terça-feira, 6 de julho de 2010

Uma professora indignada com a sociedade e as críticas contra o professor. Em resposta a Revista Veja

Sou professora do Estado do Paraná e fiquei indignada com a reportagem da jornalista Roberta de Abreu Lima “Aula Cronometrada”. É com grande pesar que vejo quão distante estão seus argumentos sobre as causas do mau desempenho escolar com as VERDADEIRAS razões que geram este panorama desalentador.
Não há necessidade de cronômetros, nem de especialistas para diagnosticas as falhas da educação. Há necessidade de todos os que pensam que:
“os professores é que são incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital” entrem numa sala de aula e observem a realidade brasileira. Que alunos são esses “repletos de estímulos” que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais inseridos na era digital?
Em que pais de famílias oriundas da pobreza trabalham tanto que não têm como acompanhar os filhos em suas atividades escolares, e pior em orientá-los para a vida? Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas essas que infelizmente são trazidas para dentro a maioria das escolas brasileiras. Está na hora dos professores se rebelarem contra as acusações que lhes são impostas. Problemas da sociedade deverão ser resolvidos pela sociedade e não somente pela escola.
Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos professores e não cumprir as obrigações fossem escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os alunos de hoje “repletos de estímulos”. Estímulos de quê? De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite, (quando o têm), brincando no Orkut, ou o que é ainda pior envolvidos nas drogas. Sem disciplina seguem perdidos na vida. Realmente, nada está bom. Porque o que essas crianças e jovens procuram é amor, atenção, orientação e disciplina.
Rememorando, o que tínhamos nós, os mais velhos, há uns anos atrás de estímulos? Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria. Esperança que se estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje os jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais. Para quê o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens? Quem,dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os amigos, de ir aos piqueniques, subir em árvores? E, nas aulas, havia respeito, amor pela pátria.. Cantávamos o hino nacional diariamente, tínhamos aulas “chatas” só na lousa e sabíamos ler, escrever e fazer contas com fluência. Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª. Série. Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E tínhamos motivação para isso.
Hoje, professores “incapazes” dão aulas na lousa, levam filmes, trabalham com tecnologia, trazem livros de literatura juvenil para leitura em sala-de-aula (o que às vezes resulta em uma revolução), levam alunos à biblioteca e outros locais educativos (benza, Deus, só os mais corajosos!) e,algumas escolas públicas onde a renda dos pais comporta, até à passeios interessantes, planejados, minuciosamente, como ir ao Beto Carrero. E, mesmo, assim, a indisciplina está presente, nada está bom. Além disso, esses mesmos professores “incapazes” elaboram atividades escolares como provas,planejamentos, correções nos fins-de-semana, tudo sem remuneração; Todos os profissionais têm direito a um intervalo que não é cronometrado quando estão cansados. Professores têm 10 m.de intervalo, onde tem que se escolher entre ir ao banheiro ou tomar às pressas o cafezinho. Todos os profissionais têm direito ao vale alimentação, professor tem que se sujeitar a um lanchinho, pago do próprio bolso, mesmo que trabalhe 40 h.semanais. E a saúde? É a única profissão que conheço que embora apresente atestado médico tem que repor as aulas. Plano de saúde? Muito precário.Há de se pensar, então, que são bem remunerados… Mera ilusão! Por isso, cada vez vemos menos profissionais nessa área, só permanecem os que realmente gostam de ensinar, os que estão aposentando-se e estão perplexos com as mudanças havidas no ensino nos últimos tempos e os que aguardam uma chance de “cair fora”.Todos devem ter vocação para Madre Teresa de Calcutá, porque por mais que esforcem-se em ministrar boas aulas, ainda ouvem alunos chamá-los de “vaca”,”puta”, “gordos “, “velhos” entre outras coisas. Como isso é motivante e temos ainda que ter forças para motivar. Mas, ainda não é tão grave. Temos notícias, dia-a-dia, até de agressões a professores por alunos. Futuramente, esses mesmos alunos, talvez agridam seus pais e familiares.
Lembro de um artigo lido, na revista Veja, de Cláudio de Moura Castro, que dizia que um país sucumbe quando o grau de incivilidade de seus cidadãos ultrapassa um certo limite. E acho que esse grau já ultrapassou. Chega de passar alunos que não merecem. Assim, nunca vão saber porque devem estudar e comportar-se na sala de aula; se passam sem estudar mesmo, diante de tantas chances, e com indisciplina. E isso é um crime! Vão passando série após série, e não sabem escrever nem fazer contas simples. Depois a sociedade os exclui, porque não passa a mão na cabeça. Ela é cruel e eles já são adultos.
Por que os alunos do Japão estudam? Por que há cronômetros? Os professores são mais capacitados? Talvez, mas o mais importante é porque há disciplina. E é isso que precisamos e não de cronômetros. Lembrando: o professor estadual só percorre sua íngreme carreira mediante cursos, capacitações que são realizadas, preferencialmente aos sábados. Portanto, a grande maioria dos professores está constantemente estudando e aprimorando-se.
Em vez de cronômetros precisamos de carteiras escolares, livros, materiais, quadras-esportivas cobertas (um luxo para a grande maioria de nossas escolas), e de lousas, sim, em melhores condições e em maior quantidade. Existem muitos colégios nesse Brasil afora que nem cadeiras possuem para os alunos sentarem. E é essa a nossa realidade! E, precisamos, também, urgentemente de educação para que tudo que for fornecido ao aluno não seja destruído por ele mesmo.
Em plena era digital, os professores ainda são obrigados a preencher os tais livros de chamada, à mão: sem erros, nem borrões (ô, coisa arcaica!), e ainda assim ouve-se falar em cronômetros. Francamente!
Passou da hora de todos abrirem os olhos e fazerem algo para evitar uma calamidade no país, futuramente. Os professores não são culpados de uma sociedade incivilizada e de bandidismo, e finalmente, se os professores até agora não responderam a todas as acusações de serem despreparados e “incapazes” de prender a atenção do aluno com aulas motivadoras é porque não tiveram TEMPO. Responder a essa reportagem custou-me metade do meu domingo, e duas turmas sem as provas corrigidas.
Referência: Enviado(anônimo) Carta escrita por uma professora que trabalha no Colegio Estadual Julio Mesquita, em resposta a matéria da revista Veja.
fonte: http://www.fenatracoop.com.br/

