domingo, 4 de julho de 2010

''Escola tem de parecer boa aos olhos do aluno''

Mariana Mandelli
Clipping Educacional - O Estado de S.Paulo
Marcelo Cortes Neri, diretor do Centro de Políticas Sociais da FGV-RJ
Na quinta-feira, o Ministério da Educação (MEC) divulgou o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que mede a qualidade do ensino fundamental e médio do Brasil a cada dois anos. Em escala de 1 a 10, o Ideb revelou crescimento pífio do ensino médio, que recebeu nota 3,6 - 0,1 a mais que na edição anterior, de 2007. Os estudantes dos anos iniciais e finais do fundamental receberam, respectivamente, 4,6 e 4,0.
Para o especialista em economia da educação Marcelo Côrtes Neri, diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas do Rio (FGV-RJ), falta foco a essa etapa da educação. Segundo ele, a resposta está no ensino profissionalizante - Neri coordenou, para o Instituto Votorantim, a pesquisa A Educação Profissional e Você no Mercado de Trabalho, divulgada no início do ano.
Reportagem do Estado na edição de ontem mostrou que "não querer comparecer" às aulas foi o segundo principal motivo de ausências entre os estudantes do ensino médio.
O Estado conversou com o especialista sobre as possíveis razões para o Ideb do ensino médio não avançar no mesmo ritmo que os anos iniciais e finais do ensino fundamental.

Por que o ensino médio não atrai os alunos?
O principal problema é a falta de interesse. Seja para justificar os índices de evasão ou os motivos que os estudantes usam para explicar suas faltas.

Mas por que isso ocorre?
É uma questão, como sempre, de políticas públicas. Costuma-se pensar que boa educação é ter a melhor escola possível, com o melhor prédio, a melhor infraestrutura e os melhores professores e funcionários trabalhando. Mas não é só isso. Temos de pensar também no problema da oferta de vagas. E, isso resolvido, temos de criar demanda para essa oferta.

Como assim?
Para um estudante de 15 anos realmente querer estar dentro de uma escola, ela tem de parecer boa aos olhos dele e aos olhos de quem lá estuda. A falta de interesse não está ligada somente à questão financeira, de falta de investimento ou do estudante mais pobre não ter dinheiro para ir e vir da escola todos os dias. É um problema intrínseco ao ensino médio brasileiro. Já está enraizado.

Mas como podemos motivar essa demanda a se interessar pela escola?
Existe um paradoxo econômico dentro de tudo isso. Pesquisas comprovam que quem conclui o ensino fundamental tem 68% de chance de ser empregado com uma média de salário de R$ 700. Para quem finaliza o ensino médio, essa empregabilidade pula para 78%, com renda de R$1,6 mil. No entanto, o jovem parece não enxergar isso. Ele não vê essa ligação com o mercado de trabalho, não vê isso como motivação. Isso se deve, em grande parte, ao caráter generalista do ensino médio, que tenta fazer e ensinar muita coisa, mas não consegue.

Por quê?
Porque o estudante não vê a coerência que estudar física e química pode ter em sua vida. Ele não compreende o que esse conteúdo pode trazer em termos práticos. Além disso, o tempo de permanência na escola é muito curto. Uma jornada diária de quatro horas é pouco. Ele aprende pouco e não tem o interesse pelo conhecimento motivado.

Qual solução você enxerga para esse quadro?
O ensino profissionalizante é um bom caminho. Mas também não serve para todos. Uma mudança do conteúdo que é dado no ensino médio também seria bom. No caso da educação profissional, o primeiro passo é mudar a visão que as pessoas têm dela, de que é uma educação de segunda classe.
fonte: http://www.estadao.com.br

2 comentários:

  1. Tem que "parecer" boa? É esse FAZ DE CONTA que estraga a nossa Educação: Os "educadores" fazem de conta que ensinam, os "estudantes" fazem de conta que aprendem... E finda na merda que está!

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  2. Eu lecionei química por três anos e o que foi citado no texto é bem verdade. Até por que não há muito o que fazer quando não se tem estrutura suficiente para demonstrar o que o livro didático aponta, a química é uma ciência totalmente experimental, ensinar fora de um laboratório torna a matéria desgastante pelo fato do professor estar falando de algo que o aluno sequer consegue imaginar.
    Abraço.

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