terça-feira, 10 de agosto de 2010

Baixo grau de instrução dos pais interfere no desempenho escolar dos filhos

Nathalia Goulart
Clipping Educacional – Veja.com
Pesquisa inédita no Brasil analisa o comportamento e a saúde mental da população infanto-juvenil
“Nossos filhos se espelham em nós. Como querer que um filho leia, se os pais não lerem?", Marco Antônio Arruda, coordenador da pesquisa
No Brasil, quase 15 milhões de pessoas com mais de 15 anos são analfabetas. Esta realidade interfere diretamente no desempenho escolar de crianças e adolescentes, segundo levantamento apresentado nesta sexta-feira pelo Projeto Atenção Brasil, que, pela primeira vez, analisou o comportamento e a saúde mental da população infanto-juvenil brasileira.
De acordo com a pesquisa, filhos de pais analfabetos ou que não terminaram o ensino fundamental têm uma chance até 480% maior de ter baixo desempenho escolar quando comparados a filhos de pais com curso superior completo. Segundo os pesquisadores, a explicação para a essa influência está no estímulo que as crianças recebem dentro de casa.
“Nossos filhos se espelham em nós. Como querer que um filho leia, se os pais não lerem? O cérebro da criança é uma cidade com ruas e avenidas abertas, se não são utilizadas, estimuladas, essas vias se fecham, e se fecham para sempre”, explica Marco Antonio Arruda, neurologista da infância e adolescência e coordenador do Projeto Atenção Brasil. “Sem estímulo para a cultura e o saber, nossos filhos terão mais dificuldade para desenvolver o senso do belo”.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o índice de analfabetismo quando consideramos os analfabetos funcionais – aqueles com apenas quatro anos de estudos completos – sobe para 23,5%. Em relação ao entrevistados pelo Projeto Atenção Brasil, 20,1% dos chefes de família são analfabetos ou não terminaram o curso primário, 20,5% têm o curso primário completo ou o ginasial incompleto, 18,3% o ginásio completo ou o colegial incompleto, 31,3% o colegial completo ou o curso superior incompleto e apenas 9,7% o curso superior completo.
Mauro de Almeida, neurologista e pesquisador, analisa a influência dos pais na educação dos filhos: “A cultura é um fator fundamental para a saúde mental e a cultura e a educação estão intimamente ligadas. Pessoas com problemas culturais – agravados pela problemática econômica e social – tendem a ter uma família que reflete essas mesmas características”, opina o médico.
Para evitar que o baixo grau de instrução dos pais interfira diretamente na educação dos filhos, os médicos recomendam o estímulo contínuo à educação. “Os pais podem até ter pouco estudo, mas bem orientados eles podem fazer com que os filhos entendam a importância da escola”, acredita Almeida.
O Projeto Atenção Brasil foi desenvolvido pelo Instituto Glia, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, com a colaboração de pesquisadores da Universidade La Sapienza (Roma) e do Albert Einstein College of Medicine (EUA). Os pesquisadores entrevistaram pais e professores de 9.149 crianças e adolescentes entre 5 e 18 anos frequentando classes regulares do 1º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio em escolas particulares e públicas, de zona urbana e rural das cinco regiões do país. A partir dos resultados, foram identificados fatores de risco para a saúde mental e o desempenho escolar dessa parcela da população.
A amostra final da pesquisa foi de 5.961 crianças e adolescentes, pois foram considerados apenas os questionários completos, respondidos por pais e professores. O resultado da pesquisa será apresentado no III Congresso Aprender Criança, que acontece entre os dias 6 e 8 de agosto, em Ribeirão Preto (SP).
Fatores de risco – Além do capacidade de grau de escolaridade dos pais, o Projeto Atenção Brasil identificou outros fatores de risco que contribuem para o baixo desempenho escolas de crianças e adolescentes. Comparando-se meninos e meninas, eles têm 67% mais chances de obter notas baixas na escola que elas. Já entre crianças e adolescentes, os mais velhos apresentam 57% mais chances de obter mal desempenho que os mais novos. O uso de tabaco (74%) e álcool (47%) durante a gestação da criança também atrapalham na hora de garantir um bom desempenho na escola.
Fonte: http://veja.abril.com.br

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