11 comentários:

  1. Sil, é realmente revoltante a situação de hoje, mas a revista Veja, nunca vai admitir que o problema começou no governo Neo Liberal do PSDB, pois todo o grupo Abril é anti PT e pró PSDB.
    O sistema atual de ensino, onde o aluno, mesmo sem condições tem que ser aprovado é um dos maiores absurdos que já vi. Somando-se a este, o estatuto do menor e do adolecente que em minha opinião deveria ser: Estatuto do menor, adolescente, menor abandonado e menor infrator. Pois apenas com este tipo de divisão, poderiamos encaminhar os delinquentes para uma correção coerente e manter as boas crianças no rumo certo.
    O governo também não quer ser responsável por estruturar melhor as políticas de ensino, pois educação nunca foi a prioridade deste governo.
    Quanto a matéria da revista Veja, ela tem toda cara de matéria paga, basta reparar nas entrelinhas.
    Em nossa época de escola, os pais nos ensinavam que deveriamos respeitar os profissionais da escola como autoridades. Os pais de hoje são os primeiros a insentivar os filhos a agredir os profissionais de ensino e ai daquele que levantar a vóz contra seus filhos.
    O que estes pais não percebem é que estão criando verdadeiros candidatos a marginais, onde eles mesmos poderão se tornar vítimas em potencial de alguns crimes destas crianças.
    O pior de tudo é que há um projeto para se levar a progressão continuada para o ensino médio, e nós veremos o monstro crescer.
    Mas nesta confusão toda tem um lado bom.
    Quando os profissionais de ensino desta geração forem morrendo, entrarão no céu com crédito, pois pagaram seus pecados com juros e correção.
    Um grande abraço
    Giba

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  2. é isso ai, concordo com o argumento, como educar se hoje alem de ensinar o professor tem que fazer o papel que a familia deve exercer antes que eles cheguem a idade escolar, e manter como parte integrante do filho-aluno.
    E tmbem sei que alguns pais vao dizer que nao tem como educar os filhos pois precisam trabalhar, mas culpar os professores tambem nao ajuda.Acho que precisamos valorizar cada vez mais essa profissao que é a base de todas as outras.Como ser medico, engenheiro sem o estudo?

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  3. E o que dizer da civilidade dos políticos que a séculos gerenciam, distorcem e manipulam recursos destinados à educação. Estamos colhendo os frutos da ingerência. Hoje, para mostrar ao mundo dados falsos de educação, exige-se que não se reprove. Os alunos e a sociedade já sabem que não podem ser reprovados. Estudar para quê? Políticos e atitudes dos espertalhões, estão provando que para se dar bem na vida, não é necessário estudar.

    Abaixo a revista Veja, um peíódico tendencioso, caro, destinado a elite e que vende muito mais propaganda do que informações realmente verdadeiras.

