quarta-feira, 3 de outubro de 2012

REFLEXÕES SOBRE O ENSINO MÉDIO EM SP, POR VANESSA LUIZ CAVALCANTE

Clipping Educacional - CPP
"Em 2011, 40% dos alunos que frequentaram o ensino médio desistiram por falta de interesse" 
A educação brasileira apresenta inúmeros problemas que impedem o êxito do processo de ensino e aprendizagem conforme são apontados cotidianamente pela mídia, pelos resultados dos exames nacionais e pelo próprio conhecimento adquirido na prática pelos alunos. Dentre os níveis de ensino mais polêmicos, focalizo neste artigo a questão do novo modelo de ensino médio no Estado de São Paulo.
De acordo com o IBGE 2011, 40% dos alunos que frequentam o ensino médio desistem por falta de interesse e 24% por razões de trabalho, o que torna este nível de ensino muito preocupante. Diante disso, ressalta-se que a grande questão desse nível de ensino é manter os alunos até o final do ciclo e fazer com que eles realmente aprendam.
Nessa perspectiva, o Programa Educação Compromisso de São Paulo que está em andamento em 16 escolas estaduais desde fevereiro deste ano - projeto piloto inspirado no Ginásio Pernambuco -, é uma parceria público privada entre a Secretaria Estadual de Educação e o Instituto Unibanco que teria como meta melhorar a qualidade do ensino com o aumento do turno escolar. Segundo a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, neste modelo de educação alunos estudam 9 horas por dia, frequentam as aulas das disciplinas obrigatórias acrescidas de disciplinas eletivas escolhidas de acordo com o interesse do aluno. Há orientação de estudo e elaboração de um projeto de vida e os professores, neste caso, dedicam-se integralmente a este projeto.
Esse modelo de ensino tem sido concebido com divergências entre professores, alunos, pesquisadores e empresariado - conforme demostrado nitidamente no debate promovido pelo Observatório da Educação na ONG Ação Educativa no dia 23 de setembro de 2012.
As críticas praticamente se referem a forma verticalizada como a Secretaria de Educação conduz os projetos junto as escolas, ou seja, as vozes que deveriam estar presentes na elaboração desta nova proposta não foram ouvidas, a escola integral do ponto de vista do aluno pode agregar conhecimento ao mesmo, porém, restringe seu vínculo de amizade e aprendizagem apenas ao ambiente escolar. Por outro lado, muitos adolescentes necessitam trabalhar e estudar o que seria inviável, além disso, há questões legais sérias relacionadas a contratação do professor em período integral.
Diante do exposto, torna-se necessário refletirmos: será que o ensino médio integral, da forma como está sendo implementado nas escolas paulistas, vai resolver ou amenizar as grandes mazelas desse ensino? Esta proposta é coerente, no momento, com a realidade dos adolescentes brasileiros?
Mesmo percebendo a importância da educação integral, digna, inclusive, de mérito em países desenvolvidos, cabe repensar se a forma como está sendo colocado nas escolas estaduais paulistas é a mais plausível e mais, se a instituição empresarial financiando em parte o projeto, possuem objetivos coerentes com a formação 
humana do aluno e não somente para o mercado de trabalho.
Ponto de Vista de Vanessa Luiz Cavalcante é pedagoga e mestra em Educação pela PUC-SP.
fonte: http://www.cpp.org.br

0 comentários:

Postar um comentário