RICARDO SEMLER
Para um mundo melhor, a ética tem de voltar para os currículos escolares de forma transdisplicinarFiquei com medo, depois me arrependi. Tinha ido falar para a empresa de um ricaço russo e ele me convidou para conhecer sua fazenda na Sibéria. Declinei, meu voo era na mesma noite. Ele esclareceu: daria tempo, iríamos no seu Mig.
Desde então conheci vários dos barões -todos "amigos" do Putin, e fiquei envergonhado de ter ido até Moscou. Lembrei de encontros similares com coreanos, chineses e indianos, todos amigos do rei, quase todos com passado nebuloso. Depois, me lembrei do Brasil. Pegue-se os três maiores dos seguintes ramos: fundos de pensão, construtoras, bancos, private equities e grupos familiares, e tem-se uma parcela substantiva e vergonhosa do patrimônio nacional em poucas mãos.
A relação incestuosa é gritante: bancos donos de empresas, empresas com investimento do BNDES, private equities em oligopólios, bancos sócios dos private equities e o BNDES, novamente, em tudo.
Os Brics têm em comum grandes grupos, quase todos -91% deles- composto de famílias apoiadas pelo governo. A Coreia começou isso abertamente, criando familías-negócio ("chaebols") e uma rede tentacular de concentração econômica. O Brasil segue essa linha.
O mundo civilizado também era assim há cem anos, e os "robber barons" -barões ladrões- como Rockfeller ou Carnegie limparam seus nomes através das gerações, fazendo filantropia. Os brasileiros começam a se preocupar com isso através de programas cosméticos empacotados de responsabilidade social. Mas quase todos têm origens que envolveram favores ou proteção.
Os Brics representam um tsunami econômico que está diluindo Europa e EUA, que já tinham se livrado dessa relação impura -o capitalismo selvagem está jogando ondas por cima do socialismo brando que imperou nas últimas décadas. Os Brics são os novos-ricos e o mundo promete piorar agora que os hunos invadem a civilização.
O Brasil venera espertos. Se alguém fizer um cruzamento entre os mais reverenciados nas colunas sociais e processos no Judiciário e na polícia, verá enorme coincidência.
Lembram da patética matéria de educação moral e cívica? Precisa voltar. Não naquele formato hipócrita, mas com a ética com papel transdisciplinar na escola. É lá que precisamos responder como o Brasil do futuro quer lidar com riqueza e poder. Em vez de babar para quem tem um tênis caro, vale pensar sobre regras limpas.
O mundo demorou mais de século para se sofisticar, apenas para ser vítima de um tsunami de "insiders" que fará afundar esse progresso. Será assim até que consigamos colocar, novamente, a cabeça para fora da água turva.
RICARDO SEMLER, 51, é empresário. Foi scholar da Harvard Law School e professor de MBA no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Foi escolhido pelo Fórum Econômico de Davos como um dos Líderes Globais do Amanhã. Escreveu dois livros ("Virando a Própria Mesa" e "Você Está Louco") que venderam juntos 2 milhões de cópias em 34 línguas.
fonte: http://sergyovitro.blogspot.com/
No fundo, no fundo a gente sabe que isto acontece. Mas enquanto lia, eu lembrei que morava em uma cidade pequena no interior de SPaulo, quando trabalhei em um banco. Isso nos idos 80. Eu era bem nova na época, estava no meu 2º emprego. Aprendi a conhecer os clientes e percebi que muitas famílias ditas ricas, viviam de empréstimos, os famosos papagaios. Alguns com negócios herdados, eram os donos da cidade, a quem os mais simples se curvavam e tratavam por doutor. O que muita gente n sabia é que essas empresas estavam se aguentando com empréstimos, que além de tudo serviam também para manter o status da família, a bela casa, os carros, o título do clube social. Eram empréstimos q n eram pagos e qdo venciam eram facilmente renovados. Na época eu achava q era ignorante demais p entender aquela economia e política bancária q beneficiava gente, pelo seu status. Claro que gerente/sub-gerente ganhavam comissão, convites para freqüentar o meio social dos ricaços, presentes, etc. Por sorte, a maioria da classe média e pessoas mais simples, tinham orgulho de lá ir e bater o dinheiro, mesmo q n todo, pra amortecer suas contas. A injustiça ia mais longe, tinha um jurinho diferenciado para quem, em princípio, não precisava. Algumas empresas abriam concordata, imaginem os coitados dos funcionários. Histórias q estamos cansados de ver. Sem falar q na época muitas dessas pessoas c dinheiro, conseguiam empréstimos da caixa econômica para comprar imóveis, mais de um, q se pagavam por si. O aluguel pagava a merreca no bco e ainda dava lucro ao proprietário esperto. Foi uma época q realmente quem tinha boas amizades, muitas de interesse, a famosa "mão q lava a outra" fazia um bom pé de meia. N acredito q esses esquemas tenham acabado.
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