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  4. Oi,
    Silvana,
    amiga, belissíma resposta e não poderia ser diferente, acho que essa "tal" jornalista Roberta de Abreu, não frequentou os bancos das escolas públicas do nosso país e não tem noção do sacrifício que é ser professor no nosso amado Brazil e de Norte a Sul só mesmo por amor a profissão pois a desvalorização e a falta de respeito é uma vergonha nacional.
    Parabéns pelo post, beijos no coração e fica com Deus

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  5. Parabéns professora, também sou professor e conheço de perto o problema, nossa amiga da Veja deve não ter coisa melhor para fazer, deve ter medalhas de honra na profissão dela, diz para ela ficar um dia numa sala de aula, só um já basta, atuo na área profissionalizante, extinta pelo governo do Estado de São Paulo, que prefere ver os alunos na rua, ao invés de incentivar a profissionalização ele elimina os cursos que funcionavam na rede pública, principalmente o Sr. Serra, ainda quer ser presidente.

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  6. Olá...gostei muito do conteúdo desse blog, nos informa e ainda podemos compartilhar idéias!!Passsa lá no meu!!!Tia Amandinha

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  7. Parabéns para a Professora!! Pena não ter assinado! mas eu entendo...
    Eu li a reportagem, e fiqui indignada tanto quanto ela, na verdade, foi lido na sala de aula, na disciplina Políticas Publica para Educação, e todos os alunos e a profossora ficaram indignados. Estavamos descutindo, exatamentede, de quem é a culpa dos problemas educaionais,bem como da sociedade.Culpar somente o professor pelos problemas da educação, é no mínimo, uma irresponsabilidade.
    Mas, todos sabemos que a Veja é uma revista dentenciosa.
    Vou levar esta matéria para próxima aula.
    beijos!!

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  8. Ai que chato: teremos de trabalhar a toque de cronômetro! O que significa que...
    * atender aqueles que me pedem para tirar dúvidas - NEM PENSAR!
    * ou ouvir probleminhas da vida familiar - DEPOIS DO HORÁRIO, nem matando!;
    * saber que o pai está preso, que mãe é alcoólatra, que não sabe quem é o pai - BATIDO O HORÁRIO, esqueça!;
    * minimizar tensões, servir de polícia, assumir postura de assistente social - E O CRONÔMETRO DA AULA? Não mais!;
    * servir de muro de lamentações, de arrimo de dificuldades, de referência num mundo caótico - E O CRONÔMETRO - não dará mais tempo!;
    É, pensando bem, com essa ideia de CRONÔMETRO, talvez a aula se torne menos chata, o professor se torne um profissional e a escola se torne o balustre e a panaceia para os males da sociedade; quanto ao professor/a deixará ser humano; e os/as alunos/as deixarão de ser seres humanos em fase de construção.
    Ora, faça-me o favor quem o propôs!
    Até mais.

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  9. Gilson Maicá Oliveira08 julho, 2010 00:00

    Certamente o tempo perdido nas salas de aula com a indisciplina dos alunos revela grandes problemas na educação brasileira. Entretanto, estes problemas não se resumem, como talvez sugira a reportagem, "as aulas monótonas baseadas na velha lousa". O fato é que "a velha lousa" pode ser muito interessante sob certas circunstâncias. De mais a mais, a esmagadora maioria dos professores só dispõe dela para trabalhar. O problema da indisciplina, ao que me parece, guarda relações com fatores que vão muito além das salas de aula. A indisciplina envolve diversos aspectos (sociais, econômicos e emocionais) , que apenas em poucos casos estão relacionados aos métodos de ensino ou aos conteúdos trabalhados. Os professores são vítimas nesse processo, com salários aviltantes, precárias condições de trabalho (como salas de aula lotadas) , falta de aperfeiçoamento profissional e jornada de trabalho que não se limita a sala de aula (em algumas regiões professores chegam a 60 h em sala). Francamente, a reportagem é bastante simplista e superfial ao atacar o problema, revelando o total desconhecimento do assunto por parte da jornalista. Como diria o filósofo austríaco Wittgenstein "daquilo que não se sabe, é melhor se calar" para não falar bobagem. Em fim, a reportagem presta um desserviço a educação do País.

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  10. Todos procuram culpados sempre com interesses politicos, e no fundo a educação vai sendo apenas plataformas e ninguém faz nada ....a educação no Brasil ja foi melhor, muito melhor ... piorou em todos os sentidos ...

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  11. Saudações!
    Amiga Silvana:
    Mais um ótimo artigo que você nos presenteia!
    Bem, com certeza a professora que escreveu a carta está coberta de razão e sou solidário a todos os professores, educadores e demais profissionais que trabalham na área. Agora, penso que as origens desse problema se arrastam há décadas e já é tempo de se dar um basta nisso tudo. A educação já foi muito melhor e o que não se deve é ficar dizendo que foi esse ou aquele governo o responsável, o que todos precisam é respeitar e valorizar o trabalho desses profissionais que passam toda uma vida levando o pão da cultura a milhões de estudantes sedentos de sabedoria!
    Parabéns por mais uma excelente matéria!
    Abraços,
    LISON.

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