quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Opinião: Progressão continuada não pode perpetuar erros do ensino

Ana Cássia Maturano
Clipping Educacional - Especial para o G1, em São Paulo
Novo secretário de Educação de SP anunciou mudanças no sistema. Ouvir profissionais da rede é fundamental para conseguir melhorias.
Um povo consegue mudanças pela ação própria. Para isso, ele precisa se desenvolver de maneira autônoma e pensar sobre o mundo e as coisas. Só assim saberá do que realmente precisa, considerando não só a si, mas toda a coletividade. Livre de preconceitos e ideias erradas.
Para um país crescer e ser justo, é necessário que as pessoas que fazem parte dele tenham uma participação ativa. O que não significa todos tomando as decisões a todo o momento. Para isso, existem os representantes que são eleitos por voto direto.
Porém, é necessário que elas acompanhem os acontecimentos para que fiquem a par das decisões que são tomadas em relação às suas vidas. Em condições de discernir o que é necessário daquilo que não é. O que prejudica a população como um todo daquilo que propicia a ela uma vida digna, com condições de sempre se desenvolver mais. Com a compreensão de que a maior mudança dependerá muito mais de cada um que de qualquer outro.
O caminho para se ter um povo pensante e atuante é a educação. Sem uma educação de qualidade, principalmente a básica – que vai permitir que o indivíduo decida que rumo tomar de maneira consciente – não se chega a lugar algum. Esse é o grande desafio de qualquer governante.
Mesmo desafio que o governo de São Paulo diz ver na educação do estado. O novo secretário dessa pasta, Herman Voorwald, já pensa em mudanças na educação básica. Mas ainda chovendo no molhado.
O que se sabe é que se pretende manter a progressão continuada, mas com uma diferença. No atual sistema, o aluno não pode repetir de ano (principal causa da evasão escolar), só podendo ocorrer nos 5.º e 9.º anos do ensino fundamental. Agora, a ideia é incluir um novo ciclo. Desta forma, consideram que as dificuldades dos alunos seriam mais rapidamente recuperadas.
Mesmo assim, elas vão se perpetuando, principalmente se o sistema não prevê ajuda específica e pontual para os alunos que não estão respondendo como o esperado. Às vezes, uma classe inteira tem dificuldade, necessitando de uma reformulação no modo como os professores estão propiciando o aprendizado.
Por isso, seria muito interessante certa autonomia dos professores em relação as suas ações. Com diretrizes bem definidas – todos em qualquer profissão precisam disso – mas com possibilidade de fazer o que é melhor para sua turma. Com recursos e suportes outros, como profissionais especializados em áreas afins que possam atuar com os alunos que não conseguem caminhar em seu aprendizado.
E um salário que permita ao mesmo professor ter uma vida digna, sem a necessidade de se desdobrar em várias escolas, chegando correndo aos seus compromissos. Um professor tem que se dedicar a sua turma. Construir com ela um jeito de ensinar e aprender. De verdade.
A educação básica é um desafio e tanto. De todo modo, parece que o novo secretário pretende fazer algo fundamental para realizar mudanças – ouvir a rede. Mais que ser algo democrático (afinal, vivemos em uma democracia!), não dá para ser de outro jeito. Só quem vive o dia a dia da sala de aula pode dizer das dificuldades e problemas enfrentados. E, é claro, sugerir o que pode ser feito – e o que dá para ser feito.
Outro aspecto interessante em seu discurso é que ele diz que pretende fazer as coisas sem pressa. É isso aí. Não dá para mudar nada da noite para o dia, principalmente na rede pública de ensino que é bastante grande. Basta lembrarmos de toda a confusão que foi o Enem. Boa sorte ao novo secretário e que ele consiga realizar as mudanças necessárias.
(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)

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