terça-feira, 14 de julho de 2009

Apesar do potencial, EAD ainda não atrai deficientes

Embora o setor de EAD tenha crescido 200% nos últimos quatro anos, conforme dados do Anuário Brasileiro Estatístico de Educação a Distância, ele ainda não atende aos mais de 24,5 milhões de brasileiros portadores de algum tipo de deficiência
Clipping Educacional - Universia Brasil (13.07.2009)
Este número representa cerca de 14% da população do País. Segundo o censo da Educação Superior de 2007, dos 300 mil alunos da graduação a distância, apenas 137 são portadores de necessidades especiais.
Os maiores beneficiados são os portadores de baixa visão, que representam 38,68% do montante total. Em seguida, aparecem os classificados como deficientes físicos, aqueles com algum tipo de paralisia física (29,19%), cegos (17,51%), deficientes auditivos - casos em que a surdez é parcial (7,29%), surdos (3,64%), deficientes mentais (2,18%), os alunos com múltipla deficiência (0,72%) e aqueles com transtornos globais de desenvolvimento (0,72%). A inserção dos chamados estudantes especiais é maior na região Sudeste do Brasil. Em seguida aparece a região Sul, Nordeste e Centro-Oeste. No Norte, de acordo com o censo 2007, não há nenhum aluno portador de deficiência em cursos superiores a distância.
"Os números ainda são inexpressivos se comparado ao potencial da modalidade", garante o presidente da ABED (Associação Brasileira de Educação a Distância), Fredric Litto. Para a gestora da CVA-Ricesu (Comunidade Virtual de Aprendizagem - Rede de Instituições Católicas de Ensino Superior), Rose Mary Almas de Carvalho, a facilidade do acesso às aulas, a ausência de locomoção contínua e as novas tecnologias transformaram a EAD em alternativa para os deficientes brasileiros. "A educação a distância pode aproximar ainda mais esses alunos da formação", acredita ela.
No entanto, ainda são poucos os estudantes que recorrem à EAD. Nos cursos a distância da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e da UCG (Universidade Católica de Goiás), por exemplo, não há nenhum aluno portador de deficiência matriculado. De acordo com Sérgio Roberto Franco e Rose Mary, responsáveis pelos departamentos de EAD das respectivas instituições, a ausência desses alunos não está relacionada a normas institucionais.
Mesmo acreditando na força da modalidade para a inclusão dos alunos especiais na graduação, Franco - que também é presidente da Unirede (Universidade Virtual do Brasil - consórcio de 80 instituições públicas de Ensino Superior) - afirma faltar consciência à sociedade brasileira. "São poucos os estudantes que reconhecem a EAD como modalidade de primeira categoria. Principalmente porque, infelizmente, a grande expansão do setor nos últimos anos está associada a baixa qualidade", lamenta ele.
Assim como Franco, Masako Masuda, presidente do Cederj (Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro), que atende 26.093 universitários - apenas dez deles portadores de necessidades especiais - também acredita na relação entre baixa procura e falta de reconhecimento. Ela acrescenta, porém, a ausência de estratégias institucionais direcionadas a essa população como fator complementar. "Não há políticas que aproximem estudantes com deficiências da EAD. As instituições, em geral, não estão preparadas para dar atendimento integral a eles", afirma ela.
Masako reconhece deficiências no próprio Cederj. "A fundação está se preparando para atender a esses alunos. Oferecemos plataformas que fazem a tradução sonora direta dos materiais escritos. Além disso, oferecemos a Libras (Língua Brasileira de Sinais) nas aulas presenciais e profissionais de apoio para atender os estudantes com necessidades especiais", diz ela. Masako garante, no entanto, que ainda há muito a ser feito para efetivar a inclusão. "Atendemos da melhor forma possível quem nos procura, mas para que a iniciativa se torne estratégica é preciso avançar muito", admite ela.
As dificuldades são vivenciadas na prática pelo estudante de Pedagogia da Cederj, Silvan Lemos da Costa, 25 anos, que optou casualmente pelo curso a distância. "Como não fui aprovado no sistema presencial, segui esse caminho", conta. Segundo ele, não são poucas as barreiras enfrentadas, mas ele especula que talvez sejam as mesmas do ensino presencial. "Todos os conteúdos são adaptados em áudio, o que dificulta o aprendizado, pois tenho que guardar informações de seis matérias exclusivamente na cabeça", declara ele.
Costa sente falta de materiais em braile para dar suporte aos estudos. "O pólo, por exemplo, não têm impressora especial para braile. Também não há instrutores de informática para auxiliar na utilização dos softwares. Sem contar que o conversor de áudio tem voz aguda e difícil de entender", afirma o estudante. Apesar das dificuldades, o rapaz diz contar com o apoio tanto de tutores como dos colegas de classe.

