Sarah Fernandes
Clipping Educacional - Portal Aprendiz
O Brasil precisa melhorar a infraestrutura das escolas, aumentar os salários dos professores e aprimorar as condições de trabalho nas unidades de ensino para elevar seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), uma vez que Educação foi o indicador de pior desempenho do país. A avaliação é do economista Rogério Carlos Borges, consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), responsável pelo índice.
O Brasil apresenta o 73º maior IDH entre 169 países avaliados no ranking do Relatório de Desenvolvimento Humano, divulgado na última quarta-feira (4/11). Os cinco primeiros colocados são Noruega, Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Irlanda. O cinco últimos são Zimbábue, República Democrática do Congo, Níger, Mali e Burkina Faso.
Na América Latina, o Brasil ocupa a 11ª posição, atrás de países como Barbados, Bahamas, Chile e Argentina, que lideram o ranking na região. “O ponto mais crítico é educação. O Brasil tem uma média de anos de escolaridade de 7,2 e a média de anos de estudo esperados do brasileiro é de 13,8”, diz Borges.
Confira a entrevista concedida ao Portal Aprendiz.
Portal Aprendiz - Na sua avaliação, o que representa o Brasil ocupar o 73º lugar no ranking do IDH? A que se deve o aumento de quatro posições no ranking entre 2009 e 2010?
Rogério Carlos Borges - Essa posição no ranking coloca o Brasil no grupo dos países de alto desenvolvimento. Do ano passado para cá, o país conquistou quatro posições e isso se deve a avanços em todas as dimensões analisadas, que são saúde, educação e renda. Não foram todos os países que alcançaram tanto em desenvolvimento humano.
Aprendiz – Por que o Brasil, apesar de apresentar uma das economias mais fortes da América Latina, fica atrás de 10 países da região no ranking do IDH?
Borges – As dimensões de expectativa de vida, educação e renda estão abaixo desses países de uma forma geral. O relatório mostra que o Brasil tem melhor renda do que indicadores sociais, ou seja, a renda não é nosso ponto fraco, mas os indicadores sociais sim.
Melhoramos em algumas áreas, como em expectativa de vida, que subiu muito nos últimos dez anos. Em 2000 era uma média de 70,2 anos e em 2010 é de 72,9 anos. Porém, o ponto mais crítico é educação. O Brasil tem uma média de anos de escolaridade de 7,2 e a média de anos de estudo esperados do brasileiro é de 13,8. É na educação que se deve concentrar mais atenção as politicas publicas e investimentos.
Aprendiz – São os investimentos que precisam ser intensificados para que o Brasil tenha um desenvolvimento humano condizente com a sua economia?
Borges - O Brasil investiu 5,2% no PIB [Produto interno Bruto] em educação e 3,5 % em saúde. Se considerarmos a Argentina, o país mais comparado com o Brasil, ela investiu 4,9% do PIB em educação e 5,11% em saúde. Ou seja, o Brasil investe pouco em saúde e muito em educação, em relação à América Latina. Agora é importante pensar na qualidade dos serviços e em como esses recursos estão sendo utilizados. Na saúde, porém, acredito que o investimento tenha que ser maior.
Aprendiz - Esse quadro pode significar falta de interesse em investir em políticas de educação?
Borges - Não diria que falta interesse, pois já foi dado um pontapé inicial. No Brasil existem vários indicadores e várias avaliações que têm monitorado a educação. Isso mostra uma vontade política de melhorar, iniciando por um primeiro passo, que é avaliar como estamos, medindo os rendimentos por escolas. Esse trabalho, como qualquer política, demora para refletir no IDH. Investindo hoje o reflexo vai ser a médio prazo, daqui 3, 5 ou 10 anos.
Aprendiz – Que medidas em educação que o Brasil deve adotar para elevar o seu IDH?
Borges – Acredito que agora é focar na qualidade. Investir na melhoria dos salários e das condições de trabalho dos professores e na infraestrutura das escolas. É preciso que os investimentos sejam direcionados para recursos materiais e humanos.
Aprendiz – Por que as dimensões de renda e longevidade tiveram melhor desempenho que educação?
