sábado, 10 de abril de 2010

Professores encerram greve esvaziada

Luciana Alvarez e Marcela Spinosa
Clipping Educacional - O Estado de S.Paulo
Educação. Em assembleia no vão livre do Masp, docentes da rede estadual de São Paulo decidem suspender a paralisação, que completou ontem um mês. O movimento termina uma semana após José Serra deixar o governo, sem nenhuma reivindicação atendida
Em uma assembleia esvaziada, marcada por tumulto e bate-bocas, professores da rede estadual de São Paulo decidiram ontem suspender a greve da categoria, iniciada no dia 8 de março. Os professores não tiveram nenhuma de suas reivindicações atendidas pelo governo. A paralisação termina uma semana depois de José Serra (PSDB) ter deixado o cargo de governador para concorrer à Presidência.
Segundo a Secretaria de Estado a Educação, a greve não chegou a afetar nem 1% da rede. Em nota divulgada, ontem, a pasta chamou o movimento de "tentativa de greve" e reafirmou que não aceita mudar programas criticados pelos sindicatos. Para o sindicato, mais de 60% da categoria chegou a aderir à paralisação, mas nesta semana começou a haver um "refluxo", com docentes voltando às salas de aula.
O movimento foi acusado de ter sido organizado para interferir no âmbito eleitoral. Após a manifestação realizada próxima ao Palácio do Governo, o PSDB entrou com representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo (Apeoesp) e sua presidente, Maria Izabel Noronha. No documento, o partido alegou que o ato teve conotação eleitoral e que recursos sindicais podem ter sido usados para campanha antecipada.
Em nota, a Apeoesp diz que "a intolerância do governo em não negociar acabou desanimando a categoria". Também foram citados motivos financeiros. "Os professores não conseguem ficar mais de um mês parados por questões financeiras", afirmou Maria Izabel. Os docentes em greve tiveram o ponto cortado e não recebem pelos dias que não foram trabalhar.
Juntos, a Apeoesp, o Centro do Professorado Paulista (CPP) e o sindicato que reúne os diretores e coordenadores de escolas (Udemo) pediam reajuste salarial de 34%, o fim da prova de promoção por mérito e da prova para os professores temporários. Líderes das associações foram recebidos na quarta-feira pelo secretário da Educação, Paulo Renato de Souza, mas não houve nenhuma oferta por parte do governo.
Divisão. A assembleia de ontem reuniu na Avenida Paulista um número menor do que as anteriores. Segundo estimativa da Polícia Militar, mil pessoas participaram do ato, que bloqueou por duas horas o tráfego no sentido Consolação da avenida. Na passeata de três semanas atrás, a PM estimou que os manifestantes eram 12 mil. Então, os professores aprovaram por unanimidade a manutenção da paralisação.
Desta vez, os professores se mostraram divididos. Apesar de a maioria ter votado pela suspensão da greve, um grupo de dissidentes, apoiado por um carro de som improvisado, vaiou os dirigentes sindicais que defenderam a suspensão da greve.
Houve empurra-empurra e, ao fim da votação, foram jogados ovos contra a presidente da Apeoesp. Quando os dirigentes sindicais tentavam deixar o carro de som, um grupo de dissidentes cercou a saída e foram lançadas duas bombas caseiras de baixo impacto. Ninguém se feriu.
A presidente da Apeoesp foi vaiada em vários momentos, como quando afirmou que "a greve já é gloriosa". Ela também disse que, apesar de não ter havido negociações, os professores "venceram politicamente".
Enquanto ela falava, um grupo gritava "Fora Bebel", como ela é conhecida. Maria Izabel, porém, tratou o fato com naturalidade. "Faz parte da democracia ter correntes contra", afirmou enquanto descia do carro de som.
O resultado não agradou a muitos professores. "Passamos um mês lutando porque achamos as reivindicações justas, o governo não cedeu em nada e agora nos dizem para acabar com a greve?", contestava o professor de História Erlon Chaves, de Itapecerica da Serra, que disse ter levado suas caixas de som "porque não deixam a gente subir lá (no carro de som oficial da assembleia)". "Não sou ligado a ninguém, sou independente. Na verdade, sou só um professor indignado", garantiu.
Segundo a Apeoesp, a ideia é "manter a mobilização". Os professores vão realizar manifestações em frente à secretaria quando houver reuniões. O resultado da negociação com o governo será levado a uma nova assembleia da categoria, no dia 7 de maio, na Praça da República.
O resultado de ontem não agradou completamente nem os que votaram pela suspensão da paralisação. "É um pouco decepcionante, mas acho que o movimento está caminhando para frente, não dá para dizer que é um fracasso", afirmou o professor José Antônio Fernosele Júnior, de Guarulhos.
Para o presidente do CPP, José Maria Cancelliero, foi "uma conquista" da categoria ter seus representantes recebidos pelo secretário, mesmo em greve.

CRONOLOGIA
Julho de 2008
Só a reposição
Greve de 22 dias motivada por alterações na contratação de temporários termina com acordo entre o governo e a Apeoesp que garantiu apenas a reposição salarial dos dias de paralisação.
Maio de 2004
Reajuste baixo
Paralisação de duas semanas por reajuste salarial termina com proposta de aumento de 1,5% pelo governo. Os professores pediam 24,9%.
Junho de 2000
Sem reajuste
Paralisação que durou 43 dias e foi marcada por confronto com a PM na Avenida Paulista que deixou 38 pessoas feridas termina sem que o governo de Mário Covas aprovasse reajuste salarial. A Apeoesp pedia aumento de 54,7%. Ao final, a adesão dos docentes era de apenas 9,5%.
Fonte: http://www.estadao.com.br

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