Previsto em lei

Ainda que o MEC (Ministério da Educação) não mantenha campanhas de inserção de alunos especiais na modalidade a distância, a coordenadora geral de articulação das políticas de inclusão no sistema de ensino da SEESP (Secretaria de Educação Especial), Sinara Pollom Zardo, garante que uma série de medidas resguardam o acesso desses estudantes à modalidade. "A legislação brasileira trabalha nessa direção e obriga as instituições de ensino a dinamizar plataformas, flexibilizar a didática e respeitar as especificidades dos alunos para garantir educação efetiva a todos", declara ela.
Os direitos são assegurados desde 1999, quando foi criada a Portaria nº 1.679. Enquanto para inclusão de deficientes auditivos são necessários intérpretes e dos deficientes visuais, no mínimo, sala de apoio equipada com máquina de datilografia ou computador com impressora braile, no caso dos deficientes físicos é exigida acessibilidade aos pólos presenciais. A obrigatoriedade, segundo Franco, está relacionada ao reconhecimento dos centros de ensino espalhados pelo Brasil. "Rampas de acesso ou elevadores, banheiros adaptáveis e outros fatores que garantem o acesso de portadores de deficiências físicas fazem parte dos pré-requisitos para a autorização do funcionamento dos pólos", diz ele.
Para Litto as melhores universidades brasileiras estão adequadas aos fatores de inclusão social. "Mas ainda há instituições que aprendem a ter atitudes inclusivas", reconhece ele. A grande dificuldade, de acordo com Rose Mary, está na formação de professores e tutores, que não estão preparados para lidar com alunos portadores de necessidades especiais. "Esse problema não é exclusividade da EAD e também está presente no ensino tradicional", relata a gestora da CVA-Ricesu. "A mudança de cenário depende da formação dos novos professores e da especialização dos profissionais que já estão na academia", sugere ela.
O processo, segundo Sinara, é natural e gradativo, já que demanda transformações culturais tanto das instituições como dos professores. "Transformações que iniciaram com o aumento da procura de deficientes por ensino especializado, o que já é realidade na educação presencial e que naturalmente se transportará também para a EAD", aposta.
Na opinião do presidente da Abed, enquanto a legislação impulsiona a inclusão social no Ensino Superior tradicional, emperra a procura de portadores de necessidades especiais pela modalidade a distância. "A lei brasileira ainda é muito atrasada e exige aulas presenciais também na EAD", critica Litto. Para ele, a obrigatoriedade da locomoção diminui as possibilidades para deficientes.
Sinara não acredita, no entanto, que a obrigatoriedade de aulas presenciais tenha tanta influência no baixo índice de estudantes especiais na EAD. De acordo com ela, a falha está mais associada à questão de acessibilidade tanto da modalidade presencial como no modelo a distância. "Muitos alunos especiais deixam as aulas ao perceber que as instituições não estão preparadas para lhes dar o apoio necessário", revela ela. "Não são as aulas presenciais, mas as condições de acesso ao pólo (que contribuiriam para a evasão de alunos deficientes)", acrescenta.
fonte:http://e-educador.com/

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