Borges – Por causa da nossa economia, que depois do Plano Real começou a se estabilizar. Temos um país estável, de economia forte. Outro fator são os programas sociais, como o Bolsa Família, que contribuem para o aumento da renda. É um multiplicador da economia: ela está mais estável e as pessoas estão com mais dinheiro. Isso acaba aumentando o consumo e o acesso a serviços básicos.
Aprendiz – Quais foram às mudanças nos indicadores para calcular o IDH?
Borges – O indicador de renda deixou de utilizar o PIB per capito e passou para a Renda Nacional Bruta. Isso porque o PIB não reflete necessariamente o padrão de vida das pessoas. Um cidadão que vive próximo a uma multinacional nem sempre se beneficia com o que é produzido.
O indicador de educação deixou de ser a taxa de alfabetização e passou a utilizar a média de anos de estudo. Antes, as pessoas que tinham dois anos de estudo e as que tinham formação universitária eram colocadas na mesma categoria. Os anos de estudo conseguem mensurar melhor essas diferenças. Também foi usado o indicador de anos de escolaridade esperada, que reflete a qualidade, mensurando evasão, reprovação e abandono. O indicador de saúde continua sendo a expectativa de vida.
Aprendiz – Quais as demais mudanças na metodologia para calcular o IDH?
Borges – Houve mudanças na normalização e no cálculo. Na normalização, os valores mínimos e máximos dos indicadores deixaram de ser estabelecidos meio que aleatoriamente e passaram a ser baseados nos valores observados. O cálculo deixou de ser por média aritmética, que soma os três índices e divide por três, e passou a ser calculado por média geométrica. Isso porque a aritmética pode puxar o IDH de um país para cima se ao menos uma das médias for elevada.
Aprendiz – Por que foram feitas as mudanças?
Borges – Para que o IDH seja um retrato mais fidedigno das condições de vida no país. Foi uma revisão de 20 anos, ouvindo muitas críticas, colocações e sugestões. Tecnicamente ele está melhor, mas não está mais tão simples de compreender, o que era um diferencial do IDH.
fonte: http://aprendiz.uol.com.br
O Brasil precisa melhorar a infraestrutura das escolas, aumentar os salários dos professores e aprimorar as condições de trabalho nas unidades de ensino para elevar seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), uma vez que Educação foi o indicador de pior desempenho do país. A avaliação é do economista Rogério Carlos Borges, consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), responsável pelo índice.
O Brasil apresenta o 73º maior IDH entre 169 países avaliados no ranking do Relatório de Desenvolvimento Humano, divulgado na última quarta-feira (4/11). Os cinco primeiros colocados são Noruega, Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Irlanda. O cinco últimos são Zimbábue, República Democrática do Congo, Níger, Mali e Burkina Faso.
Na América Latina, o Brasil ocupa a 11ª posição, atrás de países como Barbados, Bahamas, Chile e Argentina, que lideram o ranking na região. “O ponto mais crítico é educação. O Brasil tem uma média de anos de escolaridade de 7,2 e a média de anos de estudo esperados do brasileiro é de 13,8”, diz Borges.
Confira a entrevista concedida ao Portal Aprendiz.
Portal Aprendiz - Na sua avaliação, o que representa o Brasil ocupar o 73º lugar no ranking do IDH? A que se deve o aumento de quatro posições no ranking entre 2009 e 2010?
Rogério Carlos Borges - Essa posição no ranking coloca o Brasil no grupo dos países de alto desenvolvimento. Do ano passado para cá, o país conquistou quatro posições e isso se deve a avanços em todas as dimensões analisadas, que são saúde, educação e renda. Não foram todos os países que alcançaram tanto em desenvolvimento humano.
Aprendiz – Por que o Brasil, apesar de apresentar uma das economias mais fortes da América Latina, fica atrás de 10 países da região no ranking do IDH?
Borges – As dimensões de expectativa de vida, educação e renda estão abaixo desses países de uma forma geral. O relatório mostra que o Brasil tem melhor renda do que indicadores sociais, ou seja, a renda não é nosso ponto fraco, mas os indicadores sociais sim.
