terça-feira, 13 de abril de 2010

Violência nas escolas só será contida com a restauração da disciplina, diz antropóloga

Marina Morena Costa
Clipping Educacional - iG São Paulo
Casos de violência dentro das escolas têm eclodido com frequência e ganhado destaque no noticiário. Nesta semana, professores da Escola Municipal General Humberto de Souza Mello, no Maracanã, zona norte do Rio de Janeiro, denunciaram que a diretora fora vítima de agressão e ameaçada de morte, por alunos e moradores do Morro da Mangueira. Em depoimento, a diretora negou a agressão, mas confirmou as ameaças.
Para a antropóloga Helena Sampaio, doutora em Ciência Política e membro do Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior da Universidade de São Paulo (USP), casos como este eclodem impulsionados por fatores como indisciplina e pelo enfraquecimento da escola enquanto bem público. “Regras e limites podem dar credibilidade e reconstruir a ideia de esfera pública, de bem público. Se restaurarmos a disciplina escolar, esses casos podem diminuir”, afirma.
iG: Como você analisa os recentes casos de violência dentro das escolas?
Helena Sampaio: Acho que os casos de violência são problemas de indisciplina. Os atiradores americanos (que cometem homicídios em massa nas escolas) são outro problema, é quase uma patologia social, por serem recorrentes. Aqui precisamos isolar os fatores causadores da violência para analisar. Claro que a sociedade está mais violenta, mas quem está agredindo? A violência é resultado do uso de droga? A generalização “a escola pública está mais violenta” apenas deprecia e faz a instituição cair cada vez mais em descrédito. Regras e limites podem dar credibilidade e reconstruir a ideia de esfera pública, de bem público. Se restaurarmos a disciplina escolar, esses casos podem diminuir. “Regra”, “norma” e “limite” viraram “palavrões”, mas são necessárias no ambiente escolar.
iG: Fala-se muito em tolerância e respeito em sala de aula. Porém há uma grande diferença entre os dois não?
Helena Sampaio: Tolerar é aceitar passivamente. Respeitar é buscar construir uma relação positiva. A tolerância pode exacerbar o individualismo, e o respeito pode construir o coletivo. Fico com muito medo da cultura da tolerância porque ela pode cair na exacerbação do individualismo. Eu tolero o negro, o índio, o homossexual, mas não permito a troca. Uma cultura da tolerância é a uma cultura de indiferença. As culturas mais individualistas, como a americana, têm uma cultura da tolerância muito forte, mas as pessoas não dizem bom dia, umas para as outras, porque isso significa invadir a privacidade do outro. O grande tolerante é um intolerante, ele não admite a troca, o diálogo.
iG: Então como trabalhar em sala de aula esses conceitos de forma que eles não caiam no individualismo?
Helena Sampaio: Acho que a proposta deve ser sempre de construção de um bem comum e coletivo. Quanto mais individualistas e identitárias as políticas, mais risco corremos de cair na cultura da indiferença, do individualismo. Acho que a gente precisa ressuscitar um pouco a ideia da esfera pública. Por que atos de violência são inadmissíveis? Por que temos regras? Porque estamos numa esfera pública. A escola é uma esfera pública, um espaço comum.
iG: Por que você defende a obrigação do uniforme escolar?
Helena Sampaio: É uma forma de neutralizar as diferenças que não importam. O importante é ter acesso ao conhecimento. Coisas como a roupa dos alunos, o tênis de marca não importam e geram competição, descriminação. Se a gente conseguir minorar essas diferenças não substantivas e começar a trabalhar as diferenças que realmente importam acho que a escola daria um passo enorme em direção ao campo da disciplina. A escola não é local para ostentar identidades. É uma esfera pública para a construção e transmissão do conhecimento. É possível trazer a sua vivência e a contribuição cultural (etnias, culturas imigrantes) àquilo que realmente interessa à escola e ao outro.
Fonte: http://educacao.ig.com.br

2 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo.

    As condições de desenvolvimento social geram um grande atrito social.

    Quando muitas pessoas vivem juntas, o índice de violência aumenta.

    Isto é demonstrado em experimentos naturais, mais pessoas, mesmo espaço, mesmo alimento.

    No âmbito competitivo, as pessoas competem entre sí, brigam por espaço e identidade pessoal.

    As crianças são largadas sem as diretrizes de disciplina doméstica.

    NA primeira idade, o professor assume a postura de liderança... e passa a ocupar o papel dos pais. Obvio, na adolescência, a revolta reairá sobre a autoridade escolar.

    Como resolver:

    1. Criar programas de exaustão física para as crianças... gastar enrgia é a chave
    2. Criar sistemas de identidaqde cultural, onde a criança se sinta parte de algo maior... antigamente havia música nas escolas, isto é comprovado, diminui as arestas sociais e a consequente geração de violência
    3. Dar incentivo aos criadores, de forma a valorizar os expoentes...ninguém é igual a ninguém... o conceito atual da escola é escravizador, é preciso mudar.

    Abs

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  2. Olá, Silvana!

    Eu concordo plenamente, enquando não se puder ser duro com esses tagressores da disciplina eles farão o que bem entender. Eu não digo que possa imprimir castigos físicos violentos como no passado, mas não se pode ser mole para esses moleques que pensam que pode tudo de amedrontam a todos.

    Abraços

    Francisco Castro

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