por Renata Cafardo
Clipping Educacional - Blog.estadao
Meu telefone fixo tocou por volta das 15h30 de ontem e uma voz tremida do outro lado confirmou meu nome completo e avisou que queria falar sobre o Enem. Já havia recebido mais cedo um recado de alguém estava interessado em vender o gabarito da prova, que seria realizada por 4,1 milhões de alunos no fim de semana.
O homem disse pouco, preferia não falar ao telefone e queria um encontro ao vivo. Mas avisou que o que ele tinha era a prova toda, as 180 questões dos dois dias, já impressas. Eu falei que tinha interesse em verificar a veracidade do material e então marcamos para as 19h15 em um café perto do jornal.
A direção decidiu que eu fosse acompanhada de duas pessoas e então o editor do Ponto Edu, Sergio Pompeu, e o fotógrafo Evelson de Freitas, foram escalados para isso. Sentamos os três no café e esperamos. Não sabíamos nome algum ou rosto de quem procurar, mas um dos informantes chegou primeiro e nos identificou. O outro chegou poucos minutos mais tarde, com uma pasta cheia de papéis.
Segundo eles, o material tinha sido vazado por alguém em Brasília, no Inep/MEC. Eu pedi para ver a prova e eles a colocaram, sem cerimônias, na mesa do café. Estavam lá os logotipos do governo federal, das empresas contratas para organizar a prova, do Inep. Ao folhear a prova, não acreditava no que via. As questões tinham o perfil do Enem, um exame que cobra competências e habilidades, usa temas cotidianos. Vi lá tiras da Mafalda, do Garfield, trechos da Canção do Exílio e de uma reportagem da revista Veja. Tratei de decorar o máximo de questões possíveis.
Vi também a prova de matemática, mas as questões eram enormes, obviamente cheias de números, e desisti de tentar memorizá-las. Depois de dois minutos, um dos homens me tirou a prova das mãos. "Já viu demais", disse. Perguntei sobre a redação e eles se negaram a mostrar essa parte da prova.
Queriam dinheiro e deixavam claro isso. Pediram R$ 500 mil e tinham a convicção de que fariam o negócio com algum veículo de imprensa. Deixamos claro que o Estado repudiava esse tipo de comportamento, que aceitaríamos denunciar o vazamento desde que não pagássemos por isso. Eram homens simples, pareciam não ter qualquer experiência com provas ou conhecimento do sistema educacional do País. Os dois, por volta dos 30 anos de idade, viam no material que "tinha caído no colo deles" como uma "oportunidade única". Um deles tinha comportamento mais truculento, falava de maneira mais agressiva. O outro aparentava nervosismo, medo. "Não somos bandidos. Queremos nos livrar disso o mais rápido possível", dizia.
Saímos cheios de dúvidas do encontro. Já no jornal, a direção decidiu que entraríamos imediatamente em contato com o ministro da Educação, Fernando Haddad, e que nada seria publicado até que houvesse uma confirmação de que a prova que tínhamos visto era verdadeira. Durante as 21horas e 0h30 falei cerca de 10 vezes com o ministro, que prontamente nos informou as providências que estavam sendo tomadas (procura pelos técnicos do Inep, abertura do cofre para identificar a prova etc). Ele foi informado das questões que eu tinha memorizado.
Pouco antes da 1h da manhã veio a confirmação de que o Enem seria cancelado. A prova que tive em mãos era verdadeira.
O homem disse pouco, preferia não falar ao telefone e queria um encontro ao vivo. Mas avisou que o que ele tinha era a prova toda, as 180 questões dos dois dias, já impressas. Eu falei que tinha interesse em verificar a veracidade do material e então marcamos para as 19h15 em um café perto do jornal.
A direção decidiu que eu fosse acompanhada de duas pessoas e então o editor do Ponto Edu, Sergio Pompeu, e o fotógrafo Evelson de Freitas, foram escalados para isso. Sentamos os três no café e esperamos. Não sabíamos nome algum ou rosto de quem procurar, mas um dos informantes chegou primeiro e nos identificou. O outro chegou poucos minutos mais tarde, com uma pasta cheia de papéis.
Segundo eles, o material tinha sido vazado por alguém em Brasília, no Inep/MEC. Eu pedi para ver a prova e eles a colocaram, sem cerimônias, na mesa do café. Estavam lá os logotipos do governo federal, das empresas contratas para organizar a prova, do Inep. Ao folhear a prova, não acreditava no que via. As questões tinham o perfil do Enem, um exame que cobra competências e habilidades, usa temas cotidianos. Vi lá tiras da Mafalda, do Garfield, trechos da Canção do Exílio e de uma reportagem da revista Veja. Tratei de decorar o máximo de questões possíveis.
Vi também a prova de matemática, mas as questões eram enormes, obviamente cheias de números, e desisti de tentar memorizá-las. Depois de dois minutos, um dos homens me tirou a prova das mãos. "Já viu demais", disse. Perguntei sobre a redação e eles se negaram a mostrar essa parte da prova.
Queriam dinheiro e deixavam claro isso. Pediram R$ 500 mil e tinham a convicção de que fariam o negócio com algum veículo de imprensa. Deixamos claro que o Estado repudiava esse tipo de comportamento, que aceitaríamos denunciar o vazamento desde que não pagássemos por isso. Eram homens simples, pareciam não ter qualquer experiência com provas ou conhecimento do sistema educacional do País. Os dois, por volta dos 30 anos de idade, viam no material que "tinha caído no colo deles" como uma "oportunidade única". Um deles tinha comportamento mais truculento, falava de maneira mais agressiva. O outro aparentava nervosismo, medo. "Não somos bandidos. Queremos nos livrar disso o mais rápido possível", dizia.
Saímos cheios de dúvidas do encontro. Já no jornal, a direção decidiu que entraríamos imediatamente em contato com o ministro da Educação, Fernando Haddad, e que nada seria publicado até que houvesse uma confirmação de que a prova que tínhamos visto era verdadeira. Durante as 21horas e 0h30 falei cerca de 10 vezes com o ministro, que prontamente nos informou as providências que estavam sendo tomadas (procura pelos técnicos do Inep, abertura do cofre para identificar a prova etc). Ele foi informado das questões que eu tinha memorizado.
Pouco antes da 1h da manhã veio a confirmação de que o Enem seria cancelado. A prova que tive em mãos era verdadeira.
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