Melhoramos em algumas áreas, como em expectativa de vida, que subiu muito nos últimos dez anos. Em 2000 era uma média de 70,2 anos e em 2010 é de 72,9 anos. Porém, o ponto mais crítico é educação. O Brasil tem uma média de anos de escolaridade de 7,2 e a média de anos de estudo esperados do brasileiro é de 13,8. É na educação que se deve concentrar mais atenção as politicas publicas e investimentos.
Aprendiz – São os investimentos que precisam ser intensificados para que o Brasil tenha um desenvolvimento humano condizente com a sua economia?
Borges - O Brasil investiu 5,2% no PIB [Produto interno Bruto] em educação e 3,5 % em saúde. Se considerarmos a Argentina, o país mais comparado com o Brasil, ela investiu 4,9% do PIB em educação e 5,11% em saúde. Ou seja, o Brasil investe pouco em saúde e muito em educação, em relação à América Latina. Agora é importante pensar na qualidade dos serviços e em como esses recursos estão sendo utilizados. Na saúde, porém, acredito que o investimento tenha que ser maior.
Aprendiz - Esse quadro pode significar falta de interesse em investir em políticas de educação?
Borges - Não diria que falta interesse, pois já foi dado um pontapé inicial. No Brasil existem vários indicadores e várias avaliações que têm monitorado a educação. Isso mostra uma vontade política de melhorar, iniciando por um primeiro passo, que é avaliar como estamos, medindo os rendimentos por escolas. Esse trabalho, como qualquer política, demora para refletir no IDH. Investindo hoje o reflexo vai ser a médio prazo, daqui 3, 5 ou 10 anos.
Aprendiz – Que medidas em educação que o Brasil deve adotar para elevar o seu IDH?
Borges – Acredito que agora é focar na qualidade. Investir na melhoria dos salários e das condições de trabalho dos professores e na infraestrutura das escolas. É preciso que os investimentos sejam direcionados para recursos materiais e humanos.
Aprendiz – Por que as dimensões de renda e longevidade tiveram melhor desempenho que educação?
Borges – Por causa da nossa economia, que depois do Plano Real começou a se estabilizar. Temos um país estável, de economia forte. Outro fator são os programas sociais, como o Bolsa Família, que contribuem para o aumento da renda. É um multiplicador da economia: ela está mais estável e as pessoas estão com mais dinheiro. Isso acaba aumentando o consumo e o acesso a serviços básicos.
Aprendiz – Quais foram às mudanças nos indicadores para calcular o IDH?
Borges – O indicador de renda deixou de utilizar o PIB per capito e passou para a Renda Nacional Bruta. Isso porque o PIB não reflete necessariamente o padrão de vida das pessoas. Um cidadão que vive próximo a uma multinacional nem sempre se beneficia com o que é produzido.
O indicador de educação deixou de ser a taxa de alfabetização e passou a utilizar a média de anos de estudo. Antes, as pessoas que tinham dois anos de estudo e as que tinham formação universitária eram colocadas na mesma categoria. Os anos de estudo conseguem mensurar melhor essas diferenças. Também foi usado o indicador de anos de escolaridade esperada, que reflete a qualidade, mensurando evasão, reprovação e abandono. O indicador de saúde continua sendo a expectativa de vida.
Aprendiz – Quais as demais mudanças na metodologia para calcular o IDH?
Borges – Houve mudanças na normalização e no cálculo. Na normalização, os valores mínimos e máximos dos indicadores deixaram de ser estabelecidos meio que aleatoriamente e passaram a ser baseados nos valores observados. O cálculo deixou de ser por média aritmética, que soma os três índices e divide por três, e passou a ser calculado por média geométrica. Isso porque a aritmética pode puxar o IDH de um país para cima se ao menos uma das médias for elevada.
Aprendiz – Por que foram feitas as mudanças?
Borges – Para que o IDH seja um retrato mais fidedigno das condições de vida no país. Foi uma revisão de 20 anos, ouvindo muitas críticas, colocações e sugestões. Tecnicamente ele está melhor, mas não está mais tão simples de compreender, o que era um diferencial do IDH.
fonte: http://aprendiz.uol.com.br
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