus cursos. Essa nota de corte poderá variar em diferentes instituições e cursos. Assim, um estudante do Rio que obtenha nota para ingressar numa faculdade de medicina do Ceará, por exemplo, poderá matricular-se naquele Estado. E vice-versa.
O ministro afirmou que isso dará mais mobilidade aos estudantes, beneficiando alunos que não têm dinheiro para arriscar vestibulares em outras cidades.
Segundo ele, só 0,04% dos calouros frequentam a universidade em outro Estado. O governo deverá aumentar os repasses de assistência estudantil às universidades que aderirem. A medida servirá de estímulo para que elas abram mão da arrecadação com as taxas de vestibulares.
A proposta é que a nova prova seja realizada pela primeira vez em outubro, num sábado e num domingo, avaliando quatro áreas: linguagens, com questões de língua portuguesa, língua estrangeira e redação; matemática; ciências humanas; e ciências da natureza. Cada teste teria 50 questões de múltipla escolha. Os critérios de uso dos resultados ficam a cargo das instituições.
De acordo com o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Reynaldo Fernandes, os critérios do exame ainda serão discutidos. Ele, no entanto, adianta que o resultado obtido pelo estudante em um exame continuará válido mesmo após a aplicação de outro Enem. "Ele só vai refazer [o Enem] para aumentar a pontuação", explicou.
Fernandes acrescentou que o modelo será usado como uma espécie de "pesca" por parte do estudante, que poderá escolher a universidade onde deseja estudar, de acordo com a nota que obtiver na prova. Para o ministro Haddad, o novo formato do Enem permitirá maior mobilidade dos alunos entre as unidades da Federação.
Segundo ele, apenas 0,04% dos estudantes matriculados no primeiro ano do ensino superior têm origem em estado diferente da unidade da federação onde estudam. "Nos Estados Unidos, 20% dos alunos são oriundos de estados diferentes de onde cursam a universidade", comparou.
Uma nota técnica com a proposta foi enviada na noite de segunda (30) para análise da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). A ideia é unificar o acesso às vagas em universidades federais e estaduais, mas, como têm autonomia, as instituições podem aderir ou não ao novo Enem.
Segundo o ministro, o presidente da Andifes, Amaro Lins, disse que pretende fazer uma reunião com os reitores, provavelmente na semana que vem, para debater o assunto. "A ideia é superar o vestibular tradicional e que as universidades participem também do processo de realização do Enem. Já temos alguns conteúdos que consideramos necessários para serem cobrados, mas a discussão com as universidades será aberta", disse o ministro.
Haddad, porém, destacou que o Enem não impede a realização de outras etapas de um processo seletivo para ingresso na universidade. Ou seja, o Enem poderia servir como uma primeira fase do vestibular e as universidades teriam a possibilidade de instituir uma segunda fase do processo seletivo por contra própria.
Haddad disse ainda que o novo Enem poderia acabar com a sobreposição de avaliações. "Acabaríamos com o Enade [exame do governo federal para avaliar o aluno do ensino superior] para os ingressantes nas universidades e também o Encceja do ensino médio [exame do governo federal para os cursos de jovens e adultos]", disse o ministro, lembrando que o MEC tem condições de implementar a medida ainda este ano, caso tenha o aval das universidades.
O ministro explicou que o objetivo da unificação do vestibular é reestruturar os currículos do ensino médio em todo o país, que, atualmente, costumam ser focados no vestibular das universidades em cada Estado. Ele defendeu que a mudança criará "um novo conceito de ensino" no país, deixando de favorecer os candidatos de maior poder aquisitivo, "capazes de diversificar suas opções na disputa por uma das vagas oferecidas".

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