O governador José Serra afirmou, na cerimônia de anúncio de novas regras para concurso de professor do ensino público, que as faculdades de Pedagogia nem sempre colaboram para a melhoria da educação
Leonardo Trevisan (*)
Clipping Educacional - Gazeta Mercantil (14.05.2009)
A frase, publicada no O Estado de S. Paulo, edição de 6/5, é: "Você vê uma lista de teses dessas faculdades e pouca coisa pode ser aproveitada pela educação". O governador pode estar correto. Diferente de outros ramos do conhecimento, o que a universidade produz em educação pode mesmo estar bem distante das necessidades do cotidiano das escolas. Porém, independentemente de qualquer juízo de valor sobre a qualidade dessa produção acadêmica, esta constatação também expõe a gravidade das questões sobre a qualidade do ensino na escola paulista. Faz tempo que soluções de vários problemas do mundo são encontradas nessas instituições. Quando nem a universidade consegue propor caminhos, de fato a situação do objeto estudado é muito ruim.
É verdade que o Brasil inteiro está muito preocupado com educação. A preocupação é tanta que em quase todos os meses a mídia divulga os resultados de uma nova avaliação do sistema educacional brasileiro. O drama, porém, está na monotonia dos resultados. É cansativo repeti-los, porque teste após teste se demonstra que mais da metade dos alunos termina o ensino fundamental ainda não plenamente alfabetizados e parcela ainda maior termina o ensino médio sem saber os conceitos que deveria dominar ao final do ensino fundamental, o equivalente ao antigo ginásio. Com toda razão, os pais se preocupam com o futuro dos filhos, os empresários se assustam com a condição educacional da mão de obra e acadêmicos fazem muitas teses de que com essa educação o País não avança em pesquisa e desenvolvimento.
Esse é um campo fértil para o aparecimento de ideias salvadoras, de aplicação fácil. Políticos, até por razão de ofício, são seres muito hábeis em captar essa ansiedade por solução. Daí, muitas propostas redentoras para o ensino aparecem todo dia. No entanto, como os testes continuam exibindo as fragilidades do ensino público pelo País todo, e políticos não podem admitir que suas propostas não funcionam, é preciso encontrar culpados novos para a constrangedora situação da educação nacional. Por exemplo, no plano federal, o culpado do momento é o currículo do ensino médio e o vestibular. Já em São Paulo, a culpa parece recair mais sobre a vontade, ou a falta dela, do professor exercer bem o seu ofício. Ou, dito de outra forma, para o governo, a formação do docente é o responsável maior pelo fracasso educacional paulista. Solução do problema: quatro meses de reforço depois do concurso público de ingresso, tanto para os recém-efetivados como para os docentes temporários. Curiosamente, quem dará o curso salvador, a "injeção de conhecimento" na linguagem oficial, na nova Escola de Formação de Professores de São Paulo serão as universidades, as mesmas que produzem as teses que o governador considerou pouco produtivas para melhorar a educação. E em quatro meses os docentes ingressantes devem aprender a ser bons professores.
E se eles não aprenderem? Bom, quem não passar no novo exame depois de fazer a escola de formação vira professor de segunda classe, será monitor de bibliotecas ou professor auxiliar, com carga de trabalho de apenas 12 horas semanais e não as 40 possíveis. É tudo tão estranho. Em São Paulo, como no resto do País, há grande carência de professores formados exercendo seu ofício. Não há professores de geografia, para não mencionar matemática, química ou física. A explicação dessa carência está nas condições de exercício da profissão, que incluem graves ameaças físicas, além do salário, é claro. A publicidade dos cursinhos para o concurso de oficial de Justiça em São Paulo mostra que o salário inicial dessa importante carreira de Estado é o dobro do pago ao professor ingressante. Isso, para concurso em que é exigido apenas ensino médio.
Será que a reconhecidamente frágil formação de quem aceita trabalhar nas condições reais da escola pública será resolvida com quatro meses de "injeção de conhecimento"? Em um quadro de tantas tensões, sem dúvida, aumentar muito a dose do vigiar e punir para cima dos professores não parece boa solução. Como nunca foi.
É verdade que o Brasil inteiro está muito preocupado com educação. A preocupação é tanta que em quase todos os meses a mídia divulga os resultados de uma nova avaliação do sistema educacional brasileiro. O drama, porém, está na monotonia dos resultados. É cansativo repeti-los, porque teste após teste se demonstra que mais da metade dos alunos termina o ensino fundamental ainda não plenamente alfabetizados e parcela ainda maior termina o ensino médio sem saber os conceitos que deveria dominar ao final do ensino fundamental, o equivalente ao antigo ginásio. Com toda razão, os pais se preocupam com o futuro dos filhos, os empresários se assustam com a condição educacional da mão de obra e acadêmicos fazem muitas teses de que com essa educação o País não avança em pesquisa e desenvolvimento.
Esse é um campo fértil para o aparecimento de ideias salvadoras, de aplicação fácil. Políticos, até por razão de ofício, são seres muito hábeis em captar essa ansiedade por solução. Daí, muitas propostas redentoras para o ensino aparecem todo dia. No entanto, como os testes continuam exibindo as fragilidades do ensino público pelo País todo, e políticos não podem admitir que suas propostas não funcionam, é preciso encontrar culpados novos para a constrangedora situação da educação nacional. Por exemplo, no plano federal, o culpado do momento é o currículo do ensino médio e o vestibular. Já em São Paulo, a culpa parece recair mais sobre a vontade, ou a falta dela, do professor exercer bem o seu ofício. Ou, dito de outra forma, para o governo, a formação do docente é o responsável maior pelo fracasso educacional paulista. Solução do problema: quatro meses de reforço depois do concurso público de ingresso, tanto para os recém-efetivados como para os docentes temporários. Curiosamente, quem dará o curso salvador, a "injeção de conhecimento" na linguagem oficial, na nova Escola de Formação de Professores de São Paulo serão as universidades, as mesmas que produzem as teses que o governador considerou pouco produtivas para melhorar a educação. E em quatro meses os docentes ingressantes devem aprender a ser bons professores.
E se eles não aprenderem? Bom, quem não passar no novo exame depois de fazer a escola de formação vira professor de segunda classe, será monitor de bibliotecas ou professor auxiliar, com carga de trabalho de apenas 12 horas semanais e não as 40 possíveis. É tudo tão estranho. Em São Paulo, como no resto do País, há grande carência de professores formados exercendo seu ofício. Não há professores de geografia, para não mencionar matemática, química ou física. A explicação dessa carência está nas condições de exercício da profissão, que incluem graves ameaças físicas, além do salário, é claro. A publicidade dos cursinhos para o concurso de oficial de Justiça em São Paulo mostra que o salário inicial dessa importante carreira de Estado é o dobro do pago ao professor ingressante. Isso, para concurso em que é exigido apenas ensino médio.
Será que a reconhecidamente frágil formação de quem aceita trabalhar nas condições reais da escola pública será resolvida com quatro meses de "injeção de conhecimento"? Em um quadro de tantas tensões, sem dúvida, aumentar muito a dose do vigiar e punir para cima dos professores não parece boa solução. Como nunca foi.
fonte:http://e-educador.com
0 comentários:
Postar um comentário