Bruno Villas Bôas
Clipping Educacional - O Globo
RIO - Uma nova geração de brasileiros começa a ser educada nas escolas para aprender a lidar com dinheiro e planejar seus gastos pessoais, uma tarefa considerada complicada mesmo para adultos. Nas salas de aulas, os antigos exercícios ganham outras formas: maçãs e trenzinhos viram compras no supermercado e financiamento de automóveis. Neste mês, 900 escolas públicas de cinco estados - Rio, São Paulo, Distrito Federal, Ceará e Tocantins - começam a transmitir conceitos de educação financeira nas classes do ensino médio, uma prática adotada pelos colégios particulares há alguns anos.
Segundo educadores, as aulas chegam com atraso, mas em boa hora. Nunca os jovens tiveram tanto acesso a serviços bancários, mas também nunca se endividaram tanto. Segundo dados da Fecomércio-Rio, 10% dos jovens brasileiros entre 16 e 24 anos estão atrasados no pagamento de alguma de suas dívidas. Em abril, esse percentual chegou a bater 13%.
Rogério Bastos, diretor da consultoria de planejamento financeiro FinPlan, diz que os jovens precisam aprender cedo conceitos de finanças para se tornarem consumidores mais conscientes no futuro:
- É melhor aprender numa situação de conforto, como na infância, do que com problemas financeiros depois de adulto.
Qualidade do ensino preocupa especialistas
O programa Educação Financeira nas Escolas faz parte da Estratégia Nacional de Educação Financeira do governo federal, que envolve órgãos ligados ao próprio governo e à iniciativa privada. Um grupo de trabalho foi criado em 2007 e recriado outras duas vezes até tirar o programa do papel. Enquanto isso, colégios particulares começaram a ensinar educação financeira a seus alunos, na faixa dos 10 aos 13 anos, passando conceitos de renda, despesas e poupança.
No Centro Educacional da Lagoa (CEL), por exemplo, as aulas envolvem gastos com alimentação, higiene e roupas, contam os alunos Isabela Alves e João Pedro, de 11 e 12 anos. A professora ensina a diferença entre o que eles querem comprar e o que realmente precisam ter.
Também aluno do CEL, Paulo Victor, de 11 anos, fala que conseguiu economizar a mesada neste ano para comprar uma bola de futebol. Juntou até agora R$ 350, o suficiente para comprar sete bolas da Copa do Mundo, a Jabulani:
- Na hora de comprar, achei melhor guardar o dinheiro para uma emergência - explica.
Bruno Franco, de 13 anos, aluno do Colégio Anglo-Americano, está aprendendo a calcular a compra de um imóvel e de um carro na aula de matemática financeira. Ele decidiu guardar sua mesada para uma viagem à Disney no fim deste ano.
- Comecei a juntar e tenho mais ou menos R$ 200. Vou juntar mais para a viagem. Se não encontrar nada que queira muito lá, vou continuar juntando - afirma Bruno.
Mas o ensino de finanças nas escolas não é uma unanimidade entre os especialistas. Eles alertam que é preciso ter cuidado na elaboração do material didático e preparo dos professores, que podem não ser familiarizados com o assunto. É preciso, sobretudo, de muito, muito bom senso.
Em um colégio particular da Zona Sul do Rio, por exemplo, uma professora mostrou aos alunos quanto custaria completar o álbum da Copa do Mundo. Seria algo como R$ 200, incluindo figurinhas repetidas. Muitos alunos perderam o interesse no álbum. Os que fizeram, passaram a vender as figurinhas repetidas no recreio. A do Kaká, por exemplo, saía por R$ 3. Uma figurinha comprada na banca custava 15 centavos.
- Não é bom quando na vida a gente começa a achar que o dinheiro é mais importante ou que as relações pessoais são fundamentadas em dinheiro - diz Cássia D'Aquino, especialista em educação financeira e autora de livros sobre o assunto.
Para ela, cabe aos pais o papel da educação financeira dos jovens, e não às escolas. Por isso, Cássia defende que o programa terá um efeito mínimo nos alunos:
- Existe um excesso de expectativa para o programa - afirma a educadora.
Cássia lembra que a escola pública brasileira já não consegue cumprir "seu papel de escola", com avaliações piores do que países como Bolívia e Paraguai. Na sua opinião, o governo deveria se preocupar em melhor regular os bancos para criar limites de concessão de créditos e endividamento dos jovens.
Livros serão usados em diferentes disciplinas
No programa do governo, professores foram preparados nos últimos meses com aulas presenciais e por uma página na internet, mantida pelo Instituto Unibanco. A impressão dos livros dos professores atrasou por um problema na gráfica, o que teria sido resolvido em maio. O programa espera que um professor eduque o outro, num conceito multiplicador.
Já os livros dos alunos, muito ilustrados, têm um conceito de hipertexto, com mais de 70 situações didáticas. Inclui calendário de planejamento de despesas, noções de desperdício e mesmo cálculos para gastos de uma festa. Os livros serão aplicados em diferentes matérias da grade curricular, sem que haja uma aula específica de finanças.
No primeiro semestre do ano que vem, a educação financeira deve ser estendida ao ensino fundamental.
fonte: http://oglobo.globo.com
RIO - Uma nova geração de brasileiros começa a ser educada nas escolas para aprender a lidar com dinheiro e planejar seus gastos pessoais, uma tarefa considerada complicada mesmo para adultos. Nas salas de aulas, os antigos exercícios ganham outras formas: maçãs e trenzinhos viram compras no supermercado e financiamento de automóveis. Neste mês, 900 escolas públicas de cinco estados - Rio, São Paulo, Distrito Federal, Ceará e Tocantins - começam a transmitir conceitos de educação financeira nas classes do ensino médio, uma prática adotada pelos colégios particulares há alguns anos.
Segundo educadores, as aulas chegam com atraso, mas em boa hora. Nunca os jovens tiveram tanto acesso a serviços bancários, mas também nunca se endividaram tanto. Segundo dados da Fecomércio-Rio, 10% dos jovens brasileiros entre 16 e 24 anos estão atrasados no pagamento de alguma de suas dívidas. Em abril, esse percentual chegou a bater 13%.
Rogério Bastos, diretor da consultoria de planejamento financeiro FinPlan, diz que os jovens precisam aprender cedo conceitos de finanças para se tornarem consumidores mais conscientes no futuro:
- É melhor aprender numa situação de conforto, como na infância, do que com problemas financeiros depois de adulto.
Qualidade do ensino preocupa especialistas
O programa Educação Financeira nas Escolas faz parte da Estratégia Nacional de Educação Financeira do governo federal, que envolve órgãos ligados ao próprio governo e à iniciativa privada. Um grupo de trabalho foi criado em 2007 e recriado outras duas vezes até tirar o programa do papel. Enquanto isso, colégios particulares começaram a ensinar educação financeira a seus alunos, na faixa dos 10 aos 13 anos, passando conceitos de renda, despesas e poupança.
No Centro Educacional da Lagoa (CEL), por exemplo, as aulas envolvem gastos com alimentação, higiene e roupas, contam os alunos Isabela Alves e João Pedro, de 11 e 12 anos. A professora ensina a diferença entre o que eles querem comprar e o que realmente precisam ter.
Também aluno do CEL, Paulo Victor, de 11 anos, fala que conseguiu economizar a mesada neste ano para comprar uma bola de futebol. Juntou até agora R$ 350, o suficiente para comprar sete bolas da Copa do Mundo, a Jabulani:
- Na hora de comprar, achei melhor guardar o dinheiro para uma emergência - explica.
Bruno Franco, de 13 anos, aluno do Colégio Anglo-Americano, está aprendendo a calcular a compra de um imóvel e de um carro na aula de matemática financeira. Ele decidiu guardar sua mesada para uma viagem à Disney no fim deste ano.
- Comecei a juntar e tenho mais ou menos R$ 200. Vou juntar mais para a viagem. Se não encontrar nada que queira muito lá, vou continuar juntando - afirma Bruno.
Mas o ensino de finanças nas escolas não é uma unanimidade entre os especialistas. Eles alertam que é preciso ter cuidado na elaboração do material didático e preparo dos professores, que podem não ser familiarizados com o assunto. É preciso, sobretudo, de muito, muito bom senso.
Em um colégio particular da Zona Sul do Rio, por exemplo, uma professora mostrou aos alunos quanto custaria completar o álbum da Copa do Mundo. Seria algo como R$ 200, incluindo figurinhas repetidas. Muitos alunos perderam o interesse no álbum. Os que fizeram, passaram a vender as figurinhas repetidas no recreio. A do Kaká, por exemplo, saía por R$ 3. Uma figurinha comprada na banca custava 15 centavos.
- Não é bom quando na vida a gente começa a achar que o dinheiro é mais importante ou que as relações pessoais são fundamentadas em dinheiro - diz Cássia D'Aquino, especialista em educação financeira e autora de livros sobre o assunto.
Para ela, cabe aos pais o papel da educação financeira dos jovens, e não às escolas. Por isso, Cássia defende que o programa terá um efeito mínimo nos alunos:
- Existe um excesso de expectativa para o programa - afirma a educadora.
Cássia lembra que a escola pública brasileira já não consegue cumprir "seu papel de escola", com avaliações piores do que países como Bolívia e Paraguai. Na sua opinião, o governo deveria se preocupar em melhor regular os bancos para criar limites de concessão de créditos e endividamento dos jovens.
Livros serão usados em diferentes disciplinas
No programa do governo, professores foram preparados nos últimos meses com aulas presenciais e por uma página na internet, mantida pelo Instituto Unibanco. A impressão dos livros dos professores atrasou por um problema na gráfica, o que teria sido resolvido em maio. O programa espera que um professor eduque o outro, num conceito multiplicador.
Já os livros dos alunos, muito ilustrados, têm um conceito de hipertexto, com mais de 70 situações didáticas. Inclui calendário de planejamento de despesas, noções de desperdício e mesmo cálculos para gastos de uma festa. Os livros serão aplicados em diferentes matérias da grade curricular, sem que haja uma aula específica de finanças.
No primeiro semestre do ano que vem, a educação financeira deve ser estendida ao ensino fundamental.
fonte: http://oglobo.globo.com
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