terça-feira, 26 de maio de 2015

Ensino fraco faz estudante da rede pública buscar cursinho mais cedo

THAIS BILENKY
FELIPE SOUZA
Clipping Educacional - DE SÃO PAULO
Descrentes do ensino público, alunos da rede estadual não confiam no próprio currículo para começar a vida adulta e veem na greve dos professores um fator a mais para o desânimo diário.
É o que relatam jovens de ensino médio ouvidos pela Folha desde o início da paralisação dos docentes, que já completa 70 dias.
Boa parte demonstra falta de perspectiva em relação ao ensino superior e afirma que não prestará vestibular.
Outra parcela, decidida a fazer faculdade, tem adiantado a entrada em cursinhos —que servem de reforço para alunos cada vez mais novos.

Danilo Verpa/Folhapress

A estudante Letícia Souza, 17, não pretende fazer vestibular


"Mesmo se não tivesse perdido quatro anos da minha vida, não ia querer fazer faculdade. É o sonho da minha mãe, mas quero fazer alguma coisa que dê dinheiro", diz João Vitor Zagati, 18, que repetiu duas vezes a oitava série, passou um ano sem estudar e, recentemente, entrou em um supletivo noturno.
Quando acabar o curso, ele quer abrir uma loja.
Letícia Souza, 17, afirma que a falta de motivação com a escola piorou com a greve docente. "Acordar cedo para ter só duas aulas? Desanima." Seu plano para depois que terminar o colégio é trabalhar como cabeleireira.
Já a estudante Brenda Maria, 16, não pretende desistir de fazer faculdade. Mas ela acha que, para conseguir uma vaga no ensino superior, precisará começar o cursinho ainda no segundo ano.
"Na minha sala tem muita gente que deveria voltar para o ensino fundamental", diz. Matheus Lima, 17, concorda: "A gente só começa a estudar no cursinho".

AULA EXTRA

A necessidade de reforçar o ensino oferecido pela escola fez cursos pré-vestibulares adaptarem as estruturas.
O Cursinho da Poli, vinculado à Escola Politécnica da USP, tem 90% dos alunos vindos de escolas públicas.
Antes, era comum receber estudantes a partir dos 17 anos. Agora, 20% dos alunos têm entre 15 e 16 anos.

Eduardo Knapp/Folhapress

A estudante Ellen Silva, 15, que está no 2º ano e já começou a fazer cursinho


"Contratamos um orientador profissional, um psicólogo e um assistente social para orientar esses adolescentes. Agora, temos a necessidade de nos relacionar com os pais, como se fôssemos uma escola mesmo", conta o diretor, Gilberto Alvarez.
Um dos coordenadores do Anglo, Fernando Augusto Nassori afirma que o crescimento da procura de cursinhos por alunos de escolas públicas é impulsionado pelas políticas de inclusão criadas nos últimos anos.
"O Enem e as cotas para quem estudou em escolas públicas deixam esses alunos com mais chances de entrar na universidades. Antes, mesmo se fizessem cursinho, eles concorriam com pessoas de escolas particulares."
Ellen Silva, 15, ainda está no segundo ano do ensino médio numa escola estadual na zona norte. Mas já começou a fazer um cursinho pré-vestibular gratuito.
Ela acredita que a paralisação dos professores reforça a necessidade das aulas extras. "A maioria das matérias que estou vendo é nova."
fonte: http://www1.folha.uol.com.br/

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