segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Horror em São Caetano - Violência cresce entre os muros das escolas

Cristina Christiano 
Clipping Educacional - Diário de S. Paulo, 23/09
Casos de agressões, que estão no topo das ocorrências, aumentam 30% por semestre
A tragédia na Escola Municipal Professora Alcina Dantas Feijão, em São Caetano do Sul (ABC), onde um aluno de 10 anos se matou após atirar na professora dentro da sala de aula, serviu para aumentar ainda mais o clima de insegurança entre docentes das redes pública e particular de São Paulo.
"O quadro de violência está crescendo a cada dia e, hoje, não existe mais um perfil único do aluno que agride", afirma a presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo), Maria Izabel Azevedo Noronha.
Exemplo disso é o perfil do menino que protagonizou a tragédia de quinta-feira. Davi Mota Nogueira, aluno do 4 ano do ensino fundamental, é descrito por amigos como uma criança tímida, que frequentava igreja evangélica e tinha família presente e estruturada.
Segundo o Observatório da Violência da Apeoesp, nos últimos três anos os casos de agressões em salas de aula cresceram, em média, 30% por semestre. Para se ter uma ideia da gravidade, até julho deste ano foram registradas 300 relatos e ataques verbais e físicos em escolas. Porém, estima-se que o número seja ainda maior porque a maioria dos professores desiste da denúncia por medo de perseguição.
Um levantamento feito pela Apeoesp em 2007 - e considerado atual ainda hoje - revela que 86,8% dos professores afirmam já ter observado pelo menos um caso de violência dentro da escola. Segundo a pesquisa, os alunos foram responsáveis por 93% dos episódios de agressão.
A pesquisa mostra também que não são apenas eles quem praticam as agressões. Pelos relatos, 32% dos casos foram protagonizados por desconhecidos, 25% por pais, 16% por professores, 11% por diretores e 10% por funcionários.

Ataques 
Pelos relatos analisados, a maior parte dos casos de violência observados refere-se a agressões verbais (93%). Episódios de vandalismo foram testemunhados por 88% dos entrevistados, enquanto os de agressões físicas chegaram a 82%. Também constam do relatório os casos de furto, presenciado por 76%. Nessa pesquisa foram ouvidos 684 delegados da Apeoesp.
Recentemente, diz José Maria Canceliero, presidente da Centro do Professorado Paulista, o nome de uma mestra foi pixado no muro de escola em Parada de Taipas, Zona Norte, com a frase "você vai morrer". Ela não voltou mais à escola.

Insegurança afasta docentes
Muitos dos professores que prestam concurso público acabam desistindo da profissão no primeiro caso de violência que presenciam. A constatação é de Aloísio Alves da Silva, diretor do Sinpro ABC (Sindicato do Professores). "Quando se deparam com a realidade das salas de aula eles se sentem impotentes", diz.
Aloísio cita o caso de uma professora que, após ser vítima de agressão, ficou tão insegura que passa mal só de ouvir falar o nome da escola onde trabalhava. "Ela chega a desviar o percurso só para não passar perto", conta.
Segundo levantamento da Apeoesp, 29% dos professores que sofrem agressões deixam de ir à escola por insegurança. Outros acabam até adoecendo.
"A família não tem sido presente e não verifica o que os filhos levam à escola. Os professores têm de deixar de passar conhecimentos para fazer a educação básica", alerta Aloísio.

Análise: Maria Izabel Azevedo Noronha, presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo
Violência em escola até quando?

O país, estarrecido, tomou conhecimento de mais um caso grave de violência dentro de uma unidade escolar. Desta vez foi na Escola Municipal Professora Alcina Dantas Feijão, onde uma criança de 10 anos entrou armada, atirou na professora em sala de aula e matou-se.
O que deve nos preocupar e mobilizar toda a sociedade é o fato de que têm sido crescentes e cada vez mais graves os casos de violência nas escolas. De atos de indisciplina, agressões verbais e conflitos leves, as ocorrências evoluíram para agressões e, agora, com o uso de arma.
Levantamentos realizados pela Apeoesp e registros do nosso Observatório da Violência mostram a ocorrência de novos casos a cada mês, além de muitos outros que não são notificados. Recentemente, o professor Antonio Mário Cardoso da Silva, da Escola Estadual Soldado José Iamamoto, de Diadema (ABC), sofreu agressão física após conter um aluno que tentava ingressar na sala de aula após o horário e por ter chamado seus pais para conversar.
É preciso que professores, pais e toda a sociedade construam uma verdadeira aliança, para reduzir drasticamente a escalada de violência, cobrando das autoridades que tornem a escola mais atraente para os alunos e, assim, cumprir a sua função: educar para a cidadania.
A Apeoesp tem feito campanhas contra a violência nas escolas. Queremos mais diálogo, mais segurança no entorno das unidades, uma gestão democrática que atraia a comunidade para ajudar a gerir a instituição e participe da definição de suas políticas. Mas também mais funcionários, pois o enxugamento do quadro de pessoal sobrecarrega professores com tarefas que não são próprias da função. Não é papel do professor chamar a atenção do aluno que quer entrar atrasado. 
Desestimulado de frequentar uma escola que considera sem atrativos e distante de sua realidade e sem perspectivas, o aluno agride aquele que o chama a nela permanecer e estudar. Devemos buscar novas perspectivas para a escola pública, potencializar e generalizar projetos inovadores e bem sucedidos, para que a escola possa cumprir sua função social, sem que tenhamos de assistir novos casos de violência como os que vêm ocorrendo.

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