rosely sayão
Castigo, punição, consequência. Essas palavras não saem da cabeça e do vocabulário de mães e de pais. Por que será que sempre pensamos nelas quando algumas de nossas atitudes não funcionam com nossos filhos, ou sempre que eles desobedecem às ordens dos pais, transgridem as regras familiares ou da casa, fazem coisas que não deveriam ou não fazem as que deveriam?
Talvez porque, sem reconhecer isso com clareza, consideremos que o sofrimento imposto a eles seja educativo, quer dizer, que ensine algo. Por isso, vamos refletir a esse respeito e, principalmente, mostrar as diferenças entre as três palavras.
O conceito de castigo e de punição são semelhantes: o objetivo dessas ações dos pais são, sempre, fazer com que o filho -independentemente da idade- sofra e associe esse sofrimento ao ato que o antecedeu, para não repeti-lo.
O maior problema do castigo é que quase sempre ele é aplicado aos filhos justamente nos momentos em que os pais estão bem alterados pelo que o filho fez. Em clima de intensas emoções, o castigo pode ser exagerado e nem sempre os pais conseguem reverter a situação, por receio de perder a autoridade.
Dou um exemplo: a filha de 13 anos de uma jovem mulher abusou do uso do celular e estourou a conta. A mãe, então, decidiu proibir a ida à festa que a garota esperava ansiosamente. A mãe arrependeu-se depois, mas aí já era tarde. E, no mês seguinte, a garota extrapolou a conta novamente, além de cometer outras transgressões por ter ficado revoltada com a decisão da mãe.
Um outro problema do castigo é que, em geral, ele não é previamente combinado com o filho, o que o deixa um tanto quanto perdido. Imagine, caro leitor, você entrar em um jogo sem saber ao certo as regras dele, tampouco as faltas e as penalidades correspondentes. Difícil, não é? Pois é isso o que ocorre com os mais novos: eles podem até saber, em teoria, o que devem ou não devem fazer, mas sem conhecer o contexto das transgressões vão cometê-las sem considerar as possíveis consequências e sem avaliar se vale ou não a pena cometê-las.
Castigo e punição funcionam de vez em quando, mas pouco ensinam porque quase nunca têm relação com o ato anteriormente praticado. Já a consequência tem um sentido diferente, justamente porque mostra uma ligação estreita entre o ato e o que vem após ele. E isso, muitas vezes, é natural, ou seja, a própria vida se encarrega de aplicar.
Vou voltar ao esporte: quando um jogador comete uma falta que prejudica o adversário, a penalidade em geral oferece uma vantagem ao último, o que acaba por prejudicar também o time do jogador que cometeu a falta. Mas, de vez em quando, o jogador avalia o risco e comete a falta mesmo sabendo da consequência, por considerar que vale a pena pagar a penalidade.
A mesma coisa acontece com os filhos: se há jogo, é de se esperar a transgressão, mesmo tendo sido tudo previamente combinado.
A vida sempre ensina que, a cada escolha que fazemos, temos consequências: algumas delas são benéficas, outras prejudiciais e outras neutras. Os filhos precisam entender isso, e os pais, que os mais novos nem sempre fazem as melhores escolhas, porque há motivos e impossibilidades que os levam a fazer as escolhas possíveis ou desejadas naquele contexto, mesmo que elas tragam consequências ruins.
Educar é ensinar aos mais novos como a vida é, e não mostrar como vivê-la. É isso que os pais devem considerar ao aplicar um castigo, uma consequência ou, simplesmente, mostrar ao filho o que a escolha feita acarretou na vida dele.
fonte: http://www1.folha.uol.com.br/
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