quarta-feira, 6 de abril de 2011

Conselho quer autonomia para escola de ensino médio

Ocimara Balmant, Especial para o Estado
Clipping Educacional - O Estado de S.Paulo
Se a proposta das novas diretrizes para o ensino médio for aprovada hoje pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), cada escola terá autonomia para escolher quais disciplinas terão mais espaço em sua grade curricular. "Queremos dar uma cara para a escola, fazer com que cada uma tenha o seu sotaque", afirma José Fernandes de Lima, relator das diretrizes e membro da Câmara de Educação Básica do CNE.
Segundo o projeto, conta Lima, toda escola poderá optar por uma entre quatro áreas de atuação: ciência, tecnologia, cultura e trabalho. Escolhida a ênfase, a instituição montará um currículo próprio de forma a dar mais espaço a disciplinas afins. Nenhuma matéria da base nacional comum - como língua portuguesa e matemática - poderá ficar de fora, mas a carga horária poderá esticar ou encolher, de acordo com a vocação da escola.
Hoje, a carga mínima no ensino médio é de 2,4 mil horas, divididas na base comum e na parte diversificada. O aluno tem de cumprir 75% da carga horária (1,8 mil horas) com as disciplinas tradicionais e os outros 25% (600 horas) na parte diversificada, com conteúdo definido à critério da escola. O que as novas diretrizes preveem é que, além desse tempo que já é eletivo, a escola possa adequar as disciplinas da base comum de acordo com seu interesse.
Na escola que optar por dar ênfase à cultura, por exemplo, terão prioridade disciplinas como história, português e geografia. Isso não significa que matemática será extinta do currículo, mas que perderá espaço na grade. Em vez de quatro aulas de matemática e duas de história, o colégio poderá inverter essa equação.
Mesmo a carga mínima das disciplinas de base comum será ministrada sob medida. Na área de cultura, as aulas de língua portuguesa podem enfocar manifestações literárias, movimentos musicais etc. A mesma disciplina, na escola que optou por dar ênfase à ciência, vai tratar, prioritariamente, de interpretação de textos científicos.
"Estamos debatendo possibilidades que já existem na legislação. A proposta é valorizar o projeto político-pedagógico. Queremos mostrar que a escola pode definir o seu destino", diz Lima.
A escolha da ênfase, segundo o relator, deve respeitar as características dos alunos da região e as instalações físicas da instituição. Nos casos em que o estudante não estiver satisfeito com a área de atuação, ele deve procura outro estabelecimento. É o caso, por exemplo, de um aluno que pretende estudar Medicina e mora próximo a uma escola que dá ênfase à cultura.
Operacional. "Como o principal motivo de evasão do ensino médio é a falta de interesse, deixá-lo escolher o que gosta pode fazer com que ele se empenhe mais. O problema, no entanto, é a questão operacional. O aluno terá vaga garantida na escola que escolher?", pondera Marcelo Neri, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Para Ilona Becskeházy, diretora da Fundação Lemann, como não há um currículo nacional, o aluno não sabe o que está escolhendo. "Flexibilizam o que ainda não está estruturado. O que o aluno terá como conteúdo mínimo será ancorado em quê? No currículo que será construído, ou estamos fazendo uma adequação, já que 90% dos alunos saem do ensino médio sem aprender o que era esperado, como mostrou a Prova Brasil?", diz ela. "Enquanto a elite estuda para ir para as melhores faculdades do País, o pobre vai aprender artes regionais por que ele tem de trabalhar logo? A renda é mais importante que a bagagem?"
fonte: http://www.estadao.com.br/

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