Clipping Educacional - Revista Educação
Escola, uma questão de desejo? Pesquisa divulgada pela Fundação Getulio Vargas aponta a falta de interesse como o principal motivo da evasão escolar no país Rachel Bonino Ao contrário do que se acreditava, a evasão está mais ligada ao desinteresse que à necessidade de trabalhar O jovem olha para o papel, para a lousa, para o professor e não se sente conectado ao universo escolar. O resultado? Desinteresse. Esse foi o maior motivo de abandono dos bancos escolares segundo a pesquisa "Motivos da evasão escolar", realizada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e divulgada em abril. A falta de interesse representou 40,3% das justificativas dadas pelos jovens, entre 15 e 17 anos, para deixar de lado os estudos, ficando à frente até mesmo da necessidade de trabalhar para ajudar a família (que foi de 27,1%). O estudo cruzou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2004 e 2006, além de mencionar também informações da Pesquisa Mensal do Emprego. Para Carlos Artexes, diretor de concepções e orientações curriculares da Secretaria de Educação Básica do MEC, o resultado da pesquisa não é surpresa: "Temos consciência de que o abandono no ensino médio acontece, principalmente, porque o estudante não encontra significado no estudo", afirma. Para ele, um dos principais motivos para esse cenário é o fato de as pessoas serem muito utilitaristas: "Elas não veem a educação como meio, mas como fim do processo de formação. O que é um grande equívoco", diz. Isso, na sua visão, não redime as instituições de ensino de culpa: "A escola também precisa se aproximar dos sujeitos reais e atualizar seu conhecimento. É preciso garantir a essência da escola, que é aquisição e democratização dos saberes". Pela pesquisa, em 2006, 2,7% das crianças e adolescente entre 10 e 14 anos estavam fora da escola, índice que subia para 17,8% na faixa entre 15 e 17 anos, a faixa etária do ensino médio. Foi para se aproximar dos alunos de carne e osso, como sugeriu Artexes, que a professora de educação física Luci Beatriz Zelada Duartes iniciou trabalho pessoal de combate à evasão escolar em 1997, que depois foi encampado pela Secretaria Municipal de Educação de Santa Maria (RS). Com sua motocicleta, passou a visitar alguns de seus alunos evadidos. Além da necessidade de trabalhar, da grande distância entre a casa e a escola, entre outros, o desinteresse já era apontado com frequência como motivo para a evasão. Em conjunto com pais, professores, conselhos tutelares, o projeto ganhou corpo e longevidade, estendendo-se até 2006. A atual gestão municipal pretende retomá-lo ainda neste ano. Para incentivá-los a voltar a estudar, ofertou-se aos jovens um conjunto de atividades extracurriculares, como aulas de canoagem, futebol, além da oportunidade de se inscrever como aprendizes em empresas da região. Para frequentar as atividades, o aluno não poderia faltar às aulas. Além desse empurrãozinho, houve outra mudança importante, na avaliação de Luci: "Conseguimos que os professores se comprometessem a mudar a aula convencional por uma mais atrativa", conta. Até salas temáticas foram criadas para apoiar os docentes. "É preciso criar novidades sempre e ter o compromisso de se adaptar ao habitat do aluno", conta. "A escola não está inserida na realidade do aluno", alerta a assistente social Andréa Gomes Leite, que, no outro extremo do país, em Alagoas, também está envolvida em trabalho semelhante ao de Luci. Andréa é coordenadora do Projeto Ficai (Ficha de Comunicação do Aluno Infrequente), ligado à Secretaria Estadual de Educação de Alagoas e idealizado pelo Ministério Público daquele estado. O programa abrange todas as escolas do estado e de 36 municípios no combate à evasão e existe desde 2001. Para Andréa, o problema é tão sério que tem gerado outros, como por exemplo um que não apareceu na pesquisa da FGV: a "evasão" de professores. "Os docentes têm pedido cada vez mais licenças. São muitos os pedidos de dispensa. Identificamos que isso é sintoma de falta de entusiasmo", diz.
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