segunda-feira, 27 de julho de 2009

Preconceito na escola

Clipping Educacional - Agência Brasil
Pesquisa mostra mostra que na rede pública brasileira 87% da comunidade tem algum grau de homofobia
Estudo inédito da USP realizado em 501 escolas com 18.599 estudantes, pais e mães, professores e funcionários da rede pública de todos os estados do país mostram dados estarrecedores. A principal conclusão foi que 99,3% dos entrevistados têm algum tipo de preconceito. Mais assustador: mais de 80% gostariam de manter algum nível de distanciamento social de portadores de necessidades especiais, homossexuais, pobres e negros. Do total, 96,5% têm preconceito em relação a pessoas com deficiência e 94,2% quanto à questão racial.
O levantamento foi realizado com base em entrevistas feitas com 18,5 mil alunos, pais, professores, diretores e funcionários, de 501 unidades de ensino de todo o País.
"A violência dura, relacionada a armas, gangues e brigas, é visível. Já o preconceito a escola tem muita dificuldade de perceber porque não existe diálogo. Isso é empurrado para debaixo do tapete, o que impera é a lei é a do silêncio", destaca a socióloga e especialista em educação e violência, Miriam Abramovay.
Um estudo coordenado por ela e divulgado este ano indica que nas escolas públicas do Distrito Federal 44% dos estudantes do sexo masculino afirmaram que não gostariam de estudar com homossexuais. Entre as meninas, o índice é de 14%. A socióloga acredita que o problema não ocorre apenas no DF, mas se repete em todo o País.
"Isso significa que existe uma forma única de se enxergar a sexualidade e ela é heterossexual. Um outro tipo de comportamento não é admitido na sociedade e consequentemente não é aceito no ambiente escolar. Mas a escola deveria ser um lugar de diversidade, ela teria que combater em vez de aceitar e reproduzir", defende.
A coordenadora-geral de Direitos Humanos do Ministério da Educação (MEC), Rosiléa Wille, também avalia que a escola não sabe lidar com as diferenças. "Você tem que estar dentro de um padrão de normalidade e, quando o aluno foge disso, não é bem-compreendido naquele espaço." (ABr)
Problema é falta de preparo
O principal motivo para que a discriminação contra estudantes homossexuais faça parte do cotidiano das escolas brasileiras é a falta de preparo do professor para lidar com a questão. Esse é o diagnóstico dos especialistas consultados pela Agência Brasil. A formação continuada dos profissionais que trabalham na escola tem sido a principal estratégia do Ministério da Educação (MEC) e de outras esferas de governo para atacar o problema.
Na avaliação da coordenadora-geral de Diretos Humanos do MEC, Rosiléa Wille, o professor reproduz comportamentos discriminatórios porque não foi educado para a diversidade. Ela defende que, além de capacitar quem já leciona, é necessário modificar a formação inicial desses profissionais.
"Claramente os professores têm dificuldade para lidar com isso, mas não podemos culpá-los. Eles estão saindo da universidade sem estarem preparados para lidar com a diversidade na escola." (ABr)
Estudante repetiu de ano após assumir opção
Quando assumiu sua homossexualidade, Hernanny Queiroz tinha 16 anos e cursava o 2° ano do ensino médio. As piadas e xingamentos que ele ouvia frequentemente acabaram fazendo com que fosse reprovado aquele ano. "Eu comecei a não ir mais para o colégio, faltei tanto que repeti. Quando eu ia, as pessoas falavam mal de mim e sempre acabava dando confusão."
A história do jovem, hoje com 19 anos, é semelhante à de muitos estudantes gays, lésbicas, travestis e transexuais que têm o desempenho escolar prejudicado pela discriminação que enfrentam.
De acordo com a psicóloga especialista em sexualidade da Universidade Católica de Brasília (UCB) Claudiene Santos, a homofobia no espaço escolar está presente em todos os níveis - desde o ensino fundamental até o superior.
"A autoestima dessas pessoas que são discriminadas fica muito baixa. Como ela pode estar em um lugar em que os outros não a aceitam como ela é de verdade? A consequência em geral é a evasão", acrescenta a especialista, que integra o Grupo de Pesquisa Sexualidade e Vida, da Universidade de São Paulo (USP/CNPq).
Na avaliação da professora, a homofobia no espaço escolar é mais comum entre alunos. Mas os educadores acabam sendo coniventes ao não intervir, responsabilizar ou orientar os estudantes que cometem a